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Como era o cotidiano dos irmãos que atacaram Paris

Brahim Abdeslam, de 31 anos, dono do bar no bairro de um bairro em Bruxelas, detonou os explosivos presos ao corpo no Boulevard Voltaire em Paris

Terroristas de Paris: "Não eram praticantes, nem devotos. Não tinham barba grande, usavam jeans e tênis e bebiam Jupiler como todo mundo" (Eric Vidal / Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 19 de novembro de 2015 às 13h36.

Sobre a porta, uma frase: fechado "para consumo de substâncias alucinógenas proibidas".

No bar "Les Béguines", em Molenbeek, os irmãos Brahim e Salah Abdeslam bebiam "Jupiler", cerveja popular belga, longe das regras salafistas de não consumir álcool, mas sem despertar a atenção particular da polícia.

Mas o odor da maconha terminou por chamar a atenção da polícia: em meados de agosto, quando comparecem ao bar, no térreo de um pequeno edifício de tijolos vermelhos, os agentes encontraram em vários cinzeiros, alguns com baseados parcialmente consumidos, segundo o decreto administrativo de fechamento, colado na porta em 5 de novembro.

Desde então, os vizinhos não ouviram mais falar dos irmãos. Até o sábado passado, um dia depois dos ataques de Paris, quando Brahim, de 31 anos, dono do bar, detonou os explosivos presos ao corpo no Boulevard Voltaire.

Salah, de 26 anos, suspeito de ter integrado um dos comandos que atacou Paris , permanece foragido.

Youssef, com idade por volta de 30 anos e roupas esportivas, assim como um boné virado para trás, observa o bar e revela estar em choque.

"São amigos", conta. "Grandes bebedores, grandes fumantes, mas não radicais", acrescenta.

Nem praticantes, nem devotos

"Lá muitas pessoas fumavam drogas, muitas", completa Abdel, de 34 anos, que frequentava o local desde a adolescência.

"Com o gerente anterior, o ambiente era mais festivo, nós jogávamos Playstation", recorda.

"Com certeza havia haxixe, como em muitos bares daqui, mas era mais discreto. Com Brahim, você entrava e ele já tentava vender algo", conta.

Ao que parece, os negócios falaram mais alto que as convicções religiosas.

"Nas sextas-feiras, sempre ficava para fumar no terraço. Nunca o vi na mesquita", afirma Karim, de 27 anos, cujo apartamento fica em cima do bar.

"Não eram praticantes, nem devotos. Não tinham barba grande, usavam jeans e tênis e bebiam Jupiler como todo mundo", revela Jamal, professor e amigo dos irmãos Abdeslam.

"Viviam como todos os jovens: gostavam de futebol, de frequentar boates, voltavam com garotas", recorda.

O mais jovem, Salah, tinha o costume de comprar "perfume e enxaguante bucal no mercado da praça da prefeitura, a dois passos daqui", disse.

"Era muito vaidoso, gostava de cuidar da aparência", completa Pharred, administrador do mercado.

Detido na fronteira turca

Por que estes jovens se tornaram jihadistas? "Amizades ruins em um momento ruim", explica Jamal.

No início de 2011, Salah Abdeslam foi demitido do emprego de técnico na Stib, a empresa de transporte publico da região de Bruxelas, "por ausência prolongada sem justificativa".

Sua ausência tinha uma explicação: alguns meses antes, em 2010, ele foi detido em um caso de roubo, ato em que também foi citado Abdel Hamid Abaaoud, suposto mentor dos atentados de Paris, também originário de Molenbeek, morto em uma operação na quarta-feira em Saint-Denis, ao norte da capital francesa.

"Atrás das grades é possível imaginar que Abaaoud ensinou a teologia da 'dissimulação' ('Taqiya' em árabe) para enganar os serviços de segurança e de inteligência", opina Mathieu Guidère, especialista francês em terrorismo.

De acordo com a tática, "desenvolvida há um ano em manuais elaborados nos redutos da organização Estado Islâmico (EI), como Mossul ou Raqa, um aspirante a mártir pode consumir haxixe ou blasfemar para enganar a vigilância das autoridades", explica Gyidère.

Em janeiro de 2015, Brahim Abdeslam tentou entrar na Síria, mas foi interceptado na fronteira turca. Ao retornar, a polícia belga o interrogou, ao lado do irmão Salah.

Já extremistas, os dois irmãos voltaram a se mostrar como pequenos delinquentes e foram liberados.

"Sabíamos que haviam se radicalizado e que poderiam tentar viajar à Síria, mas não deram sinais de representar uma possível ameaça. Mesmo que tivéssemos informado a França, duvido que poderíamos detê-los", disse na quarta-feira o porta-voz da procuradoria federal belga.

"Salah era um jovem normal", disse outro irmão Abdeslam, Mohamed.

Mohamed Abdeslam foi detido no sábado em Molenbeek, mas depois de um interrogatório com um juiz, as autoridades decidiram libertá-lo na segunda-feira sem acusações.

Na quarta-feira à noite, durante uma manifestação em solidariedade às vítimas dos atentados organizada em Molenbeek, Mohamed colocou discretamente velas na residência da família.

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Sobre a porta, uma frase: fechado "para consumo de substâncias alucinógenas proibidas".

No bar "Les Béguines", em Molenbeek, os irmãos Brahim e Salah Abdeslam bebiam "Jupiler", cerveja popular belga, longe das regras salafistas de não consumir álcool, mas sem despertar a atenção particular da polícia.

Mas o odor da maconha terminou por chamar a atenção da polícia: em meados de agosto, quando comparecem ao bar, no térreo de um pequeno edifício de tijolos vermelhos, os agentes encontraram em vários cinzeiros, alguns com baseados parcialmente consumidos, segundo o decreto administrativo de fechamento, colado na porta em 5 de novembro.

Desde então, os vizinhos não ouviram mais falar dos irmãos. Até o sábado passado, um dia depois dos ataques de Paris, quando Brahim, de 31 anos, dono do bar, detonou os explosivos presos ao corpo no Boulevard Voltaire.

Salah, de 26 anos, suspeito de ter integrado um dos comandos que atacou Paris , permanece foragido.

Youssef, com idade por volta de 30 anos e roupas esportivas, assim como um boné virado para trás, observa o bar e revela estar em choque.

"São amigos", conta. "Grandes bebedores, grandes fumantes, mas não radicais", acrescenta.

Nem praticantes, nem devotos

"Lá muitas pessoas fumavam drogas, muitas", completa Abdel, de 34 anos, que frequentava o local desde a adolescência.

"Com o gerente anterior, o ambiente era mais festivo, nós jogávamos Playstation", recorda.

"Com certeza havia haxixe, como em muitos bares daqui, mas era mais discreto. Com Brahim, você entrava e ele já tentava vender algo", conta.

Ao que parece, os negócios falaram mais alto que as convicções religiosas.

"Nas sextas-feiras, sempre ficava para fumar no terraço. Nunca o vi na mesquita", afirma Karim, de 27 anos, cujo apartamento fica em cima do bar.

"Não eram praticantes, nem devotos. Não tinham barba grande, usavam jeans e tênis e bebiam Jupiler como todo mundo", revela Jamal, professor e amigo dos irmãos Abdeslam.

"Viviam como todos os jovens: gostavam de futebol, de frequentar boates, voltavam com garotas", recorda.

O mais jovem, Salah, tinha o costume de comprar "perfume e enxaguante bucal no mercado da praça da prefeitura, a dois passos daqui", disse.

"Era muito vaidoso, gostava de cuidar da aparência", completa Pharred, administrador do mercado.

Detido na fronteira turca

Por que estes jovens se tornaram jihadistas? "Amizades ruins em um momento ruim", explica Jamal.

No início de 2011, Salah Abdeslam foi demitido do emprego de técnico na Stib, a empresa de transporte publico da região de Bruxelas, "por ausência prolongada sem justificativa".

Sua ausência tinha uma explicação: alguns meses antes, em 2010, ele foi detido em um caso de roubo, ato em que também foi citado Abdel Hamid Abaaoud, suposto mentor dos atentados de Paris, também originário de Molenbeek, morto em uma operação na quarta-feira em Saint-Denis, ao norte da capital francesa.

"Atrás das grades é possível imaginar que Abaaoud ensinou a teologia da 'dissimulação' ('Taqiya' em árabe) para enganar os serviços de segurança e de inteligência", opina Mathieu Guidère, especialista francês em terrorismo.

De acordo com a tática, "desenvolvida há um ano em manuais elaborados nos redutos da organização Estado Islâmico (EI), como Mossul ou Raqa, um aspirante a mártir pode consumir haxixe ou blasfemar para enganar a vigilância das autoridades", explica Gyidère.

Em janeiro de 2015, Brahim Abdeslam tentou entrar na Síria, mas foi interceptado na fronteira turca. Ao retornar, a polícia belga o interrogou, ao lado do irmão Salah.

Já extremistas, os dois irmãos voltaram a se mostrar como pequenos delinquentes e foram liberados.

"Sabíamos que haviam se radicalizado e que poderiam tentar viajar à Síria, mas não deram sinais de representar uma possível ameaça. Mesmo que tivéssemos informado a França, duvido que poderíamos detê-los", disse na quarta-feira o porta-voz da procuradoria federal belga.

"Salah era um jovem normal", disse outro irmão Abdeslam, Mohamed.

Mohamed Abdeslam foi detido no sábado em Molenbeek, mas depois de um interrogatório com um juiz, as autoridades decidiram libertá-lo na segunda-feira sem acusações.

Na quarta-feira à noite, durante uma manifestação em solidariedade às vítimas dos atentados organizada em Molenbeek, Mohamed colocou discretamente velas na residência da família.

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