Funcionária da ONU recebeu um panfleto do Estado Islâmico com uma lista de preços de escravos com mulheres e crianças capturadas (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 5 de agosto de 2015 às 15h08.
A representante, Zainab Bangura, disse que em uma viagem ao Iraque, em abril, ela recebeu uma cópia de um panfleto do Estado Islâmico com a lista, que mostrava que crianças capturadas de apenas um ano obtinham os preços mais altos. Entre os ofertantes, estão tanto os combatentes do próprio grupo quanto os ricos do Oriente Médio.
A lista mostra o valor que o grupo atribui a seus prisioneiros e veio à tona há cerca de oito meses, embora sua autenticidade tenha sido questionada. Bangura, que é uma enviada especial das Nações Unidas sobre violência sexual em conflitos e também esteve na Jordânia e na Turquia, disse ter comprovado que o documento provém do Estado Islâmico e que reflete transações reais.
“As meninas são mascateadas como barris de petróleo”, disse ela, em uma entrevista concedida em Nova York, na semana passada. “Uma menina pode ser vendida ou comprada por cinco ou seis homens diferentes. Às vezes, esses militantes revendem as meninas a suas famílias por milhares de dólares de resgate”.
Para os combatentes do Estado Islâmico, os preços em dinar iraquiano para meninos e meninas de 1 a 9 anos de idade equivalem a cerca de US$ 165, disse Bangura. O preço de meninas adolescentes é de US$ 124, e é menor para as mulheres com mais de 20 anos.
Primeiro, os líderes da milícia separam para si os prisioneiros que eles desejam. Depois, ricos de fora do grupo, vindos da região, podem fazer ofertas de milhares de dólares, disse Bangura. Os prisioneiros restantes são então oferecidos aos combatentes do grupo pelos preços que figuram na lista.
Lista comprovada
Bangura, muçulmana e ex-ministra das Relações Exteriores da Serra Leoa, disse que o estado Islâmico, que controla cerca de 207.000 quilômetros quadrados em faixas do Iraque e da Síria, é diferente de outros grupos rebeldes e desafia todos os modelos de combate a eles.
“Não se trata de um grupo rebelde comum”, disse ela. “Se considerá-los como tal, você usará as ferramentas que já conhece. Isso é diferente. Eles combinam um exército militar com um estado organizado e bem administrado”.
Representantes e estudiosos têm tido dificuldades para compreender o sucesso do Estado Islâmico apesar de que eles rompam as regras atribuídas aos rebeldes – garantir que se misturem com a população local, não aceitar militares estabelecidos nem tentar ocupar um território. O grupo quebrou todas essas regras e atrai milhares de combatentes estrangeiros, apesar de sua conhecida selvageria.
Espalhar o medo
Kerry Crawford, que dá aulas na Universidade James Madison University, em Harrisonburg, Virginia, disse que a divulgação dessas violações é utilizada em benefício do grupo porque estabelece laços internos e geram o medo externo.
“Se você e seu grupo estiverem fazendo algo considerado tabu, o fato de vocês fazerem isso juntos cria um vínculo”, disse ela. “A violência sexual de fato gera medo dentro de uma população”.
Ela também disse que a violação sexual realizada por soldados tem uma longa história, que inclui os chamados “campos de estupro” da antiga Iugoslávia na década de 1990.
O Estado Islâmico adotou a prática de escravizar as comunidades conquistadas que não sejam constituídas por muçulmanos sunitas – yazidis e cristãos, por exemplo. Ele retrata tais conquistas como obra de deus, atraindo muçulmanos insatisfeitos de todo o mundo.
Bangura disse que a comunidade internacional e as Nações Unidas foram pegas de surpresa por essas práticas, porque elas não se parecem com os métodos adotados pelas milícias de vilarejos de outros países.
“Eles têm uma maquinaria, têm um programa”, disse ela. “Eles têm um manual sobre como tratar essas mulheres. Eles têm um escritório matrimonial que organiza todos esses ‘casamentos’ e a venda das mulheres. Eles têm uma lista de preços”.