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Centenas de pessoas fogem da fome no norte de Gaza: 'Nossa única esperança é a ajuda de Deus'

Grande parte da população já havia fugido da área após as ordens de retirada do exército israelense em outubro. Mas, agora, é a falta de alimentos que está forçando os palestinos a irem para o centro e o sul

Soldados em Gaza (Adel Zaanoun com Delphine MATTHIEUSSENT /AFP Photo)
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 25 de fevereiro de 2024 às 13h38.

Última atualização em 25 de fevereiro de 2024 às 13h38.

Centenas de pessoas fugiram do norte de Gaza neste domingo, levadas pela fome e expostas a combates incessantes, apesar dos esforços para intermediar uma trégua entre Israel e o Hamas, que inclui a libertação de reféns. A situação continua a se agravar no estreito território, onde 2,2 milhões de pessoas, a grande maioria da população, enfrentam "fome em massa", de acordo com a ONU.

O gabinete de guerra israelense aprovou no sábado o envio de negociadores ao Qatar para continuar as conversas sobre uma trégua, de acordo com a mídia israelense. Mas, por enquanto, o bombardeio continua e a ajuda humanitária está chegando pela passagem de Rafah, no extremo sul do enclave, onde depende da aprovação de Israel, que impôs um cerco total à Faixa.

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Conseguir ajuda para o norte é quase impossível devido à destruição e aos combates em todo o território. Os ataques continuaram na noite passada em Khan Younis, no sul, bem como em Beit Lahia e Zeitun, no norte. Grande parte da população já havia fugido da área após as ordens de retirada do exército israelense em outubro. Mas, desta vez, é a falta de alimentos que está forçando os habitantes de Gaza a migrar para o centro e o sul em busca de comida.

Um correspondente da AFP relatou que centenas de pessoas deixaram suas casas e foram para outras áreas do território, que é governado pelo Hamas desde 2007 e está sob forte bombardeio israelense desde 7 de outubro.

'Não tenho palavras'

A guerra eclodiu naquele dia, quando o grupo terrorista palestino e aliados mataram cerca de 1.160 pessoas, a maioria civis, no sul de Israel, e sequestraram cerca de 250, de acordo com um balanço da AFP baseado em dados israelenses. Em resposta ao ataque, Israel lançou uma ofensiva aérea e terrestre que já matou 29.606 pessoas em Gaza, a grande maioria delas civis, de acordo com o Ministério da Saúde do território palestino.

— Vim caminhando. Não tenho palavras para descrever o tipo de fome que está se espalhando por lá — disse Samir Abd Rabbo, de 27 anos, que chegou a Nuseirat, no centro de Gaza, com sua filha de um ano e meio. — Não há leite [para minha filha]. Eu tento lhe dar pão que preparo com forragem, mas ela não consegue digeri-lo. Nossa única esperança é a ajuda de Deus.

O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, denunciou na sexta-feira o "bloqueio e cerco imposto por Israel a Gaza" e sugeriu que "o uso da fome como método de guerra" poderia ser um "crime de guerra".

Em Jabaliyia, no norte, dezenas de moradores foram às ruas no sábado com recipientes vazios na esperança de conseguir algum alimento, de acordo com imagens da AFP. Em outros locais, dezenas de pessoas foram vistas protestando contra a falta de alimentos no norte do território. "Não à política que busca nos matar de fome", dizia uma faixa segurada por crianças.

Discussões para uma trégua

O chefe do Mossad, a agência de Inteligência estrangeira de Israel, viajou para Paris na sexta-feira para examinar um projeto de cessar-fogo que foi discutido no final de janeiro com seus colegas americanos e egípcios e com o primeiro-ministro do Catar.

De acordo com uma fonte do Hamas, que está listado como uma organização "terrorista" pelos EUA, Israel e União Europeia, o plano prevê uma trégua de seis semanas e a libertação de 200 a 300 prisioneiros palestinos em troca de 35 a 40 reféns israelenses. Após uma troca em novembro, as autoridades israelenses estimam que ainda existam 130 reféns em Gaza, 30 dos quais estão mortos.

Israel, enfrentando uma pressão interna cada vez maior, agora está exigindo "a libertação de todos os reféns, começando pelas mulheres, e que esse acordo não significa o fim da guerra", disse Tzachi Hanegbi, conselheiro de segurança nacional do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. O Hamas, por outro lado, exige um "cessar-fogo total" e a retirada das tropas israelenses de Gaza.

A preocupação está crescendo especialmente em Rafah, onde pelo menos 1,4 milhão de pessoas estão abrigadas ao longo da fronteira egípcia sob a ameaça de uma grande operação militar israelense.

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