Doações, shows, repressão: o Dia D contra Maduro
Venezuela bloqueou as fronteiras com o Brasil, Colômbia e Caribe para evitar a entrada de doações vindas de países considerados inimigos pelo regime
Da Redação
Publicado em 22 de fevereiro de 2019 às 06h35.
Última atualização em 22 de fevereiro de 2019 às 14h37.
O governo de Nicolás Maduro está perto do fim? Ou o aumento da tensão sobre a doação de alimentos e medicamentos à Venezuela é apenas mais um capítulo do surreal abandono a que estão sujeitos os venezuelanos?
O governo brasileiro afirmou que vai manter o envio de doações à fronteira de Roraima com a Venezuela, mas que não forçará a passagem em nenhuma hipótese. A fronteira está fechada desde as 21h de ontem sob ordens de Maduro. O governo da Venezuela também bloqueou as fronteiras com a Colômbia e com o Caribe, para evitar a entrada de doações vindas de países considerados inimigos pelo regime.
A fronteira com a cidade colombiana de Cúcuta deve concentrar as tensões ao longo desta sexta-feira e do fim de semana. É lá onde estará, do lado venezuelano, o autodeclarado presidente Juan Guaidó, para o início da distribuição de alimentos e medicamentos no sábado. A oposição está organizando uma série de shows de artistas latinos do lado colombiano para aumentar a base de apoio popular. Maduro responderá com shows bancados pelo regime do lado venezuelano. Os palcos desta surreal competição por popularidade estão sendo montados.
A esperança da oposição e dos Estados Unidos é que as forças armadas venezuelanas contrariem Maduro e permitam a entrada das doações, fazendo do sábado uma espécie de Dia D contra o chavismo. O receio de analistas e opositores é que os militares se mantenham leais a Maduro e reprimam com violência a população.
O governo de Roraima se prepara para um longo impasse. Ontem, o governador do estado, Antonio Denarium (PSL), esteve em Brasília para tratar de planos de contingência ao fechamento da fronteira. A maior preocupação está no abastecimento de energia. Cerca de metade da energia consumida por Roraima vem da Venezuela. Denarium afirmou que está buscando junto com o Ministério de Minas e Energia fontes alternativas para o médio e o longo prazo, mas reconheceu que uma retaliação de Caracas levaria a um racionamento no estado.
A cidade fronteiriça de Pacaraima também deve sofrer um racionamento de combustível, já que os moradores abastecem seus carros do lado venezuelano, onde a gasolina custa em média 10 centavos de real. Com gasolina, mas sem comida: eis a tragédia imposta por Maduro a seu povo. Uma tragédia que, esperam os opositores, está perto do fim.