"É apenas um treinamento": a ansiedade dos reservistas russos e suas famílias
"Se pensamos em fugir da mobilização? Não, em absoluto. Não temos para onde ir"., afirma um dos reservistas
AFP
Publicado em 28 de setembro de 2022 às 13h54.
Familiares dos reservistas russos convocados para apoiar a ofensiva na Ucrânia se despediam de seus filhos, pais, maridos e namorados do lado de fora de um centro de recrutamento de São Petersburgo.
Essas pessoas, reunidas em frente a uma delegacia da polícia militar na antiga capital imperial russa, conversam em voz baixa, às vezes se aproximando da cerca que separa o local da rua, para tentar ver os reservistas que já estão do outro lado.
"É apenas um treinamento, né?" pergunta uma mulher sexagenária a sua vizinha.
"Acho que sim, mas ninguém sabe, pode ser que fiquem na retaguarda", espera Svetlana Antonova, de 55 anos, cujo filho de 27 anos se apresentou na terça-feira após ter recebido a convocação no sábado.
Nikita, reservista de 25 anos, e Alina, sua namorada de 22, mantém suas mãos unidas através da cerca, com lágrimas nos olhos.
"Não sei o que dizer a ele, estou em estado de choque", confessa Alina, sem tirar os olhos do namorado.
"Não me surpreendi com a convocação (...). Se tenho que ir, tenho que ir", garante Nikita, que cumpriu serviço militar há alguns anos.
Mais um duro golpe
Desde o anúncio em 21 de setembro de uma mobilização militar "parcial" dos reservistas na Rússia, milhares de homens em idade de combate fugiram para o exterior, especialmente para as antigas repúblicas soviéticas da Ásia Central e do Cáucaso.
Para Galina, de 65 anos, e sua família, a mobilização é "mais um duro golpe", já que sua filha está em tratamento contra o câncer, seu genro foi convocado e a filha de ambos tem apenas 12 anos.
"Ele trabalhava no setor da construção civil. No Exército foi francoatirador", conta Galina, ao lado da neta Micha.
"Como será a vida agora e por quanto tempo? Não sei", lamenta.
"Disseram que os enviariam à base militar próxima a Zelenogorsk", nos arredores de São Petersburgo, afirmou Galina.
"Se pensamos em fugir da mobilização? Não, em absoluto. Não temos para onde ir".
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