Merkel precisa convencer os aliados sobre uma votação para ajudar os países em crise na Europa (Uwe Anspach/AFP)
Da Redação
Publicado em 24 de agosto de 2011 às 18h36.
Berlim - A ministra do Trabalho cobiça o ouro dos países em dificuldades, o presidente da República ataca o BCE: a política europeia da chefe do governo alemão, Angela Merkel, é alvo de crescentes críticas dentro de seu próprio partido.
O último golpe ocorreu nesta quarta-feira, quando o presidente Christian Wulff ultrapassou os limites de sua função puramente honorífica para atacar o Banco Central Europeu.
Membro da conservadora União Democrata Cristã (CDU) de Angela Merkel e cujo posto se deve à chanceler, Wulff considera "discutível do ponto de vista legal a compra de títulos de alguns países", entre eles Espanha e Itália, pelo BCE.
"No longo prazo, não pode resultar em nada bom", disse Wulff, em um discurso diante de vencedores do prêmio Nobel de economia reunidos em Lindau (sul).
O porta-voz de Merkel, Steffen Seibert, disse nesta quarta-feira que o governo "não se manifesta sobre o BCE nem para cumprimentá-lo nem para criticá-lo".
Estas declarações chegam em um momento em que a chanceler deve reunir suas tropas para aprovar a ampliação de competências do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef), entre elas a de comprar títulos da dívida pública dos Estados em dificuldades no mercado secundário, tirando essa incumbência do BCE.
O voto dos deputados do Bundestag está previsto para 23 de setembro.
Alguns deputados conservadores, entre eles pesos pesados como o presidente da Comissão de Assuntos Internos, Wolfgang Bosbach, criticam essa reforma.
Para complicar as coisas, Merkel, que na terça-feira submeteu-se a um exame de política europeia de mais de três horas por seus deputados conservadores, teve que puxar a orelha de sua ministra do Trabalho, Ursula von der Leyen.
Esta declarou que era favorável a fazer com que as reservas de ouro ou as participações industriais dos países em dificuldades sirvam de garantia para os países que contribuíssem com o Feef.
Berlim esforça-se precisamente para impedir acordos bilaterais como o alcançado entre Finlândia e Grécia, disposta a conceder ao país nórdico uma fiança em troca da ajuda financeira de Helsinki, o que começou a ser pedido por outros países.
Exigir garantias materiais em troca de uma ajuda "não leva a lugar algum", disse nesta quarta-feira o porta-voz de Merkel, Steffen Seibert, apesar de ter afirmado que não houve "trocas" de opiniões nesse sentido no Conselho de Ministros, e assegurou que a titular do Trabalho e a chanceler "dividem a mesma opinião".
Mesmo se a reforma do Feef contar com maioria, como assegura o líder dos deputados conservadores, Volker Kauder, os ânimos estão acirrados, como demonstrou nesta quarta-feira o jornal Handelsblatt.
O jornal econômico assegurou que os textos que ampliam os poderes dos que cada vez mais se parece com um "Fundo Monetário Europeu" foram redigidos de tal forma que o Parlamento, tradicionalmente soberano em matéria orçamentária na Alemanha, "apenas terá um mero papel de espectador".
O presidente Wulff declarou nesta quarta-feira que "é o Parlamento que deve adotar as decisões, já que é aqui que está a legitimidade".
O mesmo apelo à ordem poderá ocorrer em 7 de setembro por parte do Tribunal Constitucional, que deve anunciar uma decisão muito esperada sobre a primeira ajuda à Grécia da primavera de 2010, e mais amplamente sobre os mecanismos de ajuda na Europa.
Na opinião dos especialistas, os juízes poderão exigir que os procedimentos de ajuda considerem um papel mais importante do Parlamento.