Em vez de turbinar o sucesso da Airbus, como era esperado, o A380, novo jato de passageiros da empresa, considerado o maior do mundo, corre o risco de afundar o consórcio europeu. Nesta semana a Airbus anunciou um atraso de sete meses na entrega da aeronave, que tem previsão de iniciar operações no próximo ano. Como resultado, o valor das ações da EADS - o consórcio europeu ao qual a Airbus pertence - caiu 26% em um único dia (14/6), provocando uma desvalorização de 5,5 bilhões de euros, segundo reportagem da revista The Economist.

O mercado reagiu mal ao anúncio da Airbus especialmente porque a empresa já havia adiado seu prazo de entrega em seis meses no ano passado. A companhia culpou problemas na instalação da rede elétrica do sistema de entretenimento da aeronave pelo atraso. A empresa reconheceu que o ataso vai custar 500 milhões de euros por ano em perda de lucro entre 2007 e 2010.

Diante de questionamentos dos acionistas - muitos pedindo uma investigação sobre o caso - os diretores da EADS negam que tenham feito algo errado. As cobranças começaram quando vazou a notícia de que o segundo principal executivo da empresa, Noel Forgeard, e outros funcionários haviam vendido ações da EADS em março. Com a queda das ações nesta semana, muitos acionistas manifestaram descontentamento com a maneira com que foram informados sobre a situação da empresa. Forgeard disse que ficou sabendo dos problemas em abril, mas acreditava que as dificuldades seriam superadas.

A Airbus apostou alto no sucesso do seu superjumbo. Mas mesmo antes do último atraso, o ritmo das encomendas já havia diminuído. Até agora, há compradores para 159 aeronaves, número bem abaixo do necessário para que a companhia possa cobrir os custos de desenvolvimento do projeto, em torno de 12 bilhões de euros.

Apesar da lentidão na procura pela nova aeronave, a Airbus eventualmente conseguirá encomendas suficientes para cobrir seus custos. Há outros problemas, porém. As indústrias da Airbus estão tão sobrecarregadas que qualquer encomenda do A380 agora teria de esperar pelo menos seis anos pela entrega - uma demora que, compreensivelmente, afasta possíveis compradores.

Tanto a Airbus quanto sua arqui-rival americana, a Boeing, estão operando com carga total devido a uma demanda sem precedentes por aviões de passageiros. Em 2005 essas empresas receberam um número recorde de encomendas de mais de 2 mil novas aeronaves. Depois de alguns anos na liderança, no entanto, a Airbus perdeu espaço para a Boeing. A americana deverá ultrapassar a Airbus em encomendas e valor de mercado neste ano.

A crise enfrentada pela Airbus pode ser ilustrada pela reação da Singapore Airlines, a primeira a fazer uma grande encomenda de superjumbos. Com a queda das ações da empresa européia, a operadora asiática encomendou 20 novos 787 Dreamliners da Boeing, a um preço de 4,5 bilhões de dólares. Além disso, assim como outros clientes, a Singapore Airlines irá exigir compensações pelo atraso na entrega da Airbus.