Europa: na França, a ultradireitista Frente Nacional vai de vento em popa (Neil Hall / Reuters)
AFP
Publicado em 9 de novembro de 2016 às 09h56.
"Vitória!": Marc é um fervoroso admirador de Donald Trump, quem considera "o salvador do mundo". Este francês de 24 anos está convencido de que seu herói marcará o início de um "despertar mundial".
Este estudante de direito tenta contagiar seu entusiasmo no Facebook, onde criou há um ano um grupo chamado "Franceses com Trump", que conta com mil membros.
"Em todo o mundo há um despertar, as nações despertam, o patriotismo desperta (...) O fato de isso ocorrer nos Estados Unidos é, sem dúvida, um símbolo forte", disse à AFP.
As posições nacionalistas, anti-imigrantes, anti-elites e anti-globalização do discurso de Trump têm um eco na Europa e ilustram a ascensão das correntes populistas de direita nas democracias ocidentais.
Na França, a ultradireitista Frente Nacional vai de vento em popa. As pesquisas preveem que sua líder, Marine Le Pen, passará ao segundo turno das eleições presidenciais de 2017.
Le Pen foi uma das primeiras líderes políticas a felicitar o presidente eleito dos Estados Unidos e o "povo americano livre", minutos antes da oficialização da vitória de Trump.
No Reino Unido, muitos dos eleitores que apoiaram a saída da União Europeia em junho passado ouviram os apelos do partido eurocético Ukip a "recuperar" o controle do país.
Na Alemanha, o partido populista de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que centra seu discurso radical na imigração, colheu nos últimos meses várias vitórias eleitorais.
Na Áustria, na Holanda e nos países escandinavos, a extrema-direita também está em alta. "Sua vitória é histórica para todos nós!", tuitou Geert Wilders, chefe da extrema-direita holandesa.
O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, e o presidente tcheco, Milos Zeman, frequentemente criticados por seu discurso de direita populista, também expressaram seu apoio ao magnata americano.
Há "um medo de mudança, um medo 'do outro', um medo da 'contaminação cultural'", explicou à AFP Jeremy Shapiro, diretor de investigação do European Council on Foreign Relations.
Todos estes partidos de extrema-direita denigrem as "elites" político-financeiras e a globalização, considerada por eles uma fraude inventada pelos ricos.
Para John Judis, autor do livro "A explosão populista", a grande crise financeira que explodiu há uma década preparou o terreno para esta ascensão populista. "A desaceleração e o aumento das desigualdades criaram muito ressentimento" contra os que governam, comentou à AFP.
E este sentimento se amplifica diante da onda de migrantes que chegaram à Europa e à ameaça terrorista. "A imigração é o principal fator" desta ascensão, sobretudo "pelo peso que pode ter sobre o sistema de saúde e de educação" nos países de chegada.
Vários analistas, entre eles Shapiro, encaram esta ascensão nacionalista como um desafio direto à União Europeia e às instituições internacionais em geral.
Durante sua campanha, Trump se mostrou crítico a várias instituições internacionais, como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e a Organização Mundial do Comércio (OMC).
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, havia advertido que o Brexit poderia levar "não apenas à destruição da União Europeia, mas também da civilização política ocidental".
O populismo "em geral é um sinal de alerta" para que os políticos prestem mais atenção às demandas de uma parte da população, estima Judis.
Na França, a direita endureceu suas posições em relação à imigração e à luta contra a criminalidade para adotar um discurso que se aproxime mais do apresentado pela Frente Nacional. A extrema-esquerda também adotou um discurso "antissistema".
Mas, para Marc, isso não basta.
"Os políticos tradicionais estão em estado de negação (...) Sua ideia do mundo já não é a nossa".