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Diferentes estratégias contra narcotráfico na América Latina

Muitas vozes têm alertado sobre o fracasso das políticas repressivas de combate ao narcotráfico e, sensível a essas críticas, o Uruguai mudou de estratégia

Uruguaios participam de uma manifestação em favor da legalização do consumo da maconha: Uruguai foi o único país que deu o passo mais ousado na luta contra o narcotráfico (Pablo Porciuncula/AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 26 de dezembro de 2013 às 10h10.

México - Muitas vozes na América Latina têm alertado sobre o fracasso das políticas repressivas de combate ao narcotráfico e, sensível a essas críticas, o Uruguai mudou de estratégia e legalizou a produção e a venda de maconha neste mês.

O presidente do México, Enrique Peña Nieto, que completou um ano no poder em dezembro, prometeu, por sua vez, reduzir a violência que causou a morte de pelo menos 70 mil pessoas na guerra contra as drogas lançada pelo seu antecessor, Felipe Calderón (2006-2012).

Diante do crescimento dos confrontos no estado de Michoacán, em maio, Peña Nieto destacou milhares de soldados para o estado, dando continuidade à política de Calderón de utilizar o exército para reprimir os traficantes de drogas.

Mas, enquanto o governo mexicano diz que o número de assassinatos diminuiu, os sequestros e extorsões dispararam.

Porém, o problema não se limita à América Latina. O consumo de drogas sintéticas, por exemplo, tem aumentado de forma desenfreada entre os jovens de todo o mundo.

De acordo com a ONU, o Sudeste Asiático registrou um triste recorde: foram apreendidos 227 milhões de comprimidos de metanfetaminas na região.

Agricultores mexicanos que vivem nas montanhas dos estados de Guerrero (no sul do país) e Michoacán (no oeste), cansados da violência implacável dos cartéis de drogas, se organizaram em grupos que funcionam como milícias, pegando em armas em zonas rurais do país, na tentativa de acabar com a onda de assassinatos, estimulada por bandidos e políticos corruptos.

Os grupos de "auto-defesa", que lutam contra o cartel pseudo-religioso dos Cavaleiros Templários, se comprometeram a continuar sua expansão, ignorando os avisos do governo.

O presidente Peña Nieto obteve uma importante vitória quando suas tropas capturaram Miguel Angel Treviño Morales, o líder do cartel ultraviolento Los Zetas.

A prisão do "Z-40", em julho, gerou a esperança de que as horríveis cenas de violência iriam acabar, mas ainda não se sabe se Los Zetas – integrantes do cartel conhecido por decapitar seus rivais e dissolver seus corpos em ácido – vão sair de cena.


Apesar da conquista, o golpe do governo foi ofuscado quando, de repente, um tribunal regional ordenou, em agosto, a libertação de Rafael Caro Quintero, um líder histórico do narcotráfico mexicano que estava há 28 anos na prisão.

Ainda faltam doze anos para que Caro Quintero cumpra sua pena de 40 anos de prisão, a que foi condenado em 1985, sob acusação de sequestro, tortura e assassinato de um agente americano e de seu piloto mexicano.

Ninguém sabe o paradeiro do traficante e sua libertação provocou desconforto junto ao governo dos Estados Unidos.

A sociedade tem discutido como deve ser a ação do Estado diante da tarefa de romper o ciclo de violência, tráfico e consumo de drogas.

Um relatório da Organização dos Estados Americanos (OEA) publicado em maio propõe contemplar a possibilidade de legalização da maconha na região, uma medida apoiada pelo ex-presidente mexicano Vicente Fox (2000-2006).

Até agora, o Uruguai foi o único país que deu o passo mais ousado na luta contra o narcotráfico, aprovando no Senado este mês um projeto de lei que autoriza a produção, distribuição e venda de maconha sob controle estatal.

"A guerra contra as drogas fracassou", afirmou Roberto Conde, senador uruguaio de esquerda que é integrante do partido no poder, a Frente Ampla.

Os estados americanos de Washington e Colorado aprovaram, no ano passado, o consumo de maconha para fins recreativos, medida que preocupa o governo mexicano, país que compartilha 3.000 km de fronteira com os Estados Unidos.

"Isto envia uma mensagem ruim para os países pressionados a tomar medidas mais agressivas contra os traficantes", disse à AFP Mike Vigil, ex- chefe de operações internacionais da agência americana antidrogas.

A mudança de estratégia no combate ao tráfico de drogas chegou ao Marrocos, onde os legisladores lançaram, na semana passada, um debate sem precedentes sobre a legalização da maconha para fins médicos e industriais.

O papa Francisco, por sua vez, interveio na discussão durante sua visita ao Brasil em julho, quando disse que "não é a liberação do uso de drogas que reduzirá a propagação e a influência da dependência química. É preciso enfrentar os problemas que estão na base do consumo."

Um estudo do especialista Evan Wood, do Centro de Pesquisa em Saúde Urbana de Vancouver, no Canadá, divulgado em setembro, concluiu que a guerra global contra a heroína, a cocaína e a maconha não foi capaz de conter a oferta porque os preços das drogas caíram e os ataques aumentaram.

Os pesquisadores analisaram dados dos programas financiados pelo governo, que acompanha o mercado ilegal de drogas há mais de uma década nos Estados Unidos, Europa e Austrália.

"Estes resultados sugerem que a expansão dos esforços para controlar o mercado mundial de drogas ilegais está falhando", afirma a pesquisa.

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México - Muitas vozes na América Latina têm alertado sobre o fracasso das políticas repressivas de combate ao narcotráfico e, sensível a essas críticas, o Uruguai mudou de estratégia e legalizou a produção e a venda de maconha neste mês.

O presidente do México, Enrique Peña Nieto, que completou um ano no poder em dezembro, prometeu, por sua vez, reduzir a violência que causou a morte de pelo menos 70 mil pessoas na guerra contra as drogas lançada pelo seu antecessor, Felipe Calderón (2006-2012).

Diante do crescimento dos confrontos no estado de Michoacán, em maio, Peña Nieto destacou milhares de soldados para o estado, dando continuidade à política de Calderón de utilizar o exército para reprimir os traficantes de drogas.

Mas, enquanto o governo mexicano diz que o número de assassinatos diminuiu, os sequestros e extorsões dispararam.

Porém, o problema não se limita à América Latina. O consumo de drogas sintéticas, por exemplo, tem aumentado de forma desenfreada entre os jovens de todo o mundo.

De acordo com a ONU, o Sudeste Asiático registrou um triste recorde: foram apreendidos 227 milhões de comprimidos de metanfetaminas na região.

Agricultores mexicanos que vivem nas montanhas dos estados de Guerrero (no sul do país) e Michoacán (no oeste), cansados da violência implacável dos cartéis de drogas, se organizaram em grupos que funcionam como milícias, pegando em armas em zonas rurais do país, na tentativa de acabar com a onda de assassinatos, estimulada por bandidos e políticos corruptos.

Os grupos de "auto-defesa", que lutam contra o cartel pseudo-religioso dos Cavaleiros Templários, se comprometeram a continuar sua expansão, ignorando os avisos do governo.

O presidente Peña Nieto obteve uma importante vitória quando suas tropas capturaram Miguel Angel Treviño Morales, o líder do cartel ultraviolento Los Zetas.

A prisão do "Z-40", em julho, gerou a esperança de que as horríveis cenas de violência iriam acabar, mas ainda não se sabe se Los Zetas – integrantes do cartel conhecido por decapitar seus rivais e dissolver seus corpos em ácido – vão sair de cena.


Apesar da conquista, o golpe do governo foi ofuscado quando, de repente, um tribunal regional ordenou, em agosto, a libertação de Rafael Caro Quintero, um líder histórico do narcotráfico mexicano que estava há 28 anos na prisão.

Ainda faltam doze anos para que Caro Quintero cumpra sua pena de 40 anos de prisão, a que foi condenado em 1985, sob acusação de sequestro, tortura e assassinato de um agente americano e de seu piloto mexicano.

Ninguém sabe o paradeiro do traficante e sua libertação provocou desconforto junto ao governo dos Estados Unidos.

A sociedade tem discutido como deve ser a ação do Estado diante da tarefa de romper o ciclo de violência, tráfico e consumo de drogas.

Um relatório da Organização dos Estados Americanos (OEA) publicado em maio propõe contemplar a possibilidade de legalização da maconha na região, uma medida apoiada pelo ex-presidente mexicano Vicente Fox (2000-2006).

Até agora, o Uruguai foi o único país que deu o passo mais ousado na luta contra o narcotráfico, aprovando no Senado este mês um projeto de lei que autoriza a produção, distribuição e venda de maconha sob controle estatal.

"A guerra contra as drogas fracassou", afirmou Roberto Conde, senador uruguaio de esquerda que é integrante do partido no poder, a Frente Ampla.

Os estados americanos de Washington e Colorado aprovaram, no ano passado, o consumo de maconha para fins recreativos, medida que preocupa o governo mexicano, país que compartilha 3.000 km de fronteira com os Estados Unidos.

"Isto envia uma mensagem ruim para os países pressionados a tomar medidas mais agressivas contra os traficantes", disse à AFP Mike Vigil, ex- chefe de operações internacionais da agência americana antidrogas.

A mudança de estratégia no combate ao tráfico de drogas chegou ao Marrocos, onde os legisladores lançaram, na semana passada, um debate sem precedentes sobre a legalização da maconha para fins médicos e industriais.

O papa Francisco, por sua vez, interveio na discussão durante sua visita ao Brasil em julho, quando disse que "não é a liberação do uso de drogas que reduzirá a propagação e a influência da dependência química. É preciso enfrentar os problemas que estão na base do consumo."

Um estudo do especialista Evan Wood, do Centro de Pesquisa em Saúde Urbana de Vancouver, no Canadá, divulgado em setembro, concluiu que a guerra global contra a heroína, a cocaína e a maconha não foi capaz de conter a oferta porque os preços das drogas caíram e os ataques aumentaram.

Os pesquisadores analisaram dados dos programas financiados pelo governo, que acompanha o mercado ilegal de drogas há mais de uma década nos Estados Unidos, Europa e Austrália.

"Estes resultados sugerem que a expansão dos esforços para controlar o mercado mundial de drogas ilegais está falhando", afirma a pesquisa.

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