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SBTi: guia para empresas dará consistência em metas de redução de emissões

Em entrevista exclusiva à EXAME, Alberto Pineda, diretor administrativo global e cofundador do Science-Based Targets, explica como novo modelo científico ajudará empresas definirem metas de emissões zero de gases de efeito estufa; documento é lançado poucos dias antes da COP26

Alberto Pineda, diretor da Science Based Targets: um documento padrão deve ajudar a todos em busca de uma solução Net Zero (//Divulgação)

Alberto Pineda, diretor da Science Based Targets: um documento padrão deve ajudar a todos em busca de uma solução Net Zero (//Divulgação)

Marina Filippe

Marina Filippe

Publicado em 28 de outubro de 2021 às 07h00.

Última atualização em 5 de novembro de 2021 às 12h53.

A busca pela redução de emissões de gases de efeito estufa na atmosfera é um desafio de empresas e governos ao redor do mundo, sendo que há poucos padrões sobre como alcançar este objetivo. Para a promoção de um modelo universal, a organização Science-Based Targets (SBTi) lança nesta quinta-feira, 28, a primeira estrutura científica para as empresas definirem metas de emissões zero, o chamado Net Zero.

A EXAME estará na COP26. Acompanhe as novidades em primeira mão

"Tivemos uma explosão no número de companhias comprometidas com o Net Zero, o que é ótimo, mas o que de fato está por trás das metas? Começamos a nos perguntar isto há cerca de três anos quando lançamos um documento e percebemos que havia divergências entre as decisões das empresas e dúvidas sobre quais elementos considerar. Este documento padrão deve ajudar a todos em busca de uma solução em comum”, diz Alberto Pineda, diretor administrativo global e cofundador do SBTi, em entrevista exclusiva à EXAME.

O novo padrão Net Zero do SBTi é a primeira estrutura do mundo para a definição de metas líquidas corporativas de acordo com as ciências climáticas. Ele fornece a orientação e as ferramentas que as empresas precisam para definir metas de emissões zero com base científica.

Por meio do SBTi, as empresas serão capazes de definir metas verificadas e em busca da limitação do aumento de temperatura a 1,5º C, um objetivo com regulamentações ainda indefinidas, o que causa grande expectativa para a Conferência das Partes, a COP26, que ocorre na primeira quinzena de novembro em Glasgow, na Escócia, e tem cobertura in loco da EXAME, mídia parceira oficial da Rede Brasil do Pacto Global. Confira abaixo a entrevista com Pineda.

Como este documento ajudará as empresas em busca do Net Zero?

Este documento nos ajuda a ter certeza de que as metas são consistentes para limitar o aquecimento global em 1.5º C. Para isto, consideramos alguns elementos: o primeiro se refere a percepção de que as companhias são seletivas no que incluem nas metas, com isto, poderemos padronizar mais as informações e incluir tudo o que for necessário.

Em segundo lugar, é preciso garantir que a meta é ambiciosa o suficiente. Por exemplo, há companhias mudando todo o seu modelo de negócio em busca da descarbonização e outras não. Então, o que é preciso fazer de fato? O documento ajudará na construção deste caminho.

Além disso, é necessário um tempo coerente para cumprir as metas. Muitas companhias divulgam planos para 2050, mas precisamos encarrar que devemos diminuir as emissões o mais rápido possível.

Com isto, estamos pensando em ações para os próximos dez anos, por exemplo, com planejamento, acompanhamento e revisões periódicas. E, por fim, em como contabilizar e metrificar as ações, mostrando comprometimento.

Como a COP26 pode amplificar o debate e adesão das empresas?

A COP26 será um importante momento para aumentar a ambição Net Zero e definir metas. Nos últimos anos ganhamos novos objetivos, como com a adesão do Acordo de Paris, quando países responsáveis por 70% do PIB global se comprometeram a zerar suas emissões líquidas de carbono até 2050.

Isto traz confiança para as companhias de que algo precisa mudar, é uma nova economia e com interesse de investidores, consumidores e mais.

Qual o papel do Brasil nestas ações?

O Brasil é um país chave na questão da ação climática por causa da Amazônia. Além disso, é crítico para as companhias que atuam no Brasil ter a certeza de que as metas locais são robustas e terão incentivos para serem alcançadas. Precisamos das companhias juntas para incentivar as mudanças, e há movimentos interessantes no Brasil.

Como colocado pela Ligia Ramos, nossa coordenadora de engajamento da Iniciativa Science Based Targets no Brasil, há um número crescente de companhias engajadas no país, em diferentes setores. Um exemplo dado por ela é da fabricante de papel e celulose Klabin, que divulgou uma meta em maio e passou a incentivar outras companhias.

Quais resultados são esperados com o lançamento do documento modelo?

Há dois aspectos esperados das empresas comprometidas: o primeiro é reforçar a necessidade de agir e ter mais companhias junto ao STBi. O segundo é ver que os setores estão se movendo, pois não podemos zerar as emissões se todos não estiverem juntos. Não há outro caminho.

Com isso, esperamos uma pressão da sociedade, dos investidores e a criação de políticas públicas. O modelo pode ajudar na transformação que precisamos. Os nossos valores são os mesmo antes dele, mas agora ajudam as companhias a terem mais ambições no mundo todo.

O Net Zero será uma realidade?

Acredito que sim e não haverá escolha. Há companhias com metas para 2050 e até aquelas que já realizaram algo nesta década e agora atualizam suas ambições. Lançamos um relatório em janeiro e vamos lançar outro no ano que vem mostrando as evoluções das metas.

No último relatório mostramos que cinco anos após o lançamento do STBi mais de 1.000 empresas já aderiram o sistema, respondendo a um chamado urgente para frearmos o aquecimento global. Em outubro de 2020, por exemplo, 1.040 empresas de 60 países e quase 50 setores, com uma capitalização de mercado combinada de mais de $ 20,5 trilhões de dólares, estavam conosco.

Quais os desafios para chegarmos ao Net Zero?

O tema tem sido um problema e isto é um bom sinal para pressionar políticas públicas e companhias, que antes apenas não ligavam para o tema. Com isto, estamos lidando com mudanças mais aceleradas.

Por exemplo, o setor automobilístico tem companhias competidas com o Net Zero e está promovendo a transição para veículos elétricos. Assim, as companhias estão trabalhando com governos e stakeholders para ter infraestrutura. Este é um modelo de transição economia que deve acontecer em todos os setores.

Há setores com mais desafios?

Muitos setores têm desafios, especialmente com tecnologias e ações de curto prazo, mas isto será temporário, pois todos precisam descarbonizar. A pressão é sem precedente e apresenta grandes oportunidade de crescimento.

Apenas 20% das metas climáticas das empresas do G20 são baseadas na ciência. Como isso poderia melhorar?

É ótimo que 20% da economia já está neste caminho e o movimento está crescendo rapidamente, com as mais de 1.000 empresas em cinco anos. Isto mostra para as outras 80% que há muitos motivos para serem genuinamente Net Zero.

Reforço que este documento auxilia essa transformação ao sugerir padrões e ajudar as companhias a terem mais ambição. Afinal, as mudanças climáticas é um problema de todos.

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