Otan: encontro está marcado para os dias 11 e 12 de junho em Vilna, capital da Lituânia. (Sean Gallup/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 10 de julho de 2023 às 11h14.
Após um encontro histórico no ano passado em Madrid em que os países que fazem parte da Otan reconheceram a Rússia como “a ameaça mais significativa e direta à segurança dos aliados da organização”, a aliança militar se junta novamente para seu encontro anual com pautas que seguem travadas após a invasão russa na Ucrânia.
Sem um consenso sobre como a entrada da Ucrânia na Otan deve ser feita, os países-membros devem concordar em mais garantias de segurança para Kiev e uma admissão mais rápida após o fim da guerra. Com os tramites travados por Turquia e Hungria, a admissão da Suécia também deve ser pauta do encontro, assim como um novo plano para reforçar a segurança dos países da organização que estão geograficamente mais próximos da Rússia.
O encontro anual de líderes dos países da Otan está marcado para os dias 11 e 12 de junho em Vilna, capital da Lituânia. O país báltico faz fronteira com a Rússia e é um dos principais apoiadores de Kiev, junto com as outras nações bálticas, Estônia e Letônia.
“O objetivo é mostrar que o encontro está acontecendo muito próximo da Ucrânia. E tem o simbolismo de ser na Lituânia, país que já sofreu diversas intimidações da Rússia e busca novas garantias de segurança para se defender da Rússia”, aponta a professora da Universidade de Vilna, na Lituânia, Dovile Jakniunaite.
Apesar do forte apoio militar e financeiro da aliança a Ucrânia, os membros da organização divergem sobre como o país será admitido na Otan. Para membros como a Polônia e os países bálticos, que fazem fronteira com a Rússia, Kiev já se provou no campo de batalha e seu conhecimento militar em decorrência da guerra contra Moscou poderia servir bem a Otan em caso de novos conflitos com a Rússia. Já países como Estados Unidos e Alemanha são mais cautelosos em relação aos planos de entrada da Ucrânia e preferem um processo mais gradual.
“A Ucrânia realmente se provou no campo de batalha e pode contribuir com muito conhecimento militar sobre as operações russas. Seria muito benéfico para a Otan como um todo. Obviamente não é fácil e especialmente não podemos fazer isso enquanto estamos em guerra”, avalia Kotryna Jukneviciute, analista de defesa da Rand Corporation, um centro de pesquisa americano especializado no setor de defesa.
A Otan também gostaria de anunciar antes do encontro a entrada da Suécia na aliança militar. A aprovação de Estocolmo como o 32° integrante da aliança militar precisa ser feita por todos os países que estão na Otan. Contudo, Turquia e Hungria ainda não deram o aval, apesar de negociações feitas ao longo do mês de junho.
Apesar de não existir um consenso, os membros da Otan devem oferecer garantias de segurança para os ucranianos na reunião em Vilna. De acordo com o jornal The New York Times, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, apresentou ao presidente americano, Joe Biden, uma proposta de compromisso da Otan que seria apresentada a Kiev. Segundo a proposta, a Ucrânia não passaria pelo plano de adesão da Otan, que afirma que um país que quer entrar na aliança militar precisa fazer reformas militares e democráticas com a fiscalização da Otan para que a adesão possa ser concretizada.
As relações com Kiev também devem ser elevadas de uma Comissão para um Conselho, nível mais alto de integração. Stoltenberg também afirmou que a aliança militar quer realizar o primeira conferencia do Conselho Otan-Ucrânia em Vilna, com a presença do presidente ucraniano Volodmir Zelenski.
As medidas não devem ser consideradas suficientes para os países bálticos e a Polônia, que querem que Kiev entre na Otan o mais rápido possível. Os bálticos vêm sofrendo com tentativas de sabotagem, espionagem e intimidação por parte dos russos ao longo dos últimos anos e especialistas acreditam que os países poderiam ter sido invadidos pela Rússia caso não tivessem aderido a União Europeia e a Otan em 2004, principalmente pela quantidade significativa de minorias russas nestes países.
Já a Polônia já expressou o desejo de que a aliança militar posicione armas nucleares americanas no território de Varsóvia. A manifestação polonesa ocorre após a instalação de ogivas russas em Belarus, que faz fronteira com a Polônia.
“Muitos ficaram surpresos com a invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022. Os que menos se surpreenderam foram os vizinhos mais próximos da Rússia, que talvez entendam a mentalidade estratégica de Moscou melhor do que outros países. Há uma forte crença de que se a Rússia tiver sucesso na Ucrânia, eles serão os próximos”, aponta Robbie Gramer, analista da Foreign Policy.
Washington tem uma posição diferente e se mostra contrário a entrada de Kiev na aliança militar durante a guerra.
“Ter um novo membro da Otan resulta em um compromisso de defesa coletiva. Então por mais que exista um lobby forte de Kiev e das nações bálticas, é difícil ter um comprometimento tão forte durante uma guerra. Se a Ucrânia entrar na aliança, isso significa que tropas americanas serão enviadas para lutar e morrer para defender o país e esse é um grande compromisso que os Estados Unidos sinalizaram que não estão preparado neste momento”, avalia Gramer.
De acordo com o artigo 5 da Otan, caso um país-membro da organização seja atacado, todos os membros devem se mobilizar para a defesa do território.
Para Jukneviciute, os Estados Unidos avaliam que uma sinalização favorável a entrada da Otan neste momento poderia levar o presidente da Rússia, Vladimir Putin, a congelar o momento vigente da guerra na Ucrânia. “Caso a cúpula apresente um cronograma para a entrada de Kiev na aliança militar, Moscou poderia prolongar a guerra para impedir a entrada da Ucrânia”, acrescenta a especialista.
Outra questão do encontro é a entrada da Suécia na Otan, que está sendo travada pela Turquia e Hungria. Em Ancara, o clima não é de otimismo com o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, sinalizando que a aprovação do país ainda deve demorar. Em Junho, membros da Otan, Suécia e Turquia conversaram para tentar convencer Erdogan a mudar de ideia. A Turquia quer uma postura mais dura em relação a ativistas pró-curdos e membros de um grupo religioso ilegal que a Turquia considera terroristas.
No mês passado, o governo da Suécia autorizou um pedido da Turquia para extraditar um cidadão turco apoiador do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). Estocolmo também anunciou a aplicação de leis antiterrorismo mais duras, em uma tentativa de agradar Erdogan.
“Já vimos a Turquia fazer isso no passado. Erdogan gosta de aparecer e no último minuto fazer um grande gesto. Então talvez isso aconteça novamente”, avalia a analista da Rand Corporation.
Estocolmo rompeu a sua tradição de neutralidade junto com a Finlândia ao formalizar o desejo de entrar para a Otan. Helsinque se juntou a aliança em abril, aumentando ainda mais a fronteira da organização militar com a Rússia.
Budapeste apoiou as reivindicações da Turquia para que Estocolmo entrasse na Otan e apesar de ter aberto negociações com a Suécia ainda não se decidiu sobre a aprovação. O parlamento húngaro já adiou a decisão sobre o tema em diversas oportunidades. O governo do primeiro-ministro húngaro, Viktor Órban, alegou que os políticos suecos contaram “mentiras flagrantes” sobre a condição da democracia húngara.
Washington e outros países europeus tem feito pressão para que a Suécia seja aceita na Otan. O primeiro-ministro do país nórdico, Ulf Kristersson, se reuniu com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na Casa Branca, na semana passada. Conversas entre o secretário-geral da Otan, Jans Stoltenberg, e autoridades de Suécia e Turquia também ocorreram antes da Cúpula anual da Otan.
A cúpula da Otan também deve anunciar novas estratégias de defesa para melhorar a segurança dos países-membros, principalmente na fronteira da aliança militar com a Rússia, que passou a ter 1.300 quilômetros após a admissão da Finlândia.
A Otan deve fazer uma reformulação do sistema de planejamento da organização. Em uma coletiva de imprensa, o Presidente do Comitê Militar da Otan, o almirante Rob Bauer afirmou aos repórteres que cerca de 40 mil soldados estão de prontidão no norte da Estônia até a Romênia, no Mar Negro. Cerca de 100 aeronaves voam naquele território todos os dias, e um total de 27 navios de guerra operam nos mares Báltico e Mediterrâneo. Esses números devem aumentar.
Sob seus novos planos, a Otan pretende ter até 300 mil soldados prontos para se deslocar para seu flanco oriental dentro de 30 dias.