Esta seria a segunda vez que o governo da África do Sul impede a entrada do Prêmio Nobel da Paz de 1989 no país (Nicholas Kamm/AFP)
Da Redação
Publicado em 30 de setembro de 2011 às 10h29.
Johanesburgo - Vários grupos defensores dos direitos humanos da África do Sul denunciaram em um comunicado nesta sexta-feira, que o governo sul-africano negará o visto ao Dalai Lama, líder espiritual do Tibete, para não atrapalhar as relações do país com a China.
Os ativistas afirmam que o governo está retardando de forma proposital a concessão da permissão de entrada no país para impedir a visita do Dalai lama, convidado pelo arcebispo Desmond Tutu para seu aniversário de 80 anos, no próximo dia 7 de outubro.
"Achamos que a entrada no país de Sua Santidade o Dalai Lama está sendo impedida por razões políticas que nada têm a ver com a Constituição e os valores que ela defende", afirmou em comunicado a organização "Let him in - Now!" (Deixa que ele entre, agora!), liderada pela Fundação Desmond Tutu.
Este grupo fez um pedido aos cidadãos da África do Sul e de todo o mundo que condenem a posição do governo sul-africano e mostrem seu desacordo através de manifestações pacíficas na África do Sul e na frente das embaixadas do país no mundo.
A primeira manifestação acontecerá segunda-feira na Cidade do Cabo contra o Parlamento sul-africano, informou Sharleen Mukadam, porta-voz da organização.
O grupo de defesa dos direitos humanos "Human Rights Watch" emitiu na quinta-feira um comunicado na mesma linha, no qual denunciou que "a omissão do Governo da África do Sul a emitir o visto para o Dalai Lama não tem base objetiva e responde ao medo de desagradar o Governo chinês".
Em entrevista publicada nesta sexta-feira pela revista "Mail and Guardian", o arcebispo emérito da Cidade do Cabo e prêmio Nobel da Paz de 1984, Desmond Tutu, mostrou sua tristeza pelo comportamento do Governo.
"É improvável que lhe deem o visto. Se fossem fazê-lo, já teriam feito. Acho que estão retardando o processo para que o povo não possa protestar", afirmou Tutu.
A China é um dos principais parceiros comerciais da África do Sul. Na quinta-feira, após a visita do vice-presidente sul-africano, Kgalema Motlanthe, a Pequim, foram assinados acordos de exportação de alimentos, matérias-primas e automóveis com o país asiático.
O porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China, Hong Lei, expressou na terça-feira a oposição de Pequim à emissão de um visto para que Dalai Lama entre na África do Sul, já que consideram uma afronta e uma "atividade separatista" a visita do líder religioso a qualquer país que mantenha vínculos diplomáticos com a China.
O Governo da África do Sul estuda a permissão da entrada desde junho, quando a Fundação Desmond Tutu iniciou os trâmites da solicitação.
Entretanto, o porta-voz do Departamento de Relações Internacionais da África do Sul, Clyson Monyela, afirmou nesta sexta-feira à Agência Efe que o visto não foi rejeitado e que o processo continua aberto.
Já o escritório do Dalai Lama em Pretória afirmou à Efe que ainda não receberam notícia alguma sobre a solicitação.
Se a recusa for confirmada, seria a segunda vez que o Governo da África do Sul impede a entrada do Prêmio Nobel da Paz de 1989 no país. Em 2009, o Governo presidido por Jacob Zuma rejeitou a entrada do líder espiritual convidado a participar de uma conferência.
O governo da China acusa o Dalai Lama, exilado na Índia desde 1959, de defender a independência do Tibete, região do Himalaia e antigo território chinês.