'É grave que ela não possa ter sido registrada', diz Lula sobre candidata opositora na Venezuela
Lula deu declaração após encontro com presidente da França, Emmanuel Macron
Agência de notícias
Publicado em 28 de março de 2024 às 17h25.
Última atualização em 28 de março de 2024 às 18h18.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou nesta quinta-feira, ao lado do presidente da França, Emmanuel Macron , o veto à candidatura da opositora Corina Yoris nas eleições venezuelanas, uma mudança de posição que começou a ser sinalizada na última terça-feira, com uma dura nota do Itamaraty.
"É grave que a candidata não possa ter sido registrada. Ela não foi proibida pela Justiça. Me parece que ela se dirigiu até o lugar e tentou usar o computador e não conseguiu entrar. Foi uma coisa que causou prejuízo à candidata", afirmou o presidente brasileiro. "O dado concreto é que não tem explicação jurídica, política, proibir um adversário de ser candidato. Aqui no Brasil é proibido proibir a não ser que tenha uma punição judicial e que ela garanta o direito de defesa das pessoas prejudicadas."
Yoris teve sua inscrição no registro do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) bloqueada tanto na internet como presencialmente, o que fez com que os governos de EUA, Brasil e Colômbia e a União Europeia (UE) questionassem a manobra do chavismo, pondo em xeque a credibilidade do processo eleitoral. No caso do Brasil, o comunicado divulgado pelo Itamaraty — com o aval de Lula segundo fontes — foi a primeira expressão oficial crítica do país ao governo Maduro.
Nesta quinta-feira, foi a vez de o próprio Lula criticar o processo eleitoral. Ao lado de Macron, que elogiou a mediação brasileira na crise política do país vizinho, o presidente disse que a disputa na Venezuela deveria ocorrer no mesmo modelo das eleições brasileiras.
"Se as eleições não forem democráticas, o Brasil participará, o Brasil vai tentar assistir essa eleição, porque eu não quero nada melhor nem pior, quero que as eleições sejam feitas igual a gente faz aqui no Brasil, com a participação de todos."
A nota de terça-feira foi assinada apenas pelo Itamaraty, o que levou o governo venezuelano a responder diretamente à chancelaria brasileira. Lula foi poupado, o que sugeria que poderia haver um racha entre o Itamaraty e o Palácio do Planalto. Integrantes do governo brasileiro, no entanto, disseram a nota do Itamaraty só saiu depois do aval de Lula que, ao declarar sua preocupação com o processo eleitoral na Venezuela nesta quinta, reforçou esse argumento.
Levantamentos feitos pelo Palácio do Planalto mostram que a defesa da Venezuela desgasta a popularidade de Lula. Ao demonstrar, nos últimos meses, proximidade de Maduro, e afirmar que há democracia no país vizinho e que o descumprimento de direitos humanos é uma "questão de narrativa", o presidente brasileiro vinha sendo alvo de críticas, internas e externas.
'Eleições mais transparentes'
Nesta quinta, também questionado sobre o tema, Macron afirmou que a situação é grave no país sul-americano e prometeu tentar convencer o presidente da Venezuela para que seja permitida a participação de todos os candidatos no pleito.
"O marco em que essa eleição está ocorrendo não pode ser considerado democrático. Nós faremos de tudo para convencer o presidente Maduro para que reintegre todos os candidatos e tenhamos eleições mais transparentes", afirmou o presidente francês. "Condenamos a retirada da candidata do processo e espero que seja possível um novo marco. Não nos desesperemos, mas a situação é grave e piorou com a ultima decisão [ de retirar Corina do pleito ]."
O veto ao registro de Corina Yoris ocorreu após seu nome ter sido indicado por María Corina Machado, que era a candidata favorita da oposição. María Corina não pôde concorrer por ter sido declarada inelegível por 15 anos. Apesar de Yoris não ter conseguido se inscrever, Miguel Rosales, governador de Zulia e também integrante da Plataforma Unitária, conseguiu se registrar no último minuto e disputará a eleição com Maduro.
Para o governo brasileiro, esse tipo de atitude na Venezuela fere o Acordo de Barbados, firmado entre governo e oposição da Venezuela no fim do ano passado, com o objetivo de garantir eleições livres e transparentes no país, previstas para julho deste ano. Foi a partir dessa constatação que o Brasil decidiu agir.