Boko Haram liberta estudantes sequestradas na Nigéria
Os esforços do presidente, apoiado pelos serviços de segurança, para trazer as jovens sequestradas em Dapchi surtiram efeito, afirmou o comunicado oficial
AFP
Publicado em 21 de março de 2018 às 10h58.
Última atualização em 21 de março de 2018 às 11h14.
Parte das 110 estudantes sequestradas em 19 de fevereiro pelo grupo islamita Boko Haram em Dapchi, norte da Nigéria, foram libertadas pelos criminosos - informou o governo nigeriano.
"Os esforços do presidente Muhamadu Buhari, apoiado pelos serviços de segurança, para trazer as jovens sequestradas em Dapchi surtiram efeito", afirma um comunicado do Ministério da Informação, que cita 76 estudantes libertadas até o momento.
Segundo os habitantes dessa pequena localidade do estado de Yobe (nordeste), as estudantes não estavam acompanhadas por nenhuma força de segurança.
Homens que pertenceriam ao Boko Haram, movimento islamista afiliado ao grupo Estado Islâmico (EI), atacaram em 19 de fevereiro um internato da escola para meninas de Dapchi, e levaram 110 delas, com idades entre 10 e 18 anos.
Isso aconteceu em circunstâncias quase idênticas ao sequestro de Chibok, em abril de 2014, onde mais de 200 estudantes foram sequestradas, gerando grande comoção em todo mundo. Mais de 100 delas conseguiram fugir, ou foram libertadas ao fim de negociações com o governo nigeriano.
Na semana passada, o presidente Buhari havia declarado que o governo faria "todo o possível" para libertar as adolescentes. Ele disse preferir uma solução negociada a uma operação militar.
"A violência e a confrontação não teriam sido a solução, porque teriam colocado em risco a vida das reféns", alegou o ministro da Informação, Lai Mohamed, destacando que as negociações foram facilitadas por "países amigos" e que sua libertação foi "incondicional".
"Desde que elas foram levadas de Dapchi, as operações (militares) foram suspensas em certas zonas para permitir sua passagem", explicou Mohamed.
Segundo os especialistas, os resgates pagos e os presos soltos em troca da libertação das estudantes de Chibok podem ter estimulado o Boko Haram a cometer um novo sequestro em massa. Em sua conta no Twitter, a Presidência nega, porém, que qualquer resgate tenha sido pago.
"As meninas estão, atualmente, nas mãos dos serviços de Inteligência (DSS)", de acordo com tuíte em conta oficial.
Segundo os moradores da pequena cidade do estado de Yobe (nordeste), "elas não estavam acompanhadas de qualquer força de segurança. Seus sequestradores apenas as deixaram e foram embora, sem falar com ninguém", relatou Bashir Manzo, que dirige uma associação de ajuda aos pais de jovens sequestradas.
Aisha Alhaji Deri, de 16 anos, uma das vítimas, disse à AFP que elas "nunca foram maltratadas" no cativeiro.
"No dia do sequestro, cinco de nós morreram", contou a adolescente.
"Quando eles nos soltaram, nos disseram para irmos direto para casa, e não para os militares, porque eles iam dizer que foram eles que nos salvaram", acrescentou a jovem, antes de ser levada pela agência de Inteligência nigeriana.
O fantasma de Chibok
Na terça-feira (20), a Anistia Internacional acusou o Exército nigeriano de ter sido informado do deslocamento dos combatentes na região de Dapchi pouco antes do sequestro coletivo e de não ter reagido a tempo.
Esse drama se desenrolou em circunstâncias quase idênticas às do sequestro de Chibok, em abril de 2014, onde mais de 200 estudantes foram sequestradas. O episódio causou comoção mundial.
Uma centena delas conseguiu escapar, e muitas foram libertadas ao fim de negociações com o governo e de troca por prisioneiros. Quatro anos após seu sequestro, mais de 100 permanecem desaparecidas.
Em janeiro passado, algumas foram vistas em um vídeo divulgado pelo grupo. Nele, garantiam que "não voltariam, pela graça de Deus".
Embora o Exército e as autoridades nigerianas não se cansem de repetir que o Boko Haram está "tecnicamente derrotado", esse trágico evento expõe as graves deficiências de segurança no nordeste do país.