Críticas a Kim Jong-Un estão rompendo o cerco na Coreia
"A discórdia ou a crítica ao regime, até recentemente impensável, está se tornando mais frequente", disse um ex-embaixador
Reuters
Publicado em 25 de janeiro de 2017 às 10h07.
Seul - A elite norte-coreana está expressando seu descontentamento com o jovem líder Kim Jong Un e seu governo, à medida que mais informações do exterior infiltram o país isolado, disse o ex-vice-embaixador norte-coreano em Londres nesta quarta-feira.
Thae Yong Ho desertou para a Coreia do Sul em agosto do ano passado, e desde dezembro de 2016 vem conversando com a mídia e participando de vários programas de TV para debater sua deserção para Seul e sua vida como enviado de Pyongyang.
"Quando Kim Jong Un chegou ao poder, tive esperança de que ele iria tomar decisões sensatas e racionais para salvar a Coreia do Norte da pobreza, mas logo me desesperei vendo-o expurgar autoridades sem razões apropriadas", contou Thae durante sua primeira coletiva à imprensa estrangeira nesta quarta-feira.
"A discórdia ou a crítica ao regime, até recentemente impensável, está se tornando mais frequente", disse Thae, falando em inglês fluente com sotaque britânico. "Temos que borrifar gasolina na Coreia do Norte e deixar o povo norte-coreano incendiá-la".
Thae, de 54 anos, afirmou publicamente que sua insatisfação com Kim Jong Un o levou a deixar o cargo. Dois filhos em idade universitária que moravam com ele e a esposa na capital inglesa também desertaram.
As duas Coreias ainda estão tecnicamente em guerra porque o conflito de 1950-53 terminou em trégua, não em tratado de paz.
O Norte, que está sujeito a sanções da Organização das Nações Unidas (ONU) em função de seus programas nuclear e de mísseis, ameaça destruir o Sul e seu principal aliado, os Estados Unidos, com frequência.
Thae é o funcionário de mais alto escalão a fugir da Coreia do Norte e entrou na vida pública na capital sul-coreana desde a deserção de Hwang Jang Yop, o mentor da ideologia reinante no Norte, a "Juche", que mistura marxismo e nacionalismo extremo, em 1997.
O sistema norte-coreano atual não tem "nada a ver com o verdadeiro comunismo", opinou Thae, acrescentando que a elite, como ele, observou com apreensão países como Camboja, Vietnã e a ex-União Soviética adotarem reformas econômicas e sociais.
Thae disse que mais diplomatas de seu país estão na Europa esperando para desertar para o Sul.