Campanha eleitoral americana ganha nova narrativa após atentado e foto de Trump
Em boa medida, a política é um jogo semiótico, uma batalha de signos e representações
Redação Exame
Publicado em 17 de julho de 2024 às 20h14.
*Por Gabriel Rossi, sociólogo, pesquisador e professor de comunicação e semiótica da ESPM
A campanha eleitoral americana de 2024 ganhou uma nova narrativa após a foto viral do ex-presidenteDonald Trump, momentos após o atentado durante um comício na Pensilvânia no último sábado, 13. A imagem , que rapidamente atravessou os Estados Unidos e se espalhou pelo mundo, mostra o candidato republicano sendo erguido por seguranças, punho cerrado, rosto ensanguentado, com uma bandeira americana ao fundo tremulando sob um céu azul, simbolizando uma "vitória" alcançada.
Deveras, a política é, em boa medida, um jogo semiótico, uma batalha de signos e representações. O sociólogo francês Roger-Gérard Schwartzenberg em sua obra seminal “O Estado Espetáculo” (1978) explora quatro arquétipos que podem definir um político, sendo eles: o herói, o homem simples, o pai e o líder-charme.
Trazendo para a história brasileira, podemos mencionar, por exemplo, a figura do herói trabalhada por Fernando Collor em sua campanha de 1989; em um momento no qual o Brasil passava por alta inflação (entre outras mazelas). Com o codinome de “caçador de marajás” e personalidade audaciosa, prometeu passar a limpo o país e alavancá-lo para a prosperidade.
Já Luiz Inácio Lula da Silva emergiu das massas e chegou ao poder (como um homem simples). Getúlio Vargas, que consolidou as leis trabalhistas e todo dia pela manhã falava ao povo pelo rádio – “trabalhadores do Brasil” – era o pai. E Juscelino Kubitschek foi o líder-charme; aquele que, com a sua presença, beleza e carisma, consegue despertar encantamento e persuasão.
O discurso, também alicerçado por imagens, constrói figuras do Estado Espetáculo com o potencial de tocar corações e mentes no jogo do poder. Por esse ângulo, a imagem captada pelo fotógrafo Evan Vucci, durante o atentado contra Trump, eleva o candidato republicano a uma espécie de salvador, homem do triunfo, do braço erguido e do punho cerrado; vitorioso, ele sangra ao derrotar o assassino e recebe o abraço coletivo dos agentes secretos.
Na tomada de câmera baixa, Trump foi alçado, pela perspectiva semiótica, ao personagem do herói; a figura que passa por uma grande provação antes da conquista desejada. Um ser quase divino, sustentado pelo céu azul ao fundo e a bandeira norte-americana. Um salvador que encarna as propriedades do verbo e da ação. Quase um Deus ex machina do teatro, o líder que representa uma forma de ativar a vontade das pessoas de buscarem seus mais altos potenciais.
No palco do espetáculo político, essa imagem, carregada de simbologias, promete conferir uma vantagem competitiva significativa a Trump, podendo influenciar a escolha do próximo mandatário norte-americano. Principalmente, se os democratas não mudarem rapidamente seu candidato ao pleito.