Campanha eleitoral americana tem "silêncio climático"
Omissão dos problemas ambientais no atual debate eleitoral americano ganhou até nome - “silêncio climático”, que por ironia do destino está fazendo barulho na internet
Vanessa Barbosa
Publicado em 24 de outubro de 2012 às 12h41.
São Paulo – Após um verão marcado por ondas de calor e uma seca devastadora, tudo indicava que o aquecimento global e as mudanças climáticas seriam dois temas contemplados com a importância e seriedade que merecem nas eleições americanas . Mas não foi bem isso o que aconteceu. Ou melhor, nada aconteceu.
A completa omissão em relação às problemáticas ambientais, tanto na campanha dos candidatos, quanto nos três debates, exibidos pela TV, ganhou até uma expressão: silêncio climático (do inglês "climate silence"), que por ironia do destino está fazendo muito barulho na internet. Não sem razão.
"Pela primeira vez desde 1988, os debates presidenciais e entre vices ignoraram a ameaça das mudanças climáticas ", diz Brad Johnson, diretor de campanha do grupo Forecast the Facts, que lançou em setembro o site ClimateSilence.org em parceria com a Ong Friends Of The Earth. O post que publicou na segunda-feira (22) em seu blog, às vésperas do terceiro e último debate entre Romney e Obama, era um apelo final em nome de milhares de eleitores que assinaram uma petição online para que os candidatos abordassem o assunto. Um apelo que se demonstrou frustrado diante da mudez de ambos.
Para evidenciar a falta grave na atual corrida presidencial, Johnson desenterra um vídeo de 1988, onde os candidatos à vice, Lloyd Bentsen e Dan Quayle, respodem a uma pergunta feita pelo moderador, John Margolis, do Chicago Tribune, sobre o que pensam do efeito estufa e o que fariam para combatê-lo. Sem titubear nem tentar esquivar, eles assumem que as emissões de gases efeito estufa são um problema real e que precisam de solução. Foi a primeira vez que o aquecimento global foi levado à mesa na história das eleições dos EUA. Veja no vídeo abaixo:
Um passo (ou vários) para trás
A sensação que fica é que a campanha atual regrediu bastante no tempo. Nesta segunda-feira, após a repetida ausência do tema ambiental no debate entre Barack Obama e Mitt Romney, as reações contra o silêncio dos candidatos ganharam o Twitter, com uma série de reclamações de eleitores reverberando-se na rede através da hashtag #climatesilence.
O prêmio Nobel da Paz e ex-vice presidente americano Al Gore não perdeu a oportunidade de se manifestar: Onde está o aquecimento global neste debate?, indagou em sua conta. As mudanças climáticas são um problema urgente de política internacional, disse.
A postura dos candidatos nem de longe esbarrou no tratamento dispensado ao tema na última corrida à presidência, em 2008. Na ocasião, Barack Obama e John Mccain também não escaparam de responder às perguntas feitas pela plateia (confira no vídeo abaixo). Quem acompanhou aquele embate se surpreende com a proeza alcançada pelos candidatos, a saber, de falar sobre energia , sem falar do efeito no meio ambiente , as emissões.
Nenhuma palavra foi dita nos debates presidenciais sobre a questão mais urgente e de consequências potenciais para o mundo: a mudança climática, pondera Eugene Robinson, colunista do Washington Post, e ganhador do Prêmio Pulitzer por sua cobertura da campanha de 2008 de Barack Obama. Em vez disso, eles discutem sobre quem está mais ávido para extrair quantidades cada vez maiores de petróleo , gás natural e carvão de baixo de nossas montanhas e planícies, resume.
Eleitores indecisos
O silêncio climático não ajuda em nada os eleitores indecisos do país. Pelo contrário, ao ignorar essas questões urgentes, os candidatos perdem a oportunidade de angariar mais votos. De acordo com uma pesquisa realizada pela Universidade de Yale, 8 em cada 10 eleitores indecisos acreditam nas mudanças climáticas e na elevação das temperaturas do planeta em decorrência das emissões de gases efeito estufa. E pelo menos seis deles dizem que as alterações no clima estão entre os assuntos mais importantes para escolher seus candidatos.