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Casa Branca virou máquina de gerar conteúdo com Trump, diz especialista

Para Marcelo Vitorino, professor de marketing político da ESPM, em entrevista à EXAME, o pop virou o novo ringue de Trump — que, mesmo na Presidência, não deixou sua faceta showman de lado

Donald Trump: presidente dos EUA entra em conflitos com estrelas pop (Andrew Caballero-Reynolds/Getty Images)

Donald Trump: presidente dos EUA entra em conflitos com estrelas pop (Andrew Caballero-Reynolds/Getty Images)

Publicado em 5 de dezembro de 2025 às 11h01.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem se envolvido em frequentes controvérsias com artistas pop. Em seu mais recente embate, a cantora Sabrina Carpenter protestou contra o uso não autorizado de sua música Juno em um vídeo da Casa Branca, que mostrava agentes de imigração dos EUA (ICE, na sigla em inglês) detendo imigrantes ilegais.

Carpenter criticou o uso da faixa, chamando o vídeo de “maligno e nojento” e pediu que sua música não fosse associada a uma “agenda desumana”.

A Casa Branca, então, fez uma tréplica. Em comunicado, um porta-voz do governo citou outra música da artista, Manchild. “Não vamos pedir desculpas por deportar assassinos, estupradores e pedófilos ilegais do nosso país. Quem defende esse tipo de gente deve ser estúpido, ou é lento?”, afirmava o comunicado.

Para Marcelo Vitorino, professor de marketing político da ESPM, em entrevista à EXAME, as respostas de Trump são calculadas — e mostram que Trump, mesmo na presidência, não deixou sua faceta showman de lado.

Confira a entrevista completa:

Por que Trump usa músicas pop sem permissão?

Isso é provocação calculada. Quando ele usa uma música da Beyoncé ou da Sabrina Carpenter sem autorização, ele sabe que vai gerar reação. E a reação é o combustível da estratégia dele.

Funciona assim: artista reclama, mídia repercute, fãs se dividem, e Trump está em todo lugar de novo. É o velho princípio de que não existe publicidade ruim — pelo menos na lógica dele.

Qual o sentido de brigar com comunidades de fãs?

Fandoms são comunidades mobilizadas, engajadas, que reagem em massa. Quando Trump provoca uma Taylor Swift ou um Bad Bunny, ele não está tentando conquistar esses fãs — ele está energizando a própria base.

É como cutucar um vespeiro sabendo que seus apoiadores vão adorar ver as vespas irritadas. A polarização é o objetivo, não o efeito colateral.

Isso é a persona de showman que ele nunca abandonou?

Exatamente. Trump entendeu uma coisa que muitos políticos tradicionais não entendem: política virou entretenimento. Ele vem do reality show, da WWE, do mundo onde a briga é o produto.

Criticar a Kristen Stewart em 2012 ou a Taylor Swift em 2024 é a mesma lógica — ele se posiciona como o cara que fala o que pensa, que não tem medo de celebridade. Isso ressoa muito com a base dele.

Funciona assim: artista reclama, mídia repercute, fãs se dividem, e Trump está em todo lugar de novo. É o velho princípio de que não existe publicidade ruim — pelo menos na lógica dele.

As brigas são para dominar o noticiário?

Sem dúvida. É a velha tática de “flooding the zone” — inundar a zona de informação.

Enquanto você está discutindo se ele deveria ou não ter usado a música da Sabrina Carpenter, não está discutindo política tarifária ou deportações em massa.

Ele controla a pauta. E no mundo das redes sociais, quem controla a conversa, controla a narrativa.

A cultura pop virou um novo campo de batalha de Trump?

Virou. Faz todo sentido estratégico. A cultura pop é onde a atenção está. É onde os jovens estão, é onde se formam opiniões, é onde as tribos se organizam. Trump entendeu que não dá para fazer política só no campo tradicional — tem que disputar o imaginário, os memes, as trends.

É como se a política tivesse migrado do palanque para o palco. E Trump, que sempre foi mais showman do que estadista, se sente em casa nesse ringue. Ele não quer convencer todo mundo — quer que todo mundo fale dele. E nisso, ele é imbatível.

Atrapalha a imagem dele responder com letra de música?

Para quem já não gosta dele, sim. Mas para a base dele? É genial. Mostra que a equipe está antenada na cultura pop, que não leva desaforo, que tem senso de humor.

É a mesma coisa de um meme bem feito — viraliza, gera conversa, mantém ele no centro do debate. A Casa Branca virou uma máquina de conteúdo.

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