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Dólar nas alturas e bolsa em baixa; veja onde investir em 2025

Para a bolsa brasileira, especialistas destacam empresas dolarizadas como uma boa aposta, mas alertam para volatilidade no Ibovespa no curto prazo

Onde investir em 2025: pós-fixados atrelados ao CDI e ao IPCA devem ser uma opção de investimento (Germano Lüders/Exame)

Onde investir em 2025: pós-fixados atrelados ao CDI e ao IPCA devem ser uma opção de investimento (Germano Lüders/Exame)

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 29 de dezembro de 2024 às 07h45.

O mercado no Brasil entra em 2025 em um cenário desafiador. De um lado, o Banco Central (BC) já sinalizou um piso em 14,25% para a Selic em março de 2025. Do outro, o otimismo com a bolsa brasileira do começo do ano não só não se sustentou, como se inverteu por completo.

No começo do ano, diversas casas de investimentos e bancos chegaram a falar em Ibovespa na casa dos 150 mil pontos - agora, ele caminha para fechar no patamar dos 120 mil pontos.

A crise de confiança na sustentabilidade fiscal e, consequentemente, as expectativas inflacionárias, são os principais fatores que impactam a renda variável, dão base para o aumento da Selic e levam o dólar às máximas, com a divisa americana fechando a sessão do dia 18 de dezembro no maior valor histórico, em R$ 6,27.

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Apesar de três propostas do pacote de corte de gastos terem sido aprovadas, elas saem das votações no Congresso com 19 trechos desidratados. E o que já parecia não ser suficiente para controlar as contas públicas, ganha mais desafios pela frente com o pacote “mais magro”.

“Embora haja um compromisso do governo em zerar o déficit primário neste ano, provavelmente eles não vão conseguir, vão ficar na ‘banda’ de baixo do arcabouço, ou seja, um déficit em 0,25 p.p. do Produto Interno Bruto (PIB)”, diz Ricardo Peretti, estrategista de ações do Santander.

O resultado é que a taxa de juros projetada no mercado futuro já se aproxima de 16%. “Isso indica que o mercado reconhece a necessidade de juros mais altos para garantir que a inflação convirja para a meta estabelecida pelo BC”, explica Ronaldo Patah, estrategista de investimentos para o Brasil no UBS Global Wealth Management.

Para os investidores, o refúgio nos pós-fixados pode ser uma alternativa de deixar o Brasil dentro da carteira no ano que vem.

Entre os indexadores, Rafael Mazzer, sócio e head de Portfolio Solutions Brasil do BTG Pactual (mesmo grupo de controle da EXAME), conta que, no momento, a casa projeta uma Selic terminal em 14,75% e a recomendação do banco é investimentos pós-fixados em CDI.

Mas o especialista destaca a alocação neutra em ativos atrelados à inflação. “Hoje tem títulos que pagam IPCA + 7,3% até 2060, o CDI eu não consigo garantir nenhum nível de retorno de hoje para 2060”, afirma.

Nos próximos dois anos, é bem possível que o Brasil vivencie uma aceleração inflacionária relevante, o que pode corroer a remuneração real do CDI. Júlio Ferreira, diretor de alocação do Julius Baer Brasil, também enfatiza que é importante não “alocar tudo no CDI” e ter um componente de indexação à inflação, enfatizando ativos com prazo médio.

No UBS, Patah também abre as estratégias. “Temos alocação acima do neutro em títulos pós-fixados, títulos indexados à inflação e ativos internacionais. Em contraposição, estamos bem abaixo do neutro em títulos pré-fixados. Mantemos o neutro em bolsa, fundos multimercados e fundos imobiliários.”

E a bolsa?

Apesar do ambiente mais desafiador para os ativos de risco, não é que o investidor tenha que ficar totalmente de fora, porque há chances de recuperação. O Santander projeta que o Ibovespa pode alcançar os 145 mil pontos até o final do próximo ano, já assumindo um custo de capital em torno de 16,5% e um crescimento de 10% nos lucros das empresas.

"Parece ousado, mas é factível", afirma Peretti, do Santander, que também atribuiu a realização dessa projeção a uma melhora na percepção fiscal por parte do governo, especialmente no segundo semestre.

Alexandre Reitz, chefe de renda variável do Julius Baer Brasil, chama atenção para o prêmio de risco implícito nas ações, atualmente em cerca de 6,9%, nível considerado elevado em um contexto de juros reais acima de 7%.

"Se houver uma correção de rumo fiscal, os retornos da renda variável podem ser bastante expressivos, mas o investidor precisará suportar a volatilidade", diz Reitz, que recomenda priorizar empresas com modelos de negócios sólidos, baixa alavancagem e resiliência a cenários adversos.

Com o dólar alto, apostar em empresas que têm custo em real e receita dolarizada pode ser uma boa opção – ao mesmo tempo que o sinal de alerta se acende para empresas que têm custo em dólar e provavelmente não conseguirão repassar para os preços.

Mazzer, do BTG, destaca alguns setores relevantes, como as exportadoras, que têm fluxo de caixa em dólar e podem fornecer uma proteção cambial de alguma forma. “Também há uma gama de empresas de utilidade pública que são menos sensíveis à atividade econômica, como geradoras de energia, concessionária de água, porto, aeroporto e rodovia.”

Entre alguns nomes, Peretti cita a JBS, empresa líder mundialmente em produção de proteína, com mais da metade dos resultados vindo dos EUA, Embraer, que tem atuação global, WEG, em que cerca de 60% da receita vem em dólar.

“Já as de perfil mais resiliente, que comprovadamente conseguem repassar o aumento dos custos para o preço final sem perder o market share, cito Raia Drogasil, Totvs, Sabesp, e o setor de telecom”, complementa.

Do ponto de vista dos múltiplos, Mazzer também aponta que as ações brasileiras estão historicamente baratas, mas destaca que o fluxo de capital estrangeiro para a bolsa pode continuar limitado devido às incertezas econômicas e políticas. "Tem que ter alocação, eu só acho que deve ser menor pelos desafios, porque pode acontecer alguma mudança que mude essas perspectivas, especialmente do ponto de vista político.”

Com a perspectiva de um primeiro semestre ainda marcado por desafios, incluindo a definição do teto da Selic, a cautela no curto prazo é destacada pelos especialistas, em que os investidores podem encontrar oportunidades em um horizonte de 12 a 24 meses.

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