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Crise na Grécia obriga o retorno dos imigrantes albaneses

180 mil dos cerca de 600 mil albaneses na Grécia retornaram ao seu país nos últimos anos, deixando para trás o que no passado era visto como um paraíso

Revolta na Grécia: muitos dos que voltaram estiveram fora de seu país por 10, 15 e até 20 anos (Milos Bicanski/Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 11 de fevereiro de 2013 às 10h30.

Tirana/Atenas - A grave crise econômica que atinge a Grécia há cinco anos obrigou o retorno de quase um terço dos imigrantes albaneses, que deixaram seus lares para buscar uma saída para a miséria no país vizinho.

Segundo dados publicados recentemente pelo Centro para o Comércio Exterior em Tirana - capital da Albânia - 180 mil dos cerca de 600 mil albaneses estabelecidos na Grécia retornaram para o seu país nos últimos anos, deixando para trás o que no passado era visto como um paraíso, uma saída para a mais profunda pobreza.

"O povo está voltando porque aqui já não tem mais trabalho e, apesar de o mesmo acontecer na Albânia, pelo menos lá eles têm um teto", explicou à Agência Efe Osmán Fein, representante da Comunidade Albanesa de Atenas.

Muitos dos que voltaram estiveram fora de seu país por 10, 15 e até 20 anos. Por ser um país vizinho, a maioria deles visitava com relativa frequência suas cidades e povoados. Muitos deles usaram suas economias na construção de suas casas e para ajudar aos familiares que por lá permaneceram.

"Meu irmão voltou no ano passado após 19 anos em Atenas trabalhando como pedreiro. Com a crise no setor da construção civil, perdeu seu emprego e não teve outra solução além de voltar com sua família. Ele permanece sem trabalho na Albânia, mas pelo menos tem uma casa e seus filhos podem frequentar a escola", afirmou Elsa Semi em Atenas.

Elsa continua vivendo na Grécia porque trabalha fazendo faxina em várias casas e seu marido, também operário da construção, sobrevive através de alguns bicos. No entanto, no parque onde Elsa costuma levar as crianças para brincar, só se vê metade dos albaneses que frequentavam o lugar há alguns anos.

A Albânia, com seus 2,8 milhões de habitantes, é um dos países mais pobres da Europa, com um salário médio de 250 euros e uma taxa oficial de desemprego em torno dos 13,3%.


Estima-se que 1,5 milhões de albaneses deixaram o país desde a queda do comunismo em 1991, metade deles rumo à vizinha Grécia, onde melhoraram sua situação econômica e, além disso, ajudaram no repovoamento de algumas zonas rurais que estavam praticamente desabitadas.

Agora, por outro lado, o advento da crise grega gerou uma reviravolta em um modo de vida que parecia se perpetuar.

De volta à Albânia, a vida não é fácil. Apesar de o governo de Tirana ter aprovado uma estratégia para apoiar a reinserção social dos repatriados - um dos requisitos exigidos pela União Europeia para que a Albânia ingresse na organização - a maioria deles luta para conseguir trabalho, assistência médica e social, e educação para seus filhos, muitos deles nascidos na Grécia.

Entre 2010 e 2012, 3.530 repatriados se apresentaram nos escritórios de emprego albaneses, sendo que 86% deles retornavam da Grécia. Só um de cada dez conseguiu trabalho, enquanto outros 15% se matricularam em cursos de formação profissional, segundo informações do Serviço Nacional do Emprego.

"Aqui ninguém nos ajudou. O Estado albanês é inexistente ou existe só para nos roubar. É pior do que na Grécia. Os rendimentos são menores e os preços dos alimentos maiores", afirmou Shyqyri Shahini, que voltou com sua família à Albânia no ano passado após uma década e meia em Atenas.

Entretanto, Shahini - operário da construção civil - conseguiu juntar algum dinheiro durante o período em que viveu na Grécia e conseguiu alugar uma pequena loja em Tirana, com a qual garante a sobrevivência dos três membros de sua família.

Seus filhos têm ainda mais dificuldade para se adaptarem à nova vida, já que não dominam a língua materna, pois viveram muito tempo na Grécia. Seu filho mais novo, Besmir, que saiu da Albânia quando tinha apenas um ano, se sente ofendido quando seus companheiros de classe lhe chamam de "o grego" por conta de seu sotaque.

Como forma de ajudar os repatriados, o Ministério da Educação decidiu introduzir neste ano cursos especiais de aprendizagem do albanês para os 3.770 filhos de imigrantes que estudam nas escolas públicas do ensino médio.

Apesar de tudo, a crise grega teve algum efeito positivo para a Albânia. Apesar de o país balcânico ter deixado de receber as remessas enviadas pelos imigrantes, o temor de uma quebra do sistema financeiro da Grécia fez com que os albaneses que lá viviam transferissem dois bilhões de euros para o seu país nos últimos três anos.

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Tirana/Atenas - A grave crise econômica que atinge a Grécia há cinco anos obrigou o retorno de quase um terço dos imigrantes albaneses, que deixaram seus lares para buscar uma saída para a miséria no país vizinho.

Segundo dados publicados recentemente pelo Centro para o Comércio Exterior em Tirana - capital da Albânia - 180 mil dos cerca de 600 mil albaneses estabelecidos na Grécia retornaram para o seu país nos últimos anos, deixando para trás o que no passado era visto como um paraíso, uma saída para a mais profunda pobreza.

"O povo está voltando porque aqui já não tem mais trabalho e, apesar de o mesmo acontecer na Albânia, pelo menos lá eles têm um teto", explicou à Agência Efe Osmán Fein, representante da Comunidade Albanesa de Atenas.

Muitos dos que voltaram estiveram fora de seu país por 10, 15 e até 20 anos. Por ser um país vizinho, a maioria deles visitava com relativa frequência suas cidades e povoados. Muitos deles usaram suas economias na construção de suas casas e para ajudar aos familiares que por lá permaneceram.

"Meu irmão voltou no ano passado após 19 anos em Atenas trabalhando como pedreiro. Com a crise no setor da construção civil, perdeu seu emprego e não teve outra solução além de voltar com sua família. Ele permanece sem trabalho na Albânia, mas pelo menos tem uma casa e seus filhos podem frequentar a escola", afirmou Elsa Semi em Atenas.

Elsa continua vivendo na Grécia porque trabalha fazendo faxina em várias casas e seu marido, também operário da construção, sobrevive através de alguns bicos. No entanto, no parque onde Elsa costuma levar as crianças para brincar, só se vê metade dos albaneses que frequentavam o lugar há alguns anos.

A Albânia, com seus 2,8 milhões de habitantes, é um dos países mais pobres da Europa, com um salário médio de 250 euros e uma taxa oficial de desemprego em torno dos 13,3%.


Estima-se que 1,5 milhões de albaneses deixaram o país desde a queda do comunismo em 1991, metade deles rumo à vizinha Grécia, onde melhoraram sua situação econômica e, além disso, ajudaram no repovoamento de algumas zonas rurais que estavam praticamente desabitadas.

Agora, por outro lado, o advento da crise grega gerou uma reviravolta em um modo de vida que parecia se perpetuar.

De volta à Albânia, a vida não é fácil. Apesar de o governo de Tirana ter aprovado uma estratégia para apoiar a reinserção social dos repatriados - um dos requisitos exigidos pela União Europeia para que a Albânia ingresse na organização - a maioria deles luta para conseguir trabalho, assistência médica e social, e educação para seus filhos, muitos deles nascidos na Grécia.

Entre 2010 e 2012, 3.530 repatriados se apresentaram nos escritórios de emprego albaneses, sendo que 86% deles retornavam da Grécia. Só um de cada dez conseguiu trabalho, enquanto outros 15% se matricularam em cursos de formação profissional, segundo informações do Serviço Nacional do Emprego.

"Aqui ninguém nos ajudou. O Estado albanês é inexistente ou existe só para nos roubar. É pior do que na Grécia. Os rendimentos são menores e os preços dos alimentos maiores", afirmou Shyqyri Shahini, que voltou com sua família à Albânia no ano passado após uma década e meia em Atenas.

Entretanto, Shahini - operário da construção civil - conseguiu juntar algum dinheiro durante o período em que viveu na Grécia e conseguiu alugar uma pequena loja em Tirana, com a qual garante a sobrevivência dos três membros de sua família.

Seus filhos têm ainda mais dificuldade para se adaptarem à nova vida, já que não dominam a língua materna, pois viveram muito tempo na Grécia. Seu filho mais novo, Besmir, que saiu da Albânia quando tinha apenas um ano, se sente ofendido quando seus companheiros de classe lhe chamam de "o grego" por conta de seu sotaque.

Como forma de ajudar os repatriados, o Ministério da Educação decidiu introduzir neste ano cursos especiais de aprendizagem do albanês para os 3.770 filhos de imigrantes que estudam nas escolas públicas do ensino médio.

Apesar de tudo, a crise grega teve algum efeito positivo para a Albânia. Apesar de o país balcânico ter deixado de receber as remessas enviadas pelos imigrantes, o temor de uma quebra do sistema financeiro da Grécia fez com que os albaneses que lá viviam transferissem dois bilhões de euros para o seu país nos últimos três anos.

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