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El Chapo: sem fundos para defesa, julgamento será uma farsa

Na carta, o mexicano protesta contra regras que lhe impedem de dar instruções a seus parentes sobre como ter acesso a seu dinheiro para pagar sua defesa

Traficante El Chapo sendo transferido para os EUA (./Reuters)

Traficante El Chapo sendo transferido para os EUA (./Reuters)

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AFP

Publicado em 16 de fevereiro de 2018 às 08h38.

Última atualização em 13 de novembro de 2018 às 19h31.

O mexicano "El Chapo" Guzmán, um dos maiores chefes do narcotráfico da história, assegurou que sem recursos para pagar sua defesa, seu julgamento "será uma farsa", em carta enviada nesta quinta-feira (15) ao juiz encarregado de seu caso.

Na carta, "El Chapo" protesta contra as regras impostas pelo juiz Brian Cogan, que lhe impedem de dar instruções a seus parentes sobre como ter acesso a seu dinheiro para pagar sua defesa.

As regras também impedem que sua equipe de advogados passe mensagens à sua família com instruções sobre como obter os honorários.

O ex-chefão do tráfico de 60 anos, extraditado aos Estados Unidos em janeiro de 2017 e desde então em isolamento quase total em Nova York, quis ler a carta ao juiz em uma audiência celebrada na corte do Brooklyn na manhã de quinta-feira, mas ele não o permitiu.

Seu advogado, Eduardo Balarezo, enviou horas depois a carta ao juiz para que "El Chapo" possa lê-la em voz alta na próxima audiência. O começo de seu julgamento foi marcado para5 de setembro, quando terá início a seleção de jurados.

"Senhor juiz, peço-lhe que modifique as regras para me permitir falar com minha esposa frente a frente para solucionar esta situação. Se não, meu julgamento será uma farsa", escreveu "El Chapo".

Há 13 meses o narcotraficante não fala com sua mulher, a jovem miss Emma Coronel, que esteve como de costume na corte com as filhas gêmeas do casal, de seis anos. O acusado as saudou com a mão.

"El Chapo" não pode receber visitas de familiares, com exceção das filhas pequenas, com quem se reuniu por uma hora na terça-feira, sob supervisão.

O ex-chefe do cartel de Sinaloa, que protagonizou duas fugas espetaculares de prisões mexicanas, é acusado de comandar um dos maiores impérios do narcotráfico das Américas durante 25 anos e de enviar mais de 200 toneladas de cocaína aos Estados Unidos.

Se for considerado culpado, pode pegar a prisão perpétua.

"Minha defesa não está completa por falta de recursos", insistiu. Após a publicação no México de informações de que sua família não quer pagar os honorários em parte porque não conhece seus desejos, esclareceu que quer ir a julgamento, que não tem a intenção de colaborar com o governo americano, nem de se declarar culpado.

"Quero que façam o possível para pagar os honorários de meus advogados. O problema é que sem instruções minhas não podem fazê-lo", afirmou.

Os Estados Unidos buscam recuperar ao menos parte dos cerca de 14 bilhões de dólares dos ganhos estimados que "El Chapo" teria acumulado em sua empresa criminosa.

Mas o procurador-geral do México informou em maio passado que até então os Estados Unidos não tinham podido recuperar nem um dólar, já que aparentemente o ex-chefe do tráfico não usava o sistema financeiro.

Balarezo disse a jornalistas após a audiência ter recebido de amigos de seu cliente um pagamento parcial do primeiro dos três que foram acordados, mas que eles não têm como pagar o resto.

Ele assegurou que por enquanto continuará defendendo seu cliente, mas que "há coisas que precisamos fazer e que não podemos por falta de fundos", por exemplo gastos em viagens, investigadores e peritos ou documentos, neste caso com mais de 300.000 páginas de evidências já apresentadas pela Promotoria.

Balarezo disse haver umas cem testemunhas em potencial do governo, presos que tentam reduzir suas penas. "Precisamos investigar estas pessoas", destacou.

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