São Paulo — Em tempos de Bolsa em alta, investidores estão mais atentos às oportunidades para pechinchar ativos. Uma boa medida para descobrir se a ação de uma empresa está cara ou barata é o quanto os acionistas estão dispostos a pagar pelo patrimônio líquido.
Dito isto, a divisão do preço de uma ação pelo Valor Patrimonial por Ação (P/VPA) é um dos múltiplos mais usados pelos caçadores de descontos ainda não precificados na Bolsa. Quanto mais baixo o P/VPA de uma ação, mais descontado é seu preço. Em outras palavras, o papel está sendo negociado por um preço abaixo do que valeria de fato - a famosa barganha.
Quando esta relação está abaixo de 1, significa que o papel está cotado abaixo do valor patrimonial da empresa. Do mesmo modo, quando a relação é maior que 1, é um indicativo de que a ação pode estar mais cara do que deveria. Os analistas costumam considerar, também, os ativos mais descontados dentro de cada segmento.
A pedido de EXAME, a equipe de research da Ativa Investimentos fez um levantamento exclusivo com as ações mais baratas da Bolsa em cada setor. Segundo os analistas, não se deve considerar apenas um múltiplo para tomar a decisão sobre a compra de ações, de modo que eles são usados apenas como referências.
Veja abaixo quais são as ações mais “baratas” da Bolsa em cada setor:
Setor: Petróleo
- Ação mais descontada: Petrobras (PETR4)
- Preço/Valor patrimonial: 1,12x
- Por que está barata: Comparada a seus pares internacionais (Shell, Total, Exxon, Chevron), a estatal de petróleo brasileira apresenta a melhor relação entre o preço da ação e seu valor patrimonial. No confronto com a PetroRio (PRIO3), concorrente em menor escala nacional, ainda assim a Petrobras sai vitoriosa neste tipo de comparação. “Trata-se sem dúvida de uma empresa, cujos desinvestimentos e otimização operacional, podem levar a um patamar ainda mais salutar”, destaca a equipe de research da Ativa.
Setor: Utilities
- Ação mais descontada: Copel (CPLE6)
- Preço/Valor patrimonial: 0,85x
- Por que está barata: Mesmo com uma despesa operacional superior a seus pares (Alupar, Eneva, Engie, Cemig, Light etc), o time da Ativa chama atenção para o mix de geração, transmissão e distribuição da companhia. A contratação de um banco e escritório de advocacia para vender o controle da Copel Telecom mostra que a empresa tem um enfoque claro e definido. “Seu relativo desconto perante os pares talvez mostre uma desconfiança com o passado da empresa, que vem sendo apagado com contínuas ações de otimização, como redução de custos e diminuição de investimentos”, completa a equipe.
Setor: Varejo de moda
- Ação mais descontada: Lojas Marisa (AMAR3)
- Preço/Valor patrimonial: 1,91x
- Por que está barata: Após conquistar seu espaço no varejo fast fashion, a rede arrumou a casa, mostrando disposição para fechar lojas deficitárias e reestruturar equipes. No entanto, os analistas da Ativa preferem Lojas Renner (LREN3) dentro do setor. “É um dos destaques entre os pares do varejo, mostrando soluções inteligentes e modernas para demandas do dia a dia. Apesar dos múltiplos inflados, a companhia possui excelentes fundamentos que podem ser um bom vetor de captura no novo cenário econômico”.
Setor: Carnes
- Ação mais descontada: JBS (JBSS3)
- Preço/Valor patrimonial: 2,78x
- Por que está barata: A JBS é dona de uma operação extremamente grande, de um portfólio extenso e com marcas fortes e atuação global, o que permite uma diversificação em relação a riscos locais e a captura de um leque de oportunidades, frisou a Ativa. Tem alta exposição ao dólar, tanto pelo faturamento quanto pela dívida. “A empresa está passando por um processo de desalavancagem, desfazendo-se de ativos e reduzindo seu endividamento líquido. A geração de caixa, em relação aos seus pares, juntamente com outros múltiplos do setor, direcionam nossa visão positiva para o ativo”, acrescentaram os analistas.
Setor: Financeiro
- Ação mais descontada: Pine (PINE4)
- Preço/Valor patrimonial: 0,49x
- Por que está barata: O banco diz que trabalha para aumentar sua base de clientes enquanto pulveriza riscos e planeja vender ativos. Embora seja o papel mais descontado do setor, não é o preferido da Ativa, que prefere o Itaú Unibanco (ITUB4) por sua parte operacional, que costuma surpreender. “Apesar de ter uma carteira de crédito já consolidada, o banco continua em expansão”, diz a equipe de research. Com o bom histórico de rentabilidade, mesmo após trimestres decepcionantes, o time acredita que o banco pode retomar seus múltiplos hoje depreciados com maior facilidade.
Setor: Shoppings
- Ação mais descontada: Alliansce – Sonae (ALSO3)
- Preço/Valor patrimonial: 0,81x
- Por que está barata: Após a crise econômica, as ações dos shoppings ficaram um bom tempo sem chamar atenção e a Alliansce Sonae está entre as possível ações negociadas abaixo de seu valor real. No entanto, a Ativa prefere os papéis da BrMalls, que passa por uma readequação no portfólio, buscando resultados mais rentáveis. “Com a venda de participações em mais sete ativos não core, confiamos em sua estratégia”, defende a equipe da corretora.. Destaca-se também a parceria com o Mercado Livre com soluções de marketplace, integrando os negócios físico e digital.
Setor: Siderurgia
- Ação mais descontada: Usiminas (USIM5)
- Preço/Valor patrimonial: 0,63x
- Por que está barata: A recuperação econômica, a crise da Argentina e a maior aversão ao risco, sobretudo nos mercados siderúrgicos, pautam mais do que nunca o futuro da empresa à dinamicidade da economia brasileira, aponta a Ativa. “Existe um hiato entre os preços de aço praticados pela empresa e pelo mercado externo e que pode ser melhor explorado”. Os analistas esperam um súbito aumento do capital de giro este trimestre e índices normalizados a partir do próximo balanço. “Ressaltamos que o papel progredirá em correlação positiva à produtividade no cenário nacional”.
Setor: Mineração
- Ação mais descontada: Vale (VALE3)
- Preço/Valor patrimonial: 1,46x
- Por que está barata: Comparada a seus pares internacionais (Rio Tinto e BHP), a Vale é a mais descontada no momento. Segundo a Ativa, a retomada da produção nas minas de Brucutu e Vargem Grande cria condições para a companhia retomar os níveis habituais de produção. “A assunção da quase totalidade dos impactos de Brumadinho deve eximir o próximo balanço de efeitos não recorrentes”, ressaltam os analistas, que não acreditam em uma tarifação extra proposta na CPI de Brumadinho. “O risco de médio/longo prazo está montado na estabilização da oferta de suas concorrentes e por conseguinte, na queda do preço do minério, algo que não acreditamos que ocorrerá no curto prazo”, finaliza o time da corretora.