Após assumir novo mandato presidencial na Rússia, Putin anuncia troca no Ministério da Defesa
Sergei Shoigu, titular da pasta desde 2012, foi realocado para o Conselho de Segurança russo; ministro era questionado por decisões na guerra na Ucrânia
Agência de notícias
Publicado em 12 de maio de 2024 às 18h01.
Última atualização em 12 de maio de 2024 às 18h05.
Cinco dias depois de assumir a Presidência da Rússia pela quinta vez, Vladimir Putin propôs mudanças no Gabinete ministerial, com destaque para a saída do ministro da Defesa, Sergei Shoigu, que vinha acumulando desafetos e críticas desde o início da invasão da Ucrânia. Não está claro se a troca influenciará nos rumos do conflito.
Na mensagem enviada ao Conselho da Federação, equivalente ao Senado, o Kremlin sinalizou que o indicado para o posto é Andrey Belusov, vice-primeiro-ministro desde 2020. Economista de carreira, ele chefiou o Ministério de Desenvolvimento Econômico entre 2012 e 2013, e chegou a atuar como premier interino por alguns dias em 2020, após o titular do cargo, Mikhail Mishustin, ser diagnosticado com Covid-19. A aprovação dos novos nomes é considerada protocolar, uma vez que o Parlamento é dominado por aliados de Putin.
— Já que o presidente tomou tal decisão, e o presidente é o comandante-em-chefe supremo, isso significa que hoje é necessária exatamente essa pessoa como ministro da Defesa — disse à agência RIA Andrei Kartapolov, chefe do Comitê de Defesa da Duma, o Parlamento russo. A sessão para discutir os nomes está marcada para a terça-feira.
Belusov é visto como alguém próximo de Putin, que atuou como seu conselheiro econômico por quase sete anos e que comandou a estatal petrolífera Rosneft. De acordo com fontes do Kremlin, ele compartilha a visão de que a Rússia está “cercada por inimigos”, e de que é necessário desconfiar de todos, incluindo aqueles que circulam dentro do governo.
As trocas de ministros são uma tradição dos mandatos presidenciais russos, mas a saída de Sergei Shoigu, que comanda o Ministério da Defesa desde 2012, pode ser considerada o desfecho de anos de questionamentos e até uma insurreição fracassada. Seu comando das forças na Ucrânia, especialmente nos primeiros momentos da guerra, foi questionado pelo alto número de baixas e por fracassos em cumprir os planos de dominar rapidamente o Leste do país e chegar a Kiev.
Um dos principais desafetos de Shoigu era o líder do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, que reclamava do que via como ações do ministro da Defesa para limitar sua influência dentro do Kremlin. A milícia, que oficialmente não tinha laços com o governo russo, participou de batalhas importantes da guerra, como a longa disputa pelo controle de Bakhmut, na região de Donetsk. Com frequência Prigozhin acusava Shoigu de minar os interesses do grupo armado, inclusive financeiramente.
A crise chegou ao seu ponto máximo em junho de 2023, quando Prigozhin liderou uma insurreição que planejava marchar do Sul da Rússia até Moscou com blindados, tropas e o apoio de muitos civis ao longo do caminho.
Cerca de 30 pessoas morreram em combates entre os milicianos e forças de segurança, e até um helicóptero foi derrubado. O impasse foi solucionado após intervenção do presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko — Prigozhin, por sua vez, morreu naquele mesmo agosto, em um acidente aéreo até hoje não explicado Shoigu, que chegou a aparecer em listas de possíveis sucessores de Putin no comando da Rússia, sobreviveu à crise, mas sua posição era vista como cada vez mais fragilizada, mesmo com os recentes avanços na Ucrânia.
Uma espécie de “golpe final” veio no final de abril, com a prisão de Timur Ivanov, vice-ministro da Defesa, acusado de receber propinas em projetos supervisionados por ele. Os dois se conhecem desde os tempos em que Shoigu comandou brevemente a região de Moscou, em 2012, e recentemente ele estava encarregado de obras em áreas ocupadas na Ucrânia, como em Mariupol.
— Ivanov não supervisionava apenas a construção, mas também os contratos militares, e isso é o mais importante de tudo — disse, em condição de anonimato, um funcionário do governo russo ao The Moscow Times.
Ao comentar a troca no comando da Defesa, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou, citado pela agência RIA, que “Putin decidiu que o Ministério da Defesa seria liderado por um civil, e que a pasta deve estar aberta à inovação e ideias avançadas”. Shoigu não se pronunciou.
De acordo com Peskov, Sergei Shoigu será realocado como secretário do Conselho de Segurança russo, e ocupará o posto de vice-chefe de Estado na comissão do complexo militar-industrial, e supervisionará o trabalho do Serviço Federal de Cooperação Técnico-Militar. Ele substitui Nikolai Patrushev, que também faz parte do círculo próximo de Putin e que, assim como o presidente, tem uma carreira ligada aos serviços de segurança — ainda não está claro qual será sua nova função.
Patrushev é uma das principais vozes do governo russo no exterior, e era responsável por nutrir laços, inclusive militares, com aliados como Irã, Argélia e Líbia. No ano passado, o Wall Street Journal afirmou que ele teria sido um dos responsáveis pelo suposto atentado que matou Prigozhin, algo que ele e o governo negam.
Além da mudança de Shoigu, Putin decidiu manter em seus cargos alguns velhos conhecidos do governo. A começar pelo chanceler Sergei Lavrov, titular da pasta desde 2004. A lista de veteranos mantidos nos cargos inclui ainda Alexander Bortnikov, que lidera o Serviço Federal de Segurança (FSB) desde 2008, e Vladimir Kolokoltsev, ministro do Interior há 12 anos.