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Como um teste para covid-19 de US$ 175 virou uma conta de US$ 2.479

Nesta semana, uma agência investigativa dos EUA, a ProPublica, denunciou um esquema de inflar preços dos testes contra a covid-19 no Texas

EUA: serviço de saúde americano enfrenta diversas denúncias sobre preços abusivos durante a pandemia da covid-19 (Spencer Platt/Getty Images)

EUA: serviço de saúde americano enfrenta diversas denúncias sobre preços abusivos durante a pandemia da covid-19 (Spencer Platt/Getty Images)

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Clara Cerioni

Publicado em 2 de agosto de 2020 às 21h02.

Última atualização em 2 de agosto de 2020 às 21h11.

Os conflitos envolvendo as cobranças relacionadas a tratamentos de saúde nos Estados Unidos não são novidade, mas a pandemia do novo coronavírus tem escancarado os abusos praticados por empresas de seguro em saúde.

Neste fim de semana, a ProPublica, agência de jornalismo que apura abusos de poder nos EUA, denunciou um esquema nos testes contra a covid-19 no Texas, estado cujos preços dos exames têm variado  de menos de US $ 100 a milhares de dólares.

A investigação foi possível por causa de uma advogada americana que foi tentar fazer o teste para a doença por meio de seu seguro de saúde, o SignatureCare. Após ser atendida dentro do carro e passar pela coleta, ela seria cobrada por US$ 75, valor do exame. 

A advogada recebeu, no entanto, uma documentação que precisava assinar. Treinada para ler minuciosamente todos os trechos, ela percebeu que, se assinasse, poderia ser responsabilizada por gastos além daqueles cobertos por seu seguro.

O serviço de saúde, por exemplo, cobra uma "taxa de instalação" pelo tratamento que pode variar entre "quinhentos e cem mil dólares". Outra cobrança, a da “taxa de observação”, pode variar de US $ 1.000 a US $ 100.000.

Na ocasião, diz a ProPublica, a advogada não assinou o documento, mas tempos depois seu filho começou a se sentir mal e precisou ser atendido no mesmo serviço de saúde.

Foram dez horas de espera dentro do carro para o garoto ser testado para a covid-19 no esquema drive-thrue. Seu pai é quem o acompanhava no momento e relatou que pela espera "teria assinado qualquer coisa". 

Ao final da odisseia, a conta do hospital finalmente chegou e, para surpresa dos pais, o custo do teste foi de fato US$ 175, mas o saldo total, incluindo as despesas médicas e de instalações associadas a uma visita à sala de emergência, chegou a US$ 2.479.

O extrato detalhado acessado pela ProPublica mostra que foi cobrado US$ 1.784 para "taxa de instalação" e US$ 486 para a "taxa do médico". 

O prontuário também descreve situações divergentes: o teste da criança deu negativo, mas há trechos registrado como "exposição a fluidos corporais" e, em outros lugares, diz "exposição confirmada a covid-19". Nenhuma dessas afirmações é verdadeira, segundo os pais.

A investigação identificou cobranças por teste de anticorpos, mas o registro médico mostra que ele teve um teste diagnóstico, bem diferente. Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, as companhias de seguros no Texas normalmente cobram entre US$ 100 e US$ 300 pelos testes drive-thru, mas há inúmeras denúncias de abuso de preços cometidos durante a crise de saúde pública. 

À ProPublica, um diretor médico do SignatureCare disse que o erro pode ter sido causado por um modelo de software que adicionava algo que não estava na ficha médica. Outra representante da empresa enfatizou que o seguro de saúde é "franco com os pacientes sobre as possíveis taxas associadas ao seu tratamento". 

Uma auditoria na empresa, assim como em outros serviços no Texas, deve ser feita nas próximas semanas para identificar possíveis abusos no valor dos serviços de saúde ofertados nos EUA durante a pandemia da covid-19.

EXAMINANDO: Como funcionam os sistemas de saúde?

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