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Churchill tentou encobrir plano nazista de atrair ex-rei

Eduardo VIII abdicou para poder se casar com uma americana divorciada. Morando na Espanha, o monarca alternativo era contra Churchill e a guerra

Churchill: um ministro alemão planejava oferecer o trono britânico ao irmão do rei (Hulton Archive/Keystone/Getty Images)

Churchill: um ministro alemão planejava oferecer o trono britânico ao irmão do rei (Hulton Archive/Keystone/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 20 de julho de 2017 às 19h17.

Londres - Winston Churchill e Dwight Eisenhower tentaram eliminar documentos nazistas capturados que mostravam Eduardo VIII, o ex-rei do Reino Unido, discutindo seu desejo de paz com Adolf Hitler, segundo arquivos recentemente revelados em Londres.

O Arquivo Nacional dos EUA publicou na quinta-feira mais artigos do depósito secreto do governo britânico no Cabinet Office, onde documentos considerados “muito difíceis, muito sensíveis” para o sistema regular de arquivos foram escondidos.

Entre eles há um memorando de 1953 de Churchill, marcado como “ultrassecreto”, explicando a existência de uma série de telegramas alemães contendo relatórios de comentários do Duque de Windsor, título pelo qual Eduardo VIII era chamado após ter abdicado do trono, em 1936.

“Ele está convencido de que se tivesse permanecido no trono a guerra teria sido evitada e se descreve como firme defensor de um acordo pacífico com a Alemanha”, relata um telegrama de Lisboa, Portugal, país neutro no conflito, onde o duque estava em julho de 1940. “O duque tem certeza de que o contínuo bombardeio pesado deixará a Inglaterra pronta para a paz.”

Eduardo VIII abdicou para poder se casar com uma americana divorciada, Wallis Simpson. O casal se instalou na França, mas se mudou para a Espanha quando estourou a Segunda Guerra Mundial.

O governo de Madri, formalmente neutro, mas simpatizante da Alemanha, pediu orientação de Berlim sobre o que deveria ser feito com eles.

O ministro das Relações Exteriores alemão à época, Joachim von Ribbentrop, respondeu perguntando se eles poderiam permanecer lá. E depois ordenou que a casa fosse vigiada.

Ribbentrop ficou interessado quando soube, dias depois, que em privado “Windsor se posicionou energicamente contra Churchill e contra esta guerra”. Enquanto ele avaliava o que fazer, o duque e a duquesa se dirigiram para Portugal, onde fizeram comentários semelhantes. Os nazistas decidiram agir.

"Persuadido ou forçado"

“O duque deve voltar para a Espanha sob qualquer circunstância”, escreveu Ribbentrop, acrescentando que o casal deveria ser “persuadido ou forçado” a permanecer lá. Seu plano era oferecer ao duque “a concessão de qualquer desejo”, incluindo “a ascensão ao trono inglês”.

Churchill, enquanto isso, estava atento ao perigo de ter um monarca alternativo tão próximo de acabar em mãos nazistas. Por isso, nomeou o duque como governador das Bahamas.

Como os Windsor relutaram em deixar a Europa, Churchill ameaçou Eduardo, que tinha um cargo militar honorário, com uma corte marcial. Ribbentrop, que não queria deixar seu troféu escapar, lançou a Operação Willi para convencer os Windsor a voltarem para a Espanha, sequestrando-os se necessário. Mas apesar das tentativas de sabotagem e das ameaças de bomba, os alemães fracassaram.

O plano era "persuadir o duque a deixar Lisboa em um carro como se estivesse indo para uma longa viagem de lazer e depois atravessar a fronteira em um lugar específico, onde a polícia secreta espanhola garantirá uma passagem segura", de acordo com uma nota enviada para Ribbentrop.

Os telegramas que descrevem a operação foram encontrados em 1945, quando o regime de Hitler caiu. Quando foram transferidos para o governo britânico, Clement Attlee, que substituiu Churchill como primeiro-ministro, escreveu ao seu antecessor dizendo que a publicação dos documentos "poderia fazer um dano enorme". Churchill respondeu concordando e expressando a esperança de que fosse possível "destruir todos os vestígios" dos arquivos.

Plano de publicação

Mas quando Churchill voltou ao poder em 1951, ficou horrorizado ao saber que Attlee posteriormente mudou de ideia, aparentemente por insistência do então secretário de Relações Exteriores, Ernest Bevin. Os historiadores em Washington na época propunham publicar os telegramas nazistas.

Em 1953, Churchill escreveu para Eisenhower, presidente dos EUA à época, relatando seu temor de que os documentos “possam deixar a impressão de que o duque estava em contato com agentes alemães e ouvindo sugestões desleais”.

Eisenhower, que havia sido comandante supremo dos aliados, tinha visto os telegramas em 1945, mas pensava que os tinha eliminado, com o argumento de que eram “obviamente inventados com alguma ideia de promover a propaganda alemã”. Ele não sabia que uma microfilmagem deles tinha sido enviada ao Departamento de Estado dos EUA.

Na década de 1950, as mensagens tinham sido vistas por muita gente, o que impedia sua destruição, e o historiador britânico encarregado de preparar os documentos para publicação ameaçava pedir demissão se eles fossem eliminados.

Os documentos acabaram sendo publicados em 1957 e o duque os descreveu como uma “farsa completa”.

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