4 suspeitos serão julgados pelo ataque ao voo MH17 que caiu na Ucrânia
O avião da Malaysia Airlines caiu em 2014, após ser atingindo por um míssil identificado como russo, e matou todos os 283 passageiros
AFP
Publicado em 19 de junho de 2019 às 10h57.
Última atualização em 19 de junho de 2019 às 11h39.
Três russos e um ucraniano serão julgados por assassinato na Holanda pela ação que derrubou um avião de passageiros em 2014 no leste da Ucrânia , um ataque com míssil russo - anunciou, nesta quarta-feira (19), a equipe que investiga o caso.
Os acusados são os russos Serguei Dubinski, Igor Guirkin e Oleg Pulatov, além do ucraniano Leonid Jarchenko.
"Hoje entregamos as ordens de prisão internacionais para os primeiros suspeitos. Também estarão nas listas nacionais e internacionais de pessoas procuradas. Por isto, anunciamos os nomes completos e publicamos suas fotos", afirmou o chefe de polícia da Holanda, Wilbert Paulissen, em uma entrevista coletiva.
O procurador Fred Westerbeke explicou que os "quatro são acusados de transportar o sistema (de mísseis antiaéreos) BUK para o leste da Ucrânia".
Os investigadores afirmam que este sistema foi utilizado para lançar o míssil que, em 17 de julho de 2014, derrubou um Boeing da Malaysia Airlines quando sobrevoava o leste da Ucrânia. O território é palco de um conflito armado entre separatistas pró-Rússia e forças ucranianas.
Os 283 passageiros do voo MH17, incluindo 196 holandeses, assim como os 15 membros da tripulação, morreram na tragédia.
"Os quatro suspeitos são levados a julgamento, em primeiro lugar, porque provocaram o acidente com o voo, que teve como consequência a morte de todos os passageiros do avião. Em segundo lugar, pelo assassinato das 298 pessoas a bordo", explicou o procurador.
Rússia não extradita
Um dos suspeitos, Igor Guirkin, negou nesta quarta-feira qualquer envolvimento dos separatistas ucranianos pró-Rússia.
"Tudo que posso dizer é que o Boeing não foi derrubado pelos rebeldes", afirmou o russo, que era um dos líderes da rebelião separatista na época do acidente. Também informou que não pretende prestar depoimento.
Silene Fredriksz, que perdeu o filho e a nora na queda do voo MH17, declarou estar satisfeita com o anúncio do julgamento.
"É um início", disse ela.
Ao ser questionada sobre quem era o responsável, ela respondeu com o nome do presidente russo, Vladimir Putin, "porque ele tornou possível, ele é o principal responsável".
Liderada pela Holanda e com representantes de Austrália, Bélgica, Malásia, Holanda e Ucrânia, a equipe internacional de investigação conjunta (Joint Investigation Team, JIT) anunciou em maio de 2018 que o míssil que derrubou o avião era procedente da 53ª brigada antiaérea russa. A base desta brigada fica em Kursk, no oeste da Rússia.
Holanda e Austrália, país que perdeu 38 cidadãos na tragédia, acusaram a Rússia diretamente, após as revelações da JIT. Pela primeira vez, a responsabilidade do ato que derrubou o avião foi imputada diretamente a Moscou, que nega qualquer envolvimento e aponta para a Ucrânia.
A tragédia é uma questão especialmente sensível na Holanda, onde o primeiro-ministro Mark Rutte transformou a busca e o julgamento dos culpados em uma das prioridades de seu mandato.
De modo paralelo, o grupo de investigação jornalística Bellingcat informou que revelará nesta quarta-feira os nomes de "indivíduos relacionados com a destruição do MH17" e destacou que seu trabalho é "totalmente independente e distinto" da investigação oficial.
"Esperamos ter os nomes e as funções dos suspeitos", disse à AFP Piet Ploeg, presidente de uma associação de parentes e que perdeu três familiares no acidente.
Os deputados holandeses ratificaram em 2018 um acordo assinado com a Ucrânia para que os processos judiciais aconteçam na Holanda.
Os acusados também poderiam ser julgados à revelia, pois a Rússia nunca extradita seus cidadãos perseguidos judicialmente no exterior.
A derrubada do MH17 piorou ainda mais as relações entre a Rússia e os países ocidentais, já muito deterioradas após a anexação da península da Crimeia por parte da Rússia em 2014 e pelo conflito no leste com os separatistas. Segundo vários países, estes últimos recebem apoio de Moscou.