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Os desafios para a evolução dos investimentos ESG, segundo gestores estrangeiros

Indústria aprimora constantemente métricas e modelos, o que torna complexa a discussão sobre greenwashing

Painel ESG na Global Managers Conference, promovida pelo BTG Pactual: debate sobre desafios e evoluções (BTG Pactual/Divulgação)

Marília Almeida

Publicado em 21 de junho de 2022 às 14h14.

Última atualização em 21 de junho de 2022 às 17h10.

Em constante aprimoramento, os investimentos ESG sofrem, de tempos em tempos, acusações de greenwashing, ou seja, apropriação indevida dos temas que envolvem sustentabilidade com o fim de atrair interesse (e dinheiro) para o negócio. Mas a discussão não é tão simples quanto parece.

É o que concluíram gestores estrangeiros no Global Managers Conference, evento promovido pelo BTG Pactual nesta terça-feira, 21.

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Gary Hampton, diretor e especialista em produtos de investimento da MFS, concorda que o greenwashing é um grande problema para que o tema ESG evolua. Contudo, o executivo fez ponderações. "É difícil colocar parâmetros ESG em uma métrica simples. Não queremos apenas aproveitar oportunidades, mas ficar do lado certo. Porém, ainda estamos aprendendo".

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Gillien Diesen, gestora de portfólio de ações temáticas da Pictet AM, reforçou a visão do executivo. "É difícil criar modelos, e a indústria de fundos ainda está aprimorando esses sistemas. Alguns deles chegam a ter nove dimensões, e levam em conta toda a gestão da cadeia logística e de distribuição para conceder a pegada ecológica da companhia".

O maior problema, cita a gestora, é que novas regulações sobre o tema estão sendo afetadas por interesses do mercado. Esses lobbies também interferem em empresas provedoras de dados ESG. "Essses conflitos precisam ser endereçados para que possamos continuar inovando no tema".

Thomas Kamei, diretor executivo do Morgan Stanley, aponta ainda outro desafio: muitas empresas se comprometeram em reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em momento que não sabiam o que era e nem quanto iria custar. "Depois, muitas descobriram que esse processo custa milhares de dólares e, por conta disso, se tornou um grande mercado. Não é simples equacionar isso no negócio".

Investimentos ESG são rentáveis?

Os investimentos ESG ainda geram desconfiança de investidores sobre se são, de fato, rentáveis. Mas Diesen, da Pictet AM, é categórica. "Temos estratégias temáticas relacionadas a nutrição há 12 anos e, à água, há décadas. Elas não cresceriam dessa forma se não fossem rentáveis".

Kamei, do Morgan Stanley, aponta que o banco chegou a um modelo quantitativo concreto, ligado a questões sociais da companhia que mostram que, caso seja evoluído, pode trazer maior rentabilidade para a empresa.

"Concluímos que as 20 empresas mais rentáveis do mercado têm habilidade em reter seus talentos. Ou seja, companhias que tratam melhor seus funcionários registram um melhor desempenho na bolsa ao menos durante 70% do tempo no ano seguinte".

Desde que a equipe de gestão do banco de investimentos fez essa descoberta, Kamei cita que os gestores passaram a questionar frequentemente as empresas sobre se estão acompanhando a evolução do índice, especialmente importante no caso de empresas de tecnologia, nas quais reter talentos é um grande desafio.

Aposta de longo prazo

Diesen, da Pictet AM, aponta que leva tempo para construir confiança e levar clientes a buscarem mudanças. "Por conta disso, queremos ser um parceiro de longo prazo das empresas. Não podemos esperar que mudança acontece da noite para o dia".

Mas ainda que o tema seja uma aposta de anos isso não significa que os gestores ficarão imobilizados durante todo esse tempo, aponta Hampton, da MFS. "Conversamos continuamente com diretores e conselheiros das companhias para verificarmos se de fato estão evoluindo. Caso não estejam, podemos engajar outros gestores a venderem essas ações".

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O executivo complementa que um trader não ligará para questões ESG, mas investidores de longo prazo sim, especialmente os millenials, que já consomem com mais preocupações ambientais e sociais, complementa Kamei, do Morgan Stanley.

"Nos Estados Unidos, essa geração já corresponde à metade da força de trabalho. As empresas precisam despertar para o tema ESG tanto para reter funcionários, fazer com que esse público consuma seus produtos e ganhar novos investidores. Pois tudo indica que devem investir de forma similar à maneira que consomem".

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