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Desilusão marca campanha eleitoral em Portugal

A resignação e o desencanto de um eleitorado cansado da pressão fiscal e da piora da qualidade de vida marcam a campanha das eleições legislativas portuguesas

Homem carrega bandeira de Portugal (AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 2 de outubro de 2015 às 16h59.

Lisboa - A resignação e o desencanto de um eleitorado cansado da pressão fiscal e da piora da qualidade de vida marcam a campanha das eleições legislativas portuguesas do próximo domingo.

Enquanto os partidos governamentais e a oposição de esquerda se empenham em discutir se a recuperação em Portugal é real ou efêmera, os cidadãos comuns acompanham a campanha com certa desconfiança. E motivos não faltam.

Quando completam 40 anos das primeiras eleições livres no país, os portugueses vão votar após viver um autêntico calvário econômico e social, derivado das condições do resgate financeiro internacional que evitou a quebra em 2011.

As mensagens eleitorais dos partidos, desta vez expressadas em um tom mais baixo do que nos últimos pleitos, se tomam agora meras promessas em vez de firmes compromissos.

A maioria dos cerca de 10,5 milhões de portugueses é castigada depois de ter padecido com uma das cargas fiscais mais elevadas da Europa - apesar de ter um dos salários baixos na União Europeia - e sofrer uma degradação geral dos serviços públicos, entre eles o transporte público e a educação.

E dessa decepção da população não escapam nem as principais formações políticas. Os partidos no governo, o centro-direitista PSD e o democrata-cristão CDS-PP se acusam de descumprir muitas promessas com as quais chegaram ao poder em 2011, entre elas as de não reduzir os salários de aposentados e funcionários públicos.

"Governar é, essencialmente, estar focado no problema das pessoas e na resolução efetiva desses problemas", reprovou António Costa, líder do principal partido da oposição, o Partido Socialista (PS).

Já o PS é responsabilizado de ser um dos desencadeadores do duro programa de resgate financeiro solicitado à União Europeia e ao Fundo Monetário Internacional. De fato, a assinatura do programa foi feita em maio de 2011, quando o socialista José Sócrates, hoje em prisão domiciliar por suspeitas de corrupção, estava à frente do governo.

"Por culpa dos socialistas, fomos engolidos por um resgate", contra-atacou o conservador Pedro Passos Coelho, atual primeiro-ministro e que pretende se reeleger depois que seu governo aplicou as severas condições do resgate (2011-2014).

O Partido Comunista Português (PCP) e o marxista Bloco de Esquerda (BE), ambos com representação parlamentar, também não escaparam das críticas públicas e são acusados de intransigência e de terem sido movidos mais por interesses partidários do que pelos interesses do próprio país.

Especialmente preocupante é a insatisfação entre os jovens, evidenciada em um estudo solicitado pelo próprio presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, que mostra que quase 60% dos portugueses com idades entre 15 e 24 anos não se interessam por política.

"Esse estudo revela que a descrença nas instituições e a degradação da relação cívica dos jovens com a vida política registaram um agravamento que deve preocupar a todos", disse Cavaco Silva quando apresentou o documento.

As pesquisas preveem um empate técnico entre a coalizão governamental e o opositor PS, mas também uma elevada abstenção.

Enquanto seguem os frequentes "disse me disse" dos partidos em campanha, a coalizão do PSD e CDS-PP, que concorre sob a marca "Portugal à Frente" e com Passos Coelho como líder, foi o principal alvo de descontentamento entre os eleitores.

Clientes que perderam suas economias no colapso do Banco Espírito Santo (BES), em 2014, ou funcionários públicos indignados pelos cortes salariais responsabilizaram os dois partidos conservadores, mostrando reprovação com sonoros protestos em atos eleitorais.

Um aumento de mais de 70% no número de "quinhentoseuristas" - parcela da população que ganha salário mínimo (505 euros, cerca de R$ 2,3 mil) e representa quase um quinto dos trabalhadores - e a emigração em massa (calcula-se 500 mil pessoas desde 2011) agravaram ainda mais o sentimento de saturação dos portugueses.

Os partidos do governo tentam amenizar estes argumentos mostrando a queda do desemprego (até 11,9%), o crescimento econômico (quase 2% no final deste ano) e a melhora do perfil soberano do país, que ajudará a financiar impostos mais baixos.

Apesar de muitos especialistas dizerem que este clima de desconfiança é propício para movimentos extremistas ou populistas, as pesquisas visualizam apenas espaço parlamentar para uma formação considerada de linha mais populista, o Partido Democrático Republicano, liderado pelo midiático advogado António Marinho e Pinto.

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Enquanto os partidos governamentais e a oposição de esquerda se empenham em discutir se a recuperação em Portugal é real ou efêmera, os cidadãos comuns acompanham a campanha com certa desconfiança. E motivos não faltam.

Quando completam 40 anos das primeiras eleições livres no país, os portugueses vão votar após viver um autêntico calvário econômico e social, derivado das condições do resgate financeiro internacional que evitou a quebra em 2011.

As mensagens eleitorais dos partidos, desta vez expressadas em um tom mais baixo do que nos últimos pleitos, se tomam agora meras promessas em vez de firmes compromissos.

A maioria dos cerca de 10,5 milhões de portugueses é castigada depois de ter padecido com uma das cargas fiscais mais elevadas da Europa - apesar de ter um dos salários baixos na União Europeia - e sofrer uma degradação geral dos serviços públicos, entre eles o transporte público e a educação.

E dessa decepção da população não escapam nem as principais formações políticas. Os partidos no governo, o centro-direitista PSD e o democrata-cristão CDS-PP se acusam de descumprir muitas promessas com as quais chegaram ao poder em 2011, entre elas as de não reduzir os salários de aposentados e funcionários públicos.

"Governar é, essencialmente, estar focado no problema das pessoas e na resolução efetiva desses problemas", reprovou António Costa, líder do principal partido da oposição, o Partido Socialista (PS).

Já o PS é responsabilizado de ser um dos desencadeadores do duro programa de resgate financeiro solicitado à União Europeia e ao Fundo Monetário Internacional. De fato, a assinatura do programa foi feita em maio de 2011, quando o socialista José Sócrates, hoje em prisão domiciliar por suspeitas de corrupção, estava à frente do governo.

"Por culpa dos socialistas, fomos engolidos por um resgate", contra-atacou o conservador Pedro Passos Coelho, atual primeiro-ministro e que pretende se reeleger depois que seu governo aplicou as severas condições do resgate (2011-2014).

O Partido Comunista Português (PCP) e o marxista Bloco de Esquerda (BE), ambos com representação parlamentar, também não escaparam das críticas públicas e são acusados de intransigência e de terem sido movidos mais por interesses partidários do que pelos interesses do próprio país.

Especialmente preocupante é a insatisfação entre os jovens, evidenciada em um estudo solicitado pelo próprio presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, que mostra que quase 60% dos portugueses com idades entre 15 e 24 anos não se interessam por política.

"Esse estudo revela que a descrença nas instituições e a degradação da relação cívica dos jovens com a vida política registaram um agravamento que deve preocupar a todos", disse Cavaco Silva quando apresentou o documento.

As pesquisas preveem um empate técnico entre a coalizão governamental e o opositor PS, mas também uma elevada abstenção.

Enquanto seguem os frequentes "disse me disse" dos partidos em campanha, a coalizão do PSD e CDS-PP, que concorre sob a marca "Portugal à Frente" e com Passos Coelho como líder, foi o principal alvo de descontentamento entre os eleitores.

Clientes que perderam suas economias no colapso do Banco Espírito Santo (BES), em 2014, ou funcionários públicos indignados pelos cortes salariais responsabilizaram os dois partidos conservadores, mostrando reprovação com sonoros protestos em atos eleitorais.

Um aumento de mais de 70% no número de "quinhentoseuristas" - parcela da população que ganha salário mínimo (505 euros, cerca de R$ 2,3 mil) e representa quase um quinto dos trabalhadores - e a emigração em massa (calcula-se 500 mil pessoas desde 2011) agravaram ainda mais o sentimento de saturação dos portugueses.

Os partidos do governo tentam amenizar estes argumentos mostrando a queda do desemprego (até 11,9%), o crescimento econômico (quase 2% no final deste ano) e a melhora do perfil soberano do país, que ajudará a financiar impostos mais baixos.

Apesar de muitos especialistas dizerem que este clima de desconfiança é propício para movimentos extremistas ou populistas, as pesquisas visualizam apenas espaço parlamentar para uma formação considerada de linha mais populista, o Partido Democrático Republicano, liderado pelo midiático advogado António Marinho e Pinto.

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