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Crises ao redor do mundo esvaziam Cúpula das Américas no Peru

O conflito na Síria, o agravamento da crise humanitária na Venezuela e as denúncias de corrupção de ex-presidentes do Peru tiraram o foco da reunião

Cúpula das Américas: o fórum foi criado pelo governo norte-americano, em 1994, para discutir o futuro da região (Ivan Alvarado/Reuters)

Cúpula das Américas: o fórum foi criado pelo governo norte-americano, em 1994, para discutir o futuro da região (Ivan Alvarado/Reuters)

AB

Agência Brasil

Publicado em 13 de abril de 2018 às 14h43.

Última atualização em 26 de abril de 2018 às 18h42.

Três crises esvaziaram a 8ª Cúpula das Américas, que começa nesta sexta-feira (13), em Lima (Peru). A cúpula ocorre no momento em que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, promete endurecer contra a Síria; com o agravamento da crise humanitária e política envolvendo a Venezuela e também com as denúncias de corrupção e desvios de conduta de ex-presidentes peruanos.

Pela primeira vez, um presidente dos Estados Unidos não participa da Cúpula das Américas, o fórum criado pelo governo norte-americano, em 1994, para discutir o futuro da região. As reuniões são realizadas a cada três anos, e nesta cúpula o tema principal da agenda é o combate à corrupção.

Ainda na pauta da reunião, os líderes de 35 países discutirão os problemas e o futuro da região, principalmente o impacto da corrupção no crescimento econômico, no desenvolvimento e nas instituições democráticas.

A menos de um mês do começo da Cúpula das Américas, o então presidente do Peru Pedro Pablo Kuczynski renunciou antes da votação do segundo pedido de impeachment. Ele foi acusado de ter recebido propinas da empreiteira brasileira Odebrecht. Dois ex-presidentes peruanos são alvos do escândalo da Lava Jato. Ollanta Humala, que está preso, e Humberto Toledo, foragido.

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, foi excluído da reunião em meio a críticas de desrespeito à democracia. A questão da Venezuela gera protestos favoráveis e contrários a Maduro durante a 8ª Cúpula das Américas.

Sequestro

Um incidente regional tirou o presidente do Equador, Lenin Moreno, das discussões. Ele chegou a desembarcar no Peru, mas retornou a Quito para acompanhar pessoalmente os desdobramentos do sequestro de três jornalistas na fronteira com a Colômbia.

A equipe do jornal equatoriano El Comercio foi sequestrada há 18 dias. Eles estavam investigando o tráfico de drogas fronteiriço e a atuação de ex-guerrilheiros das Forcas Armadas Revolucionarias da Colômbia (Farc). "Dou um prazo de 12 horas a esses narcos para que entreguem provas de vida de nossos compatriotas. Caso contrário, iremos com toda contundência, sem contemplações, castigar esses violadores de direitos humanos e de solidariedade", alertou Moreno.

O anúncio de Moreno ocorreu depois de serem divulgadas fotografias de cadáveres, que supostamente seriam dos jornalistas sequestrados. O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, disse que colaboraria com o governo equatoriano.

Impasses

Outra questão que domina as discussões na cúpula é exclusão de Maduro do encontro, após antecipar as eleições presidenciais, suspendendo o diálogo com a oposição. A antecipação foi condenada pelos principais partidos opositores e pelos 17 países do Grupo de Lima, entre os quais o Brasil, que definem o episódio como "ruptura da ordem democrática" na Venezuela. Os principais líderes de oposição da Venezuela estão presos, exilados ou inabilitados para concorrer a pleitos.

Crítico do regime venezuelano, o presidente da Argentina, Mauricio Macri, reitera que não aceita tratar Maduro como "líder democrático", mesmo que ele seja reeleito. Em Lima, as manifestações envolvendo a Venezuela, de grupos favoráveis e contrários, se tornaram constantes nos últimos dias.

Organizações sociais e partidos de esquerda protestam contra as sanções à Venezuela. Segundo eles, os "ataques" contra Maduro fazem parte de uma campanha anti-socialista, liderada por Trump. Maduro tinha ameaçado comparecer à Cúpula das Américas, mesmo sem ter sido convidado, mesmo que tenha que "ir nadando" para o Peru.

Carta Aberta

A organização não-governamental (ONG) Anistia Internacional enviou carta aberta aos 35 líderes das Américas, lembrando que qualquer discussão sobre problemas econômicos, políticos e comerciais da região deve ser acompanhada de politicas de defesa dos direitos humanos.

Na carta, a ONG diz que "lamentavelmente a nossa região continua sendo a mais violenta e desigual do mundo, com os maiores índices de homicídios, na América Central, no México, no Brasil e na Venezuela". A organização também criticou a "retórica" de líderes políticos que promovem "o ódio e a discriminação".

Em Buenos Aires, o secretário-geral da Anistia Internacional, Salil Shetty, se reuniu com o presidente da Argentina, Mauricio Macri, quando conversaram sobre o impacto da crise humanitária na Venezuela nos países vizinhos. Para Shetty, a solução para a crise é politica, pois a adoção de sanções e ameaças não têm surtido efeitos.

"Salvo a ajuda que tem recebido da Rússia, da China e de Cuba, o governo de Maduro esta cada vez mais isolado e fechado", disse. "Brasil, Colômbia e Argentina têm um papel fundamental em convencer Maduro a buscar uma saída política", afirmou Shetty.

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