A história da atleta olímpica que morreu no Mar Mediterrâneo
Enquanto o mundo se prepara para mais uma Olímpiada, a Somália lembra a vida de Samia Omar, ex-atleta olímpica que perdeu a vida na travessia do Mediterrâneo
Gabriela Ruic
Publicado em 4 de agosto de 2016 às 12h16.
São Paulo – Enquanto o mundo se prepara para comemorar mais uma edição dos Jogos Olímpicos , desta vez no Rio de Janeiro, a Somália lembra a vida de Samia Yusuf Omar, uma de suas poucas atletas olímpicas que morreu em 2012 ao tentar atravessar o Mar Mediterrâneo em busca de uma vida melhor e um técnico na Europa.
Samia fez parte da minúscula delegação somali que participou dos Jogos de Pequim , em 2008. No atletismo, ela participou da prova dos 200 metros rasos e terminou em último lugar. Pela sua resiliência e determinação, foi aplaudida com louvor pela plateia que esperou que ela terminasse a corrida, mesmo tanto tempo depois das primeiras colocadas.
Sua vida, como a de milhares de somalis nascidos nas últimas décadas, não foi fácil. Arrasado pela violência de uma longa guerra civil e ações terroristas, o país é palco de uma das mais graves crises humanitárias no mundo, responsável por causar o deslocamento interno de milhões de pessoas e por gerar um altíssimo número de refugiados espalhados por toda a África.
Samia nasceu no interior do país em 1991 e treinou de maneira quase que amadora para o evento na China, enfrentando a ira de militantes extremistas que acreditavam que mulheres não deveriam praticar esportes. De acordo com um perfil sobre a atleta feito pela BBC na época, era xingada enquanto corria pelas ruas da capital Mogadíscio.
Ainda assim, Samia não se deixou intimidar, graças ao apoio de sua mãe, que também fora atleta na juventude. Sabia das dificuldades que teria pelo caminho e como o seu desempenho não era compatível com o nível de atletas como a jamaicana Verônica Campbell-Brown, que levaria o ouro naquela prova em Pequim .
Não ligo de não vencer agora, disse ela na época para a BBC, mas estou feliz de representar o meu país nesse grande evento e na prova dos 200 metros rasos. Acho que estou no caminho de um futuro brilhante, finalizou a jovem então com 16 anos.
Pós-Olimpíada
Ao retornar para a Somália, Samia estava decidida a buscar melhores condições para treinar. Deixou então seu país, que vivia momentos de tensão por conta do fortalecimento do grupo terrorista Al-Shabaab, e se mudou para a Adis Abeba, na Etiópia .
A jornalista Theresa Krug, da rede de notícias Al-Jazeera, entrevistou a atleta várias vezes. Em um desses encontros depois dos Jogos em Pequim, a atleta estava orgulhosa de si, usando um par de tênis velhos, doados de suas colegas do Sudão. Na época, ela tentava conseguir um lugar para treinar com o ex-medalhista olímpico Eshetu Tura, bronze em 1980 na Rússia.
Em 2012, meses antes das Olimpíadas de Londres e depois de passar pelo Sudão, Samia chegou na Líbia, um ponto de partida de milhares de refugiados e imigrantes que desejam realizar travessia do Mar Mediterrâneo. Uma rota perigosa, cujas águas já deixaram mais de 11 mil mortos. Queria buscar um técnico na Itália.
Segundo um jornal italiano, a embarcação em que Samia viajava ficou sem combustível. Um navio da marinha do país resgatou algumas das pessoas que viajavam com a atleta e que relataram que a somali não conseguiu segurar a corda jogada pelos guardas em sua direção. Depois de nadar por um tempo, eventualmente afundou. Estava com 21 anos.
Homenagem
A incrível história da vida de Samia virou uma história em quadrinhos nas mãos do consagrado desenhista alemão Reinhard Kleist. Em An Olympic Dream, lançado no ano passado, Kleist conta detalhes da jornada da atleta até a fatídica notícia da sua morte. O livro está disponível em alemão, inglês e francês e pode ser encontrado para venda em sites como Amazon.
Somália nas Olimpíadas
O país participa do evento desde 1972, mas sempre com uma delegação modesta. Em 2008, nos Jogos de Pequim, não foi diferente. Na ocasião, era formada por Samia e pelo corredor Abdinasir Said Ibrahim. A edição chinesa dos Jogos contou com 11 mil atletas de 204 países.
No Rio de Janeiro, o país também contará com dois atletas, Mohamed Mohamed e Maryan Nuh Muse e que também vão competir nas provas de atletismo.
O vídeo abaixo mostra o momento em que a delegação do país entrou no Estádio Nacional de Pequim em 2008 e, em seguida, outro vídeo mostra a última prova feita por Samia naquele evento. Esses são dois dos poucos registros disponíveis da atleta.
https://youtube.com/watch?v=gNsKwMYsXOM%3Frel%3D0%26controls%3D0%26showinfo%3D0
https://youtube.com/watch?v=4E1O_2BOt1c%3Frel%3D0%26controls%3D0%26showinfo%3D0
São Paulo – Enquanto o mundo se prepara para comemorar mais uma edição dos Jogos Olímpicos , desta vez no Rio de Janeiro, a Somália lembra a vida de Samia Yusuf Omar, uma de suas poucas atletas olímpicas que morreu em 2012 ao tentar atravessar o Mar Mediterrâneo em busca de uma vida melhor e um técnico na Europa.
Samia fez parte da minúscula delegação somali que participou dos Jogos de Pequim , em 2008. No atletismo, ela participou da prova dos 200 metros rasos e terminou em último lugar. Pela sua resiliência e determinação, foi aplaudida com louvor pela plateia que esperou que ela terminasse a corrida, mesmo tanto tempo depois das primeiras colocadas.
Sua vida, como a de milhares de somalis nascidos nas últimas décadas, não foi fácil. Arrasado pela violência de uma longa guerra civil e ações terroristas, o país é palco de uma das mais graves crises humanitárias no mundo, responsável por causar o deslocamento interno de milhões de pessoas e por gerar um altíssimo número de refugiados espalhados por toda a África.
Samia nasceu no interior do país em 1991 e treinou de maneira quase que amadora para o evento na China, enfrentando a ira de militantes extremistas que acreditavam que mulheres não deveriam praticar esportes. De acordo com um perfil sobre a atleta feito pela BBC na época, era xingada enquanto corria pelas ruas da capital Mogadíscio.
Ainda assim, Samia não se deixou intimidar, graças ao apoio de sua mãe, que também fora atleta na juventude. Sabia das dificuldades que teria pelo caminho e como o seu desempenho não era compatível com o nível de atletas como a jamaicana Verônica Campbell-Brown, que levaria o ouro naquela prova em Pequim .
Não ligo de não vencer agora, disse ela na época para a BBC, mas estou feliz de representar o meu país nesse grande evento e na prova dos 200 metros rasos. Acho que estou no caminho de um futuro brilhante, finalizou a jovem então com 16 anos.
Pós-Olimpíada
Ao retornar para a Somália, Samia estava decidida a buscar melhores condições para treinar. Deixou então seu país, que vivia momentos de tensão por conta do fortalecimento do grupo terrorista Al-Shabaab, e se mudou para a Adis Abeba, na Etiópia .
A jornalista Theresa Krug, da rede de notícias Al-Jazeera, entrevistou a atleta várias vezes. Em um desses encontros depois dos Jogos em Pequim, a atleta estava orgulhosa de si, usando um par de tênis velhos, doados de suas colegas do Sudão. Na época, ela tentava conseguir um lugar para treinar com o ex-medalhista olímpico Eshetu Tura, bronze em 1980 na Rússia.
Em 2012, meses antes das Olimpíadas de Londres e depois de passar pelo Sudão, Samia chegou na Líbia, um ponto de partida de milhares de refugiados e imigrantes que desejam realizar travessia do Mar Mediterrâneo. Uma rota perigosa, cujas águas já deixaram mais de 11 mil mortos. Queria buscar um técnico na Itália.
Segundo um jornal italiano, a embarcação em que Samia viajava ficou sem combustível. Um navio da marinha do país resgatou algumas das pessoas que viajavam com a atleta e que relataram que a somali não conseguiu segurar a corda jogada pelos guardas em sua direção. Depois de nadar por um tempo, eventualmente afundou. Estava com 21 anos.
Homenagem
A incrível história da vida de Samia virou uma história em quadrinhos nas mãos do consagrado desenhista alemão Reinhard Kleist. Em An Olympic Dream, lançado no ano passado, Kleist conta detalhes da jornada da atleta até a fatídica notícia da sua morte. O livro está disponível em alemão, inglês e francês e pode ser encontrado para venda em sites como Amazon.
Somália nas Olimpíadas
O país participa do evento desde 1972, mas sempre com uma delegação modesta. Em 2008, nos Jogos de Pequim, não foi diferente. Na ocasião, era formada por Samia e pelo corredor Abdinasir Said Ibrahim. A edição chinesa dos Jogos contou com 11 mil atletas de 204 países.
No Rio de Janeiro, o país também contará com dois atletas, Mohamed Mohamed e Maryan Nuh Muse e que também vão competir nas provas de atletismo.
O vídeo abaixo mostra o momento em que a delegação do país entrou no Estádio Nacional de Pequim em 2008 e, em seguida, outro vídeo mostra a última prova feita por Samia naquele evento. Esses são dois dos poucos registros disponíveis da atleta.
https://youtube.com/watch?v=gNsKwMYsXOM%3Frel%3D0%26controls%3D0%26showinfo%3D0
https://youtube.com/watch?v=4E1O_2BOt1c%3Frel%3D0%26controls%3D0%26showinfo%3D0