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Candidatas iraquianas combatem ataques machistas na corrida eleitoral

As candidatas nas eleições parlamentares do Iraque enfrentam vandalismo, pichações em seus cartazes eleitorais e campanhas difamatórias na internet

Iraque: 25% das cadeiras do parlamento são reservadas para mulheres (Khalid al-Mousily/Reuters)
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EFE

Publicado em 8 de maio de 2018 às 10h37.

Última atualização em 9 de maio de 2018 às 11h46.

Bagdá - As mulheres que se candidataram às eleições parlamentares do Iraque precisam combater durante a campanha uma série de ataques machistas que tentam minar a participação feminina no pleito do próximo dia 12 de maio.

As candidatas enfrentaram atos de vandalismo, pichações ofensivas contra seus cartazes eleitorais e campanhas difamatórias na internet.

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Várias mulheres desistiram da disputa para evitar prejuízos à reputação, entre elas Intidhar Yasim, candidata da coalizão do primeiro-ministro, Haider al Abadi, que deixou a campanha após ser divulgado na internet um vídeo sexual, que segundo ela é falso.

Apesar da campanha sistemática contra muitas mulheres, situação que chegou a alarmar a ONU, muitas candidatas se mantêm firmes no combate às tentativas de intimidação.

"Não nos interessa quem não tem moral, seguimos no nosso trabalho. Esta campanha de descrédito não vai nos excluir", disse a deputada Ashuak Salem, sem medo de enfrentar os ataques.

Candidata pela província de Saladino, Salem explica que "a mulher iraquiana é uma mulher árabe forte", razão pela qual as candidatas aceitam o "desafio" dos ataques machistas e continuarão na política.

Segundo ela, caso seja reeleita, uma de suas primeiras medidas será propor regras para limitar a divulgação de notícias falsas e para punir os difamadores.

Em qualquer rua de Bagdá é possível encontrar cartazes de candidatas rasgados, pichados, furados ou com as imagens pintadas de bigodes ou frases ofensivas.

De acordo com observadores das eleições, essas campanhas difamatórias têm o objetivo de aterrorizar as candidatas, de modo que saiam da disputa e sejam excluídas da política.

A Constituição iraquiana reserva 25% das 328 cadeiras do parlamento às mulheres. Concorrem nos pleitos cerca de duas mil candidatas entre os 7.187 candidatos.

Nesse sentido, a candidata independente por Bagdá, Sameiya al Yaburi, opinou que "quem tenta ter as mulheres como alvo desta forma imoral certamente é um extremista", motivo pelo qual deve ser punido pelas autoridades.

Yaburi ressaltou que "a mulher iraquiana sofreu e aguentou muito, e agora tenta desempenhar um papel de liderança", razão pela qual pede que sejam deixadas de lado "questões de pouca importância" como esta para manter o foco em "lançar uma campanha contra os corruptos".

As ações de descrédito contra as mulheres motivaram o repúdio da embaixada dos Estados Unidos e do representante da ONU para o Iraque, Khan Kubis, que alertaram sobre o perigo destes ataques para a transparência e a imparcialidade do processo eleitoral.

A deputada Rizan Shij Delir, integrante do comitê parlamentar para a Mulher e a Família, denunciou a campanha de intimidação de várias páginas no Facebook, em comunicado no qual também culpa o governo por "ficar em silêncio diante das ofensas às mulheres".

O analista político Nazem al Yaburi afirmou à Agência Efe que, apesar da cota feminina no parlamento, os projetos legislativos elaborados desde a queda de Saddam Hussein em 2003 "focaram em outros assuntos" e não tentaram mudar a realidade da mulher iraquiana, por isso a sua situação agora é ainda pior que antes.

"Como se sabe, a mulher iraquiana sofreu muito com a marginalização ao longo do tempo. Este sofrimento aumentou depois de 2003", pontuou.

De acordo com o especialista, a campanha de difamação aumentou nas eleições de 2018 porque os próprios partidos, em busca de votos, transformaram a beleza em um critério de seleção das candidatas.

"Os presidentes das coalizões quiseram trocar os rostos velhos por outras mais frescos", alegou. Isso também pode ser visto nos cartazes, nos quais as mulheres aparecem com roupas ocidentais, maquiadas e sem véu.

Em eleições anteriores, as candidatas apenas colocavam os nomes e números do partido ou, no máximo, divulgavam imagens com véu, geralmente acompanhadas na foto por algum parente homem.

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