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Eleições nos EUA: Com Trump favorito, Iowa dá início a primárias republicanas

Eleições americanas começam oficialmente nesta segunda-feira, às 19h

Eleitores de Donald Trump participam de comício pelo candidato republicano em Iowa (Scott Olson/Getty Images)

Eleitores de Donald Trump participam de comício pelo candidato republicano em Iowa (Scott Olson/Getty Images)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 15 de janeiro de 2024 às 07h25.

Última atualização em 22 de janeiro de 2024 às 10h44.

As eleições americanas começam oficialmente nesta segunda-feira, às 19h (22h em Brasília), com a etapa inaugural das primárias presidenciais republicanas, o caucus de Iowa, no coração da América Profunda. E onde anunciar publicamente o voto no ex-presidente Donald Trump, na ex-governadora Nikki Haley (Carolina do Sul) e no governador Ron DeSantis (Flórida), os candidatos da oposição mais bem posicionados à Casa Branca, pode ser risco de vida. Literalmente.

O Centro Nacional de Previsão do Tempo dos Estados Unidos informa que os eleitores — os democratas, com a candidatura à reeleição do presidente Joe Biden na prática ungida pelo partido, escolherão apenas delegados para a convenção estadual em março— enfrentarão ventania incessante de até 70km/h e temperaturas que podem bater -40° C nas áreas rurais do estado do Meio-Oeste. O instituto alerta que “sair de casa significa pôr a vida em perigo por conta do frio extremo”.

As campanhas dos principais candidatos focaram no lado cheio do copo: pelo menos a nevasca que cancelou eventos na última sexta-feira partiria de vez de Iowa ontem. E nem analistas políticos do primeiro time arriscam cravar quem se beneficiaria com um comparecimento menor do que o esperado em evento voluntário e com regras peculiares.

No caucus, realizado em escolas, centros comunitários e igrejas, filiados ao Partido Republicano, presencialmente, discursam em defesa de um candidato antes do voto. Atrasos não são tolerados.

Até a última sexta-feira, a média do agregador de pesquisas Real Clear Politics mostrava Trump com 53% de intenção de votos em Iowa, Haley com 18% e DeSantis com 15%. Também pontuam o empresário Vivek Ramaswamy (6,5%) e o ex-governador Asa Hutchinson (0,3%), do Arkansas. Entre os dois, figurava o também ex-governador Chris Christie (3,5%), de Nova Jersey, que abandonou a disputa na quarta-feira ao constatar a migração de apoiadores para Haley.

Christie era o único dos candidatos a afirmar que não votará em Trump em novembro se o ex-presidente, como se espera, assegurar a maioria dos delegados nas primárias. Entre as razões, as 91 acusações na Justiça, o risco de ser condenado durante a campanha e iniciativas, contestadas por seus advogados, dos estados de Colorado e Maine de retirar seu nome das cédulas nas primárias por ter participado de ato de sedição contra o Estado, na invasão do Capitólio em 2021.

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Pesadelo Eleitoral

O paralelo entre o tempo miserável amanhã em Iowa e a temperatura geral da disputa republicana pelo posto mais importante do planeta não se restringiu às esperadas provocações dos democratas.

— O que começa oficialmente amanhã em Iowa é o pesadelo eleitoral de 2024 com a marcha de Trump rumo à conquista da maioria dos delegados republicanos. Marcha que pode ser mais curta do que os americanos, ainda focados em tópicos como os horrores em Gaza, imaginam— diz Cliff Kupchan, presidente da consultoria de risco Eurasia, um independente que teve cargo de primeiro escalão no Departamento de Estado no governo do democrata Bill Clinton (1993-2001).

Editora-chefe do The Cook Political Report, referência na cobertura política americana desde a reeleição de Ronald Reagan em 1984, Amy Walter aponta como surpresa do primeiro ato das eleições a quantidade de eleitores ainda incrédulos na inevitabilidade da disputa entre Biden e Trump. Iowa deve mudar isso.

— Se Trump confirmar as pesquisas e abrir uma vantagem de mais de 30 pontos percentuais para o segundo lugar, será algo inédito na história moderna de Iowa. E comprometerá a tese central de seus rivais, que sempre reconheceram a enorme base de Trump, mas apostavam em uma ainda maior, composta pelos que estariam dispostos a virar a página — diz a também analista sênior da rede pública de TV PBS.

Nikki Haley parece ser hoje a única com força para estender a disputa além da Super Terça-Feira, na primeira semana de março, quando, apontam as pesquisas, Trump alcançará o número mágico para assegurar a indicação republicana à Presidência.

— E o calendário é importantíssimo. Há a real possibilidade de se ter o candidato republicano condenado ou preso no meio do ano, se alguns dos julgamentos cruciais não atrasarem. Por isso, em eleição tão singular, a briga pelo segundo lugar nas primárias é quase tão importante quanto a vitória— diz o cientista político Vincent Hutchings, da Universidade de Michigan.

Na disputa pela medalha de prata que pode virar ouro, Haley, de 51 anos, e De Santis, 45, se enfrentaram no derradeiro debate antes do caucus, na última quarta-feira, promovido pela CNN. Trataram de imigração, economia e política externa, mas, em estratégia duvidosa, evitaram críticas diretas a Trump. Especialmente no caso de Haley, há a expectativa em sua campanha de ela assegurar, em caso de derrota, a vice na chapa do ex-presidente de 77 anos. Perguntada se toparia eventual convite, não nega.

Possível vice

No mesmo horário do debate, o ex-presidente protagonizou, na Fox, evento em que respondeu a questões de moderadores e do público. Teve quase o dobro de audiência do duelo na rede rival. Na semana que passou, Trump se dividiu entre Iowa e aparições em cortes de Washington e Nova York. Nesta última, seus advogados incluíram na tese de que o ex-presidente teria imunidade por atos ilícitos cometidos durante seu mandato a bizarra possibilidade de ele contratar um agente secreto para assassinar um adversário, sem punição. Mas nada parece afetar o star power do líder nas pesquisas.

—O eleitor não vê diferenças sensíveis entre o que Trump, DeSantis e Haley propõem, e aposta em quem crê ter mais chance de derrotar Biden. As primárias não confirmarão só o apelo de Trump, mas, ainda mais importante, a indiferença de quase metade dos EUA à defesa da democracia — aponta Hutchings.

Ultraconservador em temas como o direito ao aborto, mas “sem o caos e drama” de Trump, DeSantis investiu pesado em Iowa — foi o único a percorrer, porta a porta, os 99 condados do estado. Teve o apoio da popular governadora Kim Reynolds para sua narrativa de um caminho à direita sem Trump. Mas sofreu com a cristalização na mídia de sua “falta de carisma”. E se tornou, cedo na corrida, alvo preferencial da implacável máquina de ataque do campo trumpista. Se chegar em terceiro amanhã, analistas ouvidos pelo GLOBO apostam que ele voltará para a Flórida.

Em ascensão, Haley encostou esta semana em Trump nas pesquisas em New Hampshire, de perfil mais moderado e próximo endereço das primárias, no dia 23. Um mês depois, a batalha segue na Carolina do Sul, estado natal da ex-embaixadora dos EUA nas Nações Unidas durante o governo Trump.

O apoio bilionário dos irmãos Koch pode servir de combustível para Haley ampliar sua coalizão, mas consultas internas mostram os eleitores de DeSantis migrando para Trump. E a ex-governadora cometeu erro especialmente grave para uma sulista branca ao não responder que a escravidão foi a razão da Guerra Civil Americana. Levou pito até de Biden, que amanhã observará, do conforto da Casa Branca, o primeiro e gélido capítulo das primárias republicanas.

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