Em primeiro grande ato de Biden contra Rússia, EUA impõem sanções pelo caso Navalny
Os oficiais americanos pediram também que o governo russo liberte Navalny da prisão, onde o advogado está desde fevereiro após voltar do tratamento na Alemanha
Carolina Riveira
Publicado em 2 de março de 2021 às 11h52.
Última atualização em 2 de março de 2021 às 12h35.
Em pouco mais de um mês no governo de Joe Biden , surge a primeira crise com a Rússia. Os Estados Unidos implementaram nesta terça-feira sanções a indivíduos e organizações russas pela suposta tentativa de assassinato contra o ativista Alexei Navalny, que foi envenenado.
Na visão do governo americano, o envenenamento de Navalny foi orquestrado pelo governo russo -- o presidente russo, Vladimir Putin , nega a acusação. O envenenamento aconteceu em agosto do ano passado, ainda sob presidência do republicano Donald Trump nos EUA. Trump, na ocasião, não comentou mais a fundo o caso.
Em entrevista coletiva nesta terça-feira, os oficiais americanos pediram também que o governo russo liberte Navalny da prisão, onde o advogado está desde fevereiro após voltar do tratamento na Alemanha.
Segundo os porta-vozes, as sanções serão aplicadas em coordenação com aliados europeus. Mais cedo, Reino Unido e a União Europeia já haviam anunciado sanções. Os alvos são sobretudo oficiais sêniores do governo russo e aliados de Putin.
"Acreditamos que os EUA e nossos parceiros devem ser claros e impor custos quando o comportamento da Rússia cruza os limites que são respeitados por nações responsáveis", disseram os oficiais americanos ao anunciar as sanções.
O presidente Joe Biden já havia se manifestado anteriormente sobre o caso Navalny, pedindo que a Rússia o liberasse da prisão.
As sanções desta terça-feira marcam o novo tom do governo americano contra a Rússia. Biden já havia dito que trataria Putin e a Rússia mais como "adversários" do que o fez seu antecessor, Donald Trump -- cujo embate ficou mais centrado na China ao longo do mandato. No mês passado, Putin classificou a retórica de Biden como "muito agressiva e pouco construtiva".
Entenda o caso Navalny
Principal opositor do governo russo na atualidade, Navalny viajava para Moscou e seu avião precisou fazer um pouso de emergência quando o líder opositor passou mal, em agosto de 2020. Pessoas próximas a ele suspeitam que tenha sido envenenado por um chá que tomou no aeroporto antes de partir.
Após negativas iniciais do governo russo, Navalny, então em estado grave, conseguiu deixar o país e foi se tratar na Alemanha. Exames nos principais laboratórios europeus detectaram em seu corpo um agente tóxico usado na antiga União Soviética.
Ao voltar à Rússia em fevereiro, Navalny foi imediatamente preso pelas autoridades russas. Em julgamento há duas semanas, foi condenado há quase três anos de prisão. O argumento da acusação é que, ao deixar o país e ir à Alemanha, mesmo que para tratamento, Navalny violou os termos de uma condicional à qual tinha direito por uma condenação em 2014.
No caso pelo qual foi condenado, Navalny e seu irmão foram acusados de roubar 500.000 rublos de duas empresas. A Corte Europeia classificou a sentença, na época, como "arbitrária e manifestamente despropositada".
Navalny ficou conhecido por investigações contra a corrupção no governo russo liderado por Putin. Seus achados geraram protestos e levaram milhares de pessoas às ruas e, desde então, ele tem se envolvido mais politicamente, e chegou a tentar se candidatar à presidência, mas foi barrado.
No voo em que passou mal no ano passado, Navalny tinha ido à Sibéria para se reunir com candidatos que ele apoiava para as eleições locais. Após seu envenenamento e posterior prisão, a Rússia foi palco de novos protestos.
Em 2019, o próprio Navalny já havia sofrido uma reação alérgica que um médico disse que poderia ter sido resultado da ação de alguma uma substância química. Seus apoiadores acreditam que ele teria sido envenado quando estava preso.
Não é a primeira vez que um caso do tipo acontece. Opositores russos, um após o outro, têm sido alvo de violência no país, que é governado pelo presidente Vladimir Putin desde 1999. Putin tem vencido todas as eleições e praticamente não sofre oposição, mas organismos internacionais questionam a liberdade política na Rússia.