Coronavírus já causa prejuízo bilionário ao turismo do sudeste asiático
Países como Tailândia, Camboja, Malásia, entre outros, estão sendo afetados pelo surto que começou na China
AFP
Publicado em 15 de fevereiro de 2020 às 13h51.
São Paulo - Com hotéis vazios, praias desertas e cancelamentos, o Sudeste Asiático, fortemente dependente do turismo , paga um preço alto pela epidemia do novo coronavírus , com prejuízos avaliados em bilhões de dólares.
O clima é sombrio no balneário de Pattaya, um dos destinos favoritos dos chineses na Tailândia. O local, geralmente borbulhante, está despovoado, os barcos de turismo permanecem no píer, e, nos pequenos postos do mercado flutuante, o humor não é dos melhores.
Na reserva de elefantes Chang Siam Park, principal atração da cidade, a vendedora de suvenires Ma Mya viu seu lucro cair pela metade. "Se continuar assim, terei que voltar para casa", lamenta a jovem, da tribu Kayan, que exibe um largo colar dourado em espiral em torno do pescoço.
O parque recebia cerca de 1,5 mil visitantes por dia. "Hoje, são pouco mais de 200. Já perdi cerca de 65 mil dólares", conta o dono do local, Nantakorn Phatnamrob.
Nos famosos templos de Angkor, Camboja, a venda de ingressos caiu cerca de 30%, segundo cifras do Ministério do Turismo. A mesma situação vive o Vietnã, onde 13 mil reservas de hotel foram canceladas em Hanói e as visitas à joia do país, a Baía de Halong, despencaram mais de 60%.
Para mostrar que aprenderam a lição da epidemia de Sars, ocorrida em 2002-2003, autoridades chinesas tomaram medidas draconianas contra o novo coronavírus, que já matou cerca de 1,5 mil pessoas e infectou mais de 66 mil.
Desde o fim de janeiro, Pequim colocou em quarentena pelo menos 56 milhões de habitantes e proibiu à toda a população viagens organizadas para o exterior. Como resultado, a Tailândia, que recebeu 11 milhões de chineses (27% dos turistas estrangeiros naquele país) em 2019, registrou no começo do mês uma queda de mais de 86% no número de visitantes do gigante asiático, segundo o ministro do Turismo, Phiphat Ratchakitprakarn.
No Vietnã, os turistas chineses praticamente desapareceram, com uma queda de cerca de 90%, segundo a região. O efeito se propaga entre europeus, americanos e australianos, que desistiram de viajar devido ao medo da doença, apesar de os infectados se encontrarem principalmente na China continental e muito poucas pessoas terem dado positivo no Sudeste Asiático.
Prejuízos bilionários
A situação, inédita, poderia ser catastrófica para as economias da região, muito dependentes do turismo. Na Tailândia, o setor representa 20% do PIB, e o prejuízo ligado à epidemia deve chegar este ano a cerca de 8 bilhões de dólares, ou 1,5% do PIB, segundo o alto executivo do Banco Central tailandês Don Nakornthab. Já o Vietnã estima um prejuízo de cerca de 6 bilhões de dólares a partir dos próximos três meses.
Mas o que acontecerá se, como temem alguns especialistas da indústria do turismo, os efeitos perdurarem até 2021? Conscientes deste risco, Tailândia e Camboja não rejeitam os turistas chineses e reforçam os controles nos aeroportos e fronteiras. Já o premier do Camboja, Hun Sen, denuncia "a doença do medo" e faz o possível para conquistar a simpatia do governo chinês, seu aliado próximo, e que os chineses retornem ao reino.
O Laos fechou a fronteira terrestre com a China e vários voos diários foram cancelados. "Desde então, não vemos chineses e a situação pode piorar", comenta Ong Tau, vendedora de sucos de frutas em Luang Prabang.
Muitas agências de viagens e donos de hotéis da região fazem grandes ofertas e ampliam suas políticas de cancelamento, permitindo que os clientes adiem sua estadia sem gastos, para reduzir as desistências.