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Com reputação em baixa, Estado Islâmico tece teia pelo mundo

Na maioria dos casos, os autores de ataques não estiveram em contato direto com os líderes do autoproclamado califado, que se contenta em reivindicá-lo depois


	Estado Islâmico: "Desde o início, o EI havia declarado a sua intenção de se tornar um movimento jihadista global"
 (Reuters)

Estado Islâmico: "Desde o início, o EI havia declarado a sua intenção de se tornar um movimento jihadista global" (Reuters)

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Da Redação

Publicado em 15 de janeiro de 2016 às 12h04.

Em posição defensiva na Síria e no Iraque, o grupo Estado Islâmico (EI) tem se beneficiado de sua fama para reunir organizações jihadistas ou indivíduos isolados que, como em Jacarta na quinta-feira e em um número crescente de países, matam em seu nome, dizem os especialistas.

Na maioria dos casos, os autores de ataques não estiveram em contato direto com os líderes do autoproclamado califado, que se contenta em reivindicá-lo depois e, assim, garantir uma expansão e um aumento da presença de baixo custo, afirmam.

"Desde o início, o EI havia declarado a sua intenção de se tornar um movimento jihadista global", explicou à AFP Michael Kugelman, do instituto de reflexão Woodrow Wilson Center em Washington.

"Até recentemente, o grupo estava focado na gestão de seu califado no Iraque e na Síria. Mas, como começa a perder terreno, tem adotado uma abordagem mais abrangente", afirma.

E acrescenta: "A grande questão, após os ataques em Jacarta (reivindicados pelo EI) e outros no mundo nos últimos meses, é a seguinte: esses jihadistas foram enviados diretamente pelo EI ou apenas se inspiraram no grupo?".

Como todos os especialistas entrevistados pela AFP, Michael Kugelman acredita que, na maioria dos casos, o EI se contenta, por ora, graças a uma campanha mundial na internet, a reivindicar as ações realizadas por indivíduos ou grupos que inspira, mas não gerencia diretamente.

"No ponto em que estamos", ele acrescenta, "eu acredito que em sua maioria são militantes descontentes que lutaram em uma organização diferente e que são atraídos pelo que consideram uma causa mais dinâmica".

Desta forma, no Afeganistão e no Paquistão, por exemplo, grupos que dizem pertencer ao EI apareceram nos últimos meses, reivindicando ataques ou posando na internet sob a bandeira dos jihadistas.

Vácuo de poder e anarquia

"Estes são grupos dissidentes que decidiram adotar uma nova identidade", explica à AFP o paquistanês Hassan Askari, especialista em movimento radical.

"A ideologia extremista do EI, o salafismo fundamentalista, já estava presente no Paquistão. Aqueles que se juntam a eles, em busca desta nova identidade, pode não ter nenhuma conexão direta com os líderes do EI".

"Ao contrário da Al-Qaeda, cujos líderes estavam no Paquistão e no Afeganistão, não há nada que sugira que os líderes do EI tenham chegado a esses dois países", acrescenta.

Se o autor do ataque contra o mercado judaico em Paris, em janeiro de 2015, Amédy Coulibaly, gravou antes de agir um testamento em que jura fidelidade ao "califa Ibrahim", chefe do EI, a investigação em curso sugere que o único contato que ele teve com a organização foi assistindo sua propaganda na internet.

"E na Indonésia", acrescenta Michael Kugelman, "não havia nenhuma evidência, antes dos ataques de quinta-feira em Jacarta, de uma presença formal do EI. Isso é novo. Estes grupos que se unem ao EI sabem que ao brandir sua bandeira na internet vão se tornar mais assustadores, vão receber mais atenção, e é isso que eles querem".

Se o EI registrou, e aceitou, a adesão de grupos estabelecidos em oito países, e declara que se trata de "províncias" (na Argélia, Nigéria, Líbia, Egito, Arábia Saudita, Iêmen, Afeganistão e Paquistão), ele liderou ou inspirou em 2015, de acordo com um comunicado emitido pelo Institute for the Study of War, ataques ou atentados em pelo menos dezessete países, matando milhares de pessoas.

Na África, a mais rápida expansão em curso aconteceu na Líbia, onde os grupos que se juntaram ao EI têm se beneficiado do vácuo de poder e da anarquia que reina no país.

"Mas não devemos nos esquecer que a região do Sahel é muito permeável, e esta é uma grande preocupação para o continente", disse à AFP Peter Pham, do think tank Atlantic Council em Washington.

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