Como viver no Estado Islâmico, segundo mulheres jihadistas
Manual produzido pela brigada feminina do grupo detalha o papel das mulheres no califado e conta com orientações sobre como deve ser a educação para meninas
Gabriela Ruic
Publicado em 5 de fevereiro de 2015 às 14h10.
São Paulo – Uma mulher tem a permissão para deixar o seu lar em três situações: para estudar teologia, se é uma médica ou professora indo ao trabalho, e desde que esteja respeitando as regras da Sharia (as leis islâmicas), ou se foi convocada para participar de combates em circunstâncias extraordinárias.
A recomendação faz parte de um manual produzido pela Al-Khansaa, a brigada feminina do grupo Estado Islâmico ( EI ).
O documento foi publicado em um fórum na internet frequentado por apoiadores dos jihadistas e foi traduzido do árabe para o inglês pela Quilliam Foundation, uma organização dedicada ao combate e estudo do extremismo religioso.
Na análise da entidade, o guia tem como objetivo detalhar o papel das mulheres no califado, bem como o de pressionar as mães a fazerem com que seus filhos abracem os ideais do EI. Contém ainda um “estudo de caso” sobre a vida no território hoje dominado pelo grupo no Iraque e na Síria .
A vida no EI
Apesar de ser uma peça de propaganda das atividades do grupo e potencialmente usada no recrutamento de novos membros, o manual traz informações que ilustram aspectos do cotididano nos locais onde o EI já domina: Raqqa, que fica na Síria e hoje é informalmente conhecida como a capital do EI, e Mosul, que é a segunda maior cidade do Iraque.
Assim que o grupo assumiu o controle destes lugares, foram feitas inspeções em lojas para que roupas consideradas reveladores fossem confiscadas. Hoje, as mulheres podem apenas sair em público usando o hijab, traje que cobre o corpo da cabeça aos pés e que deixa apenas os olhos de fora. Há também menções de que houve o estabelecimento de um sistema judiciário baseado na Sharia.
Críticas ao ocidente
O manual, que é dividido em diferentes capítulos, começa destacando a importância de a mulher ficar em casa, cuidando de seu marido e de seus filhos, e compara o seu papel com aquele de um diretor de cinema. “É a pessoa mais importante de toda a produção, é quem está organizando tudo nos bastidores”, comentam as autoras.
Segundo a Al-Khansaa, o guia foi produzido por colaboradores e não foi sancionado por nenhuma autoridade do EI. Em diversos trechos, há críticas ao modo de vida e a educação ocidental e o incentivo para que as mulheres aprofundem os conhecimentos sobre a religião.
“Ela (a mulher muçulmana que vive no ocidente) acaba sentada no meio de outra cultura apenas para estudar o cérebro dos corvos, os grãos de areia e as artérias dos peixes”, diz o documento. “Não há necessidade de ela conseguir um diploma apenas para provar que é mais inteligente que os homens”.
Considerando que a educação adequada para meninas e mulheres é a religiosa, as autoras propõem um currículo escolar a ser seguido dos sete aos 15 anos. “Matemática deve ser ensinada de acordo com a idade e habilidade e depende do desenvolvimento mental e físico da menina”.
Quando atingem à pré-adolescência, além de estudos religiosos e da língua árabe, as jovens começam a aprender a costurar e tricotar, cozinhar, cuidar de crianças e também devem ter aulas sobre as regras do casamento de do divórcio.
Na visão do grupo, é perfeitamente legítimo que uma menina de nove anos se case e é preciso ainda observar que as jovens “puras” devem estar casadas até os 16 ou, no máximo, os 17 anos de idade, “enquanto ainda estão jovens e ativas.”
Al-Khansaa
Esta brigada feminina foi instituída pelos militantes do EI para auxiliar nas revistas de civis para evitar que fugitivos se disfarçassem de mulheres para escapar das garras do grupo. Aos poucos, contudo, assumiu o papel de "fiscal da moral”.
Hoje, a al-Khansaa é responsável por guardar as ruas de Raqqa e inspecionar escolas para meninas, garantindo, assim, que todos estejam agindo de acordo com as regras impostas pelos jihadistas.
Confira abaixo o manual na íntegra traduzido para o inglês.
Manual para as mulheres no Estado Islâmico
São Paulo – Uma mulher tem a permissão para deixar o seu lar em três situações: para estudar teologia, se é uma médica ou professora indo ao trabalho, e desde que esteja respeitando as regras da Sharia (as leis islâmicas), ou se foi convocada para participar de combates em circunstâncias extraordinárias.
A recomendação faz parte de um manual produzido pela Al-Khansaa, a brigada feminina do grupo Estado Islâmico ( EI ).
O documento foi publicado em um fórum na internet frequentado por apoiadores dos jihadistas e foi traduzido do árabe para o inglês pela Quilliam Foundation, uma organização dedicada ao combate e estudo do extremismo religioso.
Na análise da entidade, o guia tem como objetivo detalhar o papel das mulheres no califado, bem como o de pressionar as mães a fazerem com que seus filhos abracem os ideais do EI. Contém ainda um “estudo de caso” sobre a vida no território hoje dominado pelo grupo no Iraque e na Síria .
A vida no EI
Apesar de ser uma peça de propaganda das atividades do grupo e potencialmente usada no recrutamento de novos membros, o manual traz informações que ilustram aspectos do cotididano nos locais onde o EI já domina: Raqqa, que fica na Síria e hoje é informalmente conhecida como a capital do EI, e Mosul, que é a segunda maior cidade do Iraque.
Assim que o grupo assumiu o controle destes lugares, foram feitas inspeções em lojas para que roupas consideradas reveladores fossem confiscadas. Hoje, as mulheres podem apenas sair em público usando o hijab, traje que cobre o corpo da cabeça aos pés e que deixa apenas os olhos de fora. Há também menções de que houve o estabelecimento de um sistema judiciário baseado na Sharia.
Críticas ao ocidente
O manual, que é dividido em diferentes capítulos, começa destacando a importância de a mulher ficar em casa, cuidando de seu marido e de seus filhos, e compara o seu papel com aquele de um diretor de cinema. “É a pessoa mais importante de toda a produção, é quem está organizando tudo nos bastidores”, comentam as autoras.
Segundo a Al-Khansaa, o guia foi produzido por colaboradores e não foi sancionado por nenhuma autoridade do EI. Em diversos trechos, há críticas ao modo de vida e a educação ocidental e o incentivo para que as mulheres aprofundem os conhecimentos sobre a religião.
“Ela (a mulher muçulmana que vive no ocidente) acaba sentada no meio de outra cultura apenas para estudar o cérebro dos corvos, os grãos de areia e as artérias dos peixes”, diz o documento. “Não há necessidade de ela conseguir um diploma apenas para provar que é mais inteligente que os homens”.
Considerando que a educação adequada para meninas e mulheres é a religiosa, as autoras propõem um currículo escolar a ser seguido dos sete aos 15 anos. “Matemática deve ser ensinada de acordo com a idade e habilidade e depende do desenvolvimento mental e físico da menina”.
Quando atingem à pré-adolescência, além de estudos religiosos e da língua árabe, as jovens começam a aprender a costurar e tricotar, cozinhar, cuidar de crianças e também devem ter aulas sobre as regras do casamento de do divórcio.
Na visão do grupo, é perfeitamente legítimo que uma menina de nove anos se case e é preciso ainda observar que as jovens “puras” devem estar casadas até os 16 ou, no máximo, os 17 anos de idade, “enquanto ainda estão jovens e ativas.”
Al-Khansaa
Esta brigada feminina foi instituída pelos militantes do EI para auxiliar nas revistas de civis para evitar que fugitivos se disfarçassem de mulheres para escapar das garras do grupo. Aos poucos, contudo, assumiu o papel de "fiscal da moral”.
Hoje, a al-Khansaa é responsável por guardar as ruas de Raqqa e inspecionar escolas para meninas, garantindo, assim, que todos estejam agindo de acordo com as regras impostas pelos jihadistas.
Confira abaixo o manual na íntegra traduzido para o inglês.