Ameaça de segunda onda de coronavírus faz Europa aumentar restrições
Os números diários de casos na União Europeia e no Reino Unido alcançaram níveis recordes de mais de 45 mil em duas semanas
Estadão Conteúdo
Publicado em 22 de setembro de 2020 às 11h36.
Última atualização em 22 de setembro de 2020 às 11h48.
Depois de conter com sucesso o primeiro surto de infecção e mortes, a Europa está agora no meio de uma segunda onda de coronavírus enquanto se aproxima do inverno - levantando questões sobre o que deu tão errado. O continente hoje registra mais casos de covid-19 que em março e abril, nos piores momentos da pandemia.
Os números diários de casos na União Europeia e no Reino Unido nesta semana alcançaram níveis recordes de mais de 45 mil em uma taxa de notificação de 14 dias, de acordo com o Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças (ECDC), e novas restrições estão sendo impostas em locais que estavam em plena reabertura.
Em março e abril o continente viveu o descontrole total de casos e óbitos. A partir de maio, a reabertura gradual. E agora, o número de casos volta a crescer, obrigando autoridades a impor novamente medidas de distanciamento social em algumas regiões, como a capital da Espanha.
De acordo com a OMS, houve 5 milhões de casos confirmados e mais de 228 mil mortes em toda a Europa desde o início da pandemia.
Segundo a Organização Mundial da Saúde ( OMS ), a Europa se vê diante de um cenário "alarmante". De leste a oeste, países endurecem suas restrições para tentar conter o vírus, buscando evitar a imposição de novas quarentenas nacionais.
A Espanha registrou, na segunda-feira, 21, inéditas 11,2 mil infecções, enquanto na França , os casos diários se aproximaram de 10,6 mil. Na Inglaterra , os novos diagnósticos praticamente dobraram em uma semana. Países da Europa Central e Oriental, menos afetados na primeira onda, agora também veem um aumento das infecções.
Os motivos para a aceleração atual são diversos, mas vinculam-se à retomada das atividades após o fim dos lockdowns, entre maio e junho. Como o vírus nunca deixou de circular, bastou um relaxamento para que as taxas de infecção voltassem a crescer.
Em meio ao aumento no número de casos de covid-19, países europeus receberam uma advertência da OMS e já começam a discutir novas quarentenas frente ao temor de uma possível segunda onda da doença.
Segundo Hans Kluge, diretor regional da OMS para a Europa, o número de novos casos dobrou em mais da metade dos Estados-membros do bloco.
Falando de Copenhague, na Dinamarca, ele disse que 300 mil novas infecções foram registradas em toda a Europa somente na semana passada e que os casos semanais excederam os relatados durante o primeiro pico em março.
Em sua visão, isso deveria servir de "alerta para todos nós". "Temos uma situação muito séria diante de nós", afirmou Kluge.
O cenário é grave, mas diferente do que ocorria há seis meses: o aumento no número diagnósticos foi possível por causa do aumento do número de testes, coisa que não ocorria no ápice da pandemia, quando faltava equipamentos e os hospitais estavam sobrecarregados.
O número de mortes e internações cresce em ritmo mais lento que no início do ano. Ao redor do mundo, cerca de 30 milhões de casos de covid-19 foram confirmados. Mais de 965 mil pessoas morreram.
"Embora esses números reflitam testagens mais abrangentes, eles também mostram taxas alarmantes de transmissão em toda a região" disse ele a jornalistas. As admissões e mortes em hospitais ainda não tiveram um aumento semelhante, embora a Espanha e a França estejam observando uma tendência de aumento.
Embora as pessoas mais jovens - que têm menos probabilidade de serem gravemente afetadas se forem infectadas - atualmente representem a maior proporção dos casos de covid registrados recentemente, há temores de muitos mais casos de doenças graves se o vírus se espalhar entre idosos e pessoas mais vulneráveis.
Para evitar uma nova paralisação da economia e confinamentos como os feitos no início da pandemia, que causaram a maior crise econômica no continente desde o fim da 2ª Guerra, governos recorrem a medidas locais, direcionadas, e a campanhas de conscientização sobre a necessidade de se respeitar as diretrizes sanitárias.
A Espanha, mais afetada pela ressurgência do coronavírus, adotou medidas restritivas e pediu ajuda do Exército para combater o coronavírus. Desde segunda-feira, 21, em Madri, um dos polos de transmissão, cerca de 855 mil pessoas só podem sair de casa para trabalhar ou ir à escola, e reuniões estão limitadas a grupos de seis pessoas. No início de julho, o país chegou a registra menos de 300 casos diários de covid-19. Na última sexta, foram mais de 11 mil.
O sucesso do rastreamento e da contenção de casos, contudo, é uma das explicações pela qual a Itália está hoje em uma situação melhor que diversos de seus vizinhos.
No início do ano, o Norte do país, em especial a Lombardia e a Emília-Romanha, foi epicentro global da pandemia, mas o vírus não se espalhou com tanta força pelo resto da Península Itálica
Em território britânico, onde o número de internações dobra a cada oito dias, o governo já considera uma segunda onda inevitável. O plano do premiê Boris Johnson é testar 10 milhões de pessoas por dia até o início de 2021, mas tem dificuldades para lidar com sua carga atual, 40 vezes menor. Hoje, a saturação é tanta que amostras são enviadas para laboratórios no exterior.
A partir desta terça, 22, novas restrições serão aplicadas em áreas do Centro e do Norte da Inglaterra e na Irlanda do Norte. Um lockdown nacional, segundo o ministro da Saúde, Matt Hancock, é a opção derradeira para o país, que registra mais de 41 mil mortes por Covid-19, o maior número do continente, e 388 mil casos.
Na França, apesar do aumento significativo dos diagnósticos, o número de óbitos diários está ao redor de 30 - em seu ápice, passava de mil. Ainda assim, reuniões com mais de 10 pessoas foram banidas em Nice, e o funcionamento dos bares foi restrito.