Coreia do Norte lança míssil balístico a partir de submarino
O míssil norte-coreano percorreu 590 quilômetros a uma altitude máxima de 60 quilômetros, informou uma fonte militar
AFP
Publicado em 19 de outubro de 2021 às 07h53.
A Coreia do Norte lançou no mar um míssil balístico a partir de um submarino, informou nesta terça-feira (19) o exército sul-coreano, no mais recente de uma série de testes armamentistas de Pyongyang nas últimas semanas.
"Nosso exército detectou um míssil balístico de curto alcance não identificado, que suspeitamos ser um SLBM, disparado pela Coreia do Norte", afirmou o Estado-Maior Conjunto da Coreia do Sul em um comunicado.
SLBM é a a sigla em inglês para Míssil Balístico Lançado de Submarino.
O míssil percorreu 590 quilômetros a uma altitude máxima de 60 quilômetros, informou uma fonte militar à AFP.
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Coreia do Sul e Estados Unidos tinham indícios de que a Coreia do Norte estaria desenvolvendo um SLBM, depois que o país fez um lançamento subaquático recentemente, embora analistas acreditem que Pyongyang executou a operação a partir de uma plataforma submersa e não de um submarino.
O Comando do Indo-Pacífico dos Estados Unidos exigiu que Pyongyang "abstenha-se de qualquer outra ação desestabilizadora", mas afirmou que o disparo "não representa uma ameaça imediata para as pessoas ou território americano, ou nossos aliados".
A península vive uma espécie de corrida armamentista, desde que o Sul lançou em setembro seu primeiro SLBM e apresentou seu primeiro míssil de cruzeiro supersônico.
O míssil foi disparado da localidade costeira de Sinpo em direção ao mar da península, informou o Estado-Maior Conjunto do Sul.
Sinpo é um grande estaleiro naval e fotografias de satélites apontaram a presença de submarinos na região.
Ter um SLBM em seu arsenal permitiria ao regime posicionar suas armas longe da península coreana e daria uma capacidade de resposta a partir de um submarino no caso de suas bases terrestres serem destruídas ou atacadas.
Capacidade de chantagem
A presidência sul-coreana convocou uma reunião do Conselho Nacional de Segurança e afirmou "lamentar profundamente" a ação, ao mesmo tempo que pediu a Pyongyang o retorno ao diálogo.
O primeiro-ministro japonês Fumio Kishida afirmou que dois mísseis foram lançados e considerou a ação "lamentável".
O regime de Kim Jong Un "está desenvolvendo um SLBM porque deseja ter um elemento dissuasivo nuclear mais duradouro com o qual chantagear seus vizinhos e os Estados Unidos", declarou Leif-Eric Easley, professor na Universidade Ewha de Seul.
"O SLBM norte-coreano provavelmente está longe de ser implantado de maneira operacional com uma ogiva nuclear (...) mas Kim não pode permitir-se politicamente ficar para trás em uma corrida armamentista nuclear", acrescentou.
A Coreia do Norte, que possui armas nucleares, testou nas últimas semanas mísseis de cruzeiro de longo alcance, uma arma lançada a partir de um trem e o que anunciou como um míssil hipersônico, o que provocou uma consternação internacional.
Também organizou uma rara exibição de armas que incluiu um gigantesco míssil balístico internacional, apresentado em um desfile militar noturno no ano passado.
Kim Jong Un, cujo governo estimulou um avanço rápido da tecnologia militar, culpou na semana passada os Estados Unidos pelas tensões provocadas pelos testes de armas e negou ter intenções hostis.
O país enfrenta sanções internacionais por seus programas de armas nucleares e balísticas.
Via diplomática
O lançamento mais recente coincidiu com o pedido deum enviado americano para iniciar negociações com Pyongyang.
"Não temos nenhuma intenção hostil a respeito da RPDC (República Popular Democrática da Coreia) e esperamos nos reunir em breve com eles, sem condições", afirmou Sung Kim, representante especial de Washington para a Coreia do Norte.
Ao mesmo tempo, ele explicou que os aliados têm "a responsabilidade de implementar as resoluções do Conselho de Segurança da ONU", em referência às sanções internacionais.
O presidente sul-coreano, Moon Jae-in, propôs recentemente a declaração formal do fim da Guerra da Coreia, pois o conflito terminou em 1953 com um armistício, mas não com um tratado de paz.
De acordo com Shin Beom-chul, do Instituto de Pesquisas de Estratégia Nacional da Coreia, Kim deseja reforçar sua posição para uma eventual negociação com os Estados Unidos.
"Pyongyang quer demonstrar que pode levar a provocação mais longe", disse.
Kim Jong Un se reuniu três vezes com o ex-presidente americano Donald Trump, que afirmou ter impedido uma guerra, mas não alcançou um acordo para acabar com o programa nuclear norte-coreano.
O processo de conversações está paralisado desde que um encontro no Vietnã terminou em fracasso pelas divergências sobre a suspensão das sanções e o que Pyongyang ofereceria em troca.
O atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, prometeu buscar a desnuclearização por meio da diplomacia.