Os preços que nos fazem sentir mais pobres
Clique nas fotos e veja os reajustes que mais reduziram o poder de compra dos consumidores nos últimos quatro anos
Da Redação
Publicado em 12 de abril de 2012 às 07h36.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 16h24.
São Paulo – Na vida, há duas maneiras de ficar mais pobre: ter uma redução nominal de renda ou ver os preços subirem mais que a própria remuneração. No Brasil, a renda real tem crescido nos últimos anos porque o desemprego anda muito baixo e a maioria das categorias profissionais consegue garantir todos os anos reajustes acima da inflação. O número utilizado como parâmetro para a inflação - seja o IPCA, o IGP-M ou o INPC - é sempre uma média de variações de centenas ou milhares de preços. O problema é que alguns produtos e serviços têm aumentado muito acima da média – e são exatamente esses que nos fazem sentir mais pobres. Segundo cálculos da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que mede a variação da inflação na cidade de São Paulo, atingiu 23,97% nos últimos quatro anos. Isso corresponde a uma inflação pouco superior a 5,5% ao ano – algo que não chega a chocar ninguém. “A inflação em si está sob controle, mas existem alguns reajustes específicos que assustam”, afirma Rafael Costa Lima, coordenador do IPC, da Fipe. Entre os preços que mais subiram estão os estacionamentos. A alta média nos últimos quatro anos foi de 57,42%. As tarifas dos estacionamentos estão sendo pressionadas pela falta de espaço na cidade. Os poucos terrenos disponíveis em áreas centrais foram disputados a tapa pelas empresas do setor imobiliário nos últimos anos. “O estacionamento compete com outros negócios que poderiam ser erguidos em um bom terreno”, diz Lima, da Fipe. Daí a forte alta dos preços.
A gestão de Gilberto Kassab na Prefeitura de São Paulo foi marcada por um aumento espantoso na arrecadação tributária. Em 2008, a cidade arrecadou cerca de 21 bilhões de reais. Já o orçamento deste ano prevê gastos de até 38,7 bilhões de reais. Um dos principais responsáveis por forrar o cofre da prefeitura foi o IPTU (Imposto Predial Territorial Urbano), pago por boa parte dos donos de imóveis na cidade. Segundo a Fipe, o IPTU subiu 56,10% nos últimos quatro anos.
O serviço que mais encareceu nos últimos quatro anos foi o de lavagem de veículos. A alta, de 67,38%, não pode ser explicada pelo reajuste da tarifa da água na cidade de São Paulo. Segundo Rafael Costa Lima, da Fipe, os preços dos serviços estão sendo pressionados principalmente pelos custos maiores da mão de obra. O desemprego caiu para patamares historicamente muito baixos no Brasil. Como a economia está crescendo e as pessoas estão estudando mais e se tornando mais qualificadas, os custos da mão de obra acabaram subindo muito – um fenômeno que também já foi visto em outros países em períodos de desenvolvimento econômico e forte crescimento. “Quando a mão de obra fica cara, a indústria e a agricultura têm a opção de investir em máquinas e equipamentos que substituam funcionários. Já os serviços não podem abrir mão da mão de obra e são obrigados a repassar a alta dos salários para os preços”, diz Lima.
Outro serviço cujos custos dispararam nos últimos quatros anos foi o de parques de diversão. A alta do valor dos ingressos chegou a 59,95%, segundo a Fipe. Os parques utilizam muitos funcionários e também ocupam grandes terrenos na cidade. Como o aluguel dos imóveis também está pressionado, os preços dos ingressos tiveram de repor os aumentos dos custos.
Quem tem o hábito de comer fora de casa também está com os gastos pressionados. As refeições em restaurantes subiram 53,68% nos últimos quatro anos. Apenas a alta do preço dos alimentos, de 28,79%, não explica um avanço de tamanha magnitude – ainda que haja casos como o do açúcar, que subiu 104,68% no período. Mas se a comida subiu em média muito menos, o que explica a inflação das refeições fora de casa? De novo é a alta dos aluguéis e da mão de obra que justificam o avanço dos preços.
Os preços dos serviços de estética e beleza dispararam na cidade de São Paulo nos últimos quatro anos. O maior aumento foi o de cabeleireiro masculino: 54,62%. Mas as mulheres não têm muito que comemorar. O cabeleireiro feminino/manicure ficou 44,51% mais caro.
Os serviços médicos também se destacaram entre as maiores altas de preços. O avanço chegou a 52,05% nos últimos quatros anos, segundo a Fipe. Os preços refletem o encarecimento generalizado da mão de obra, que tem sido acelerado tanto para profissionais com baixo quanto alto nível de qualificação.
Um dos poucos setores da indústria que registrou valorização muito acima da média é o de bebidas alcóolicas e fumo. O preço da cerveja aumentou 48,74% nos últimos quatro anos enquanto os cigarros estão 48,66% mais caros. Nesse caso, no entanto, o aumento está relacionado principalmente a políticas governamentais. O Ministério da Fazenda tem constantemente elevado os impostos sobre bebidas e cigarros – até por uma questão de saúde pública.
A pesquisa da Fipe inclui os preços dos ingressos para assistir jogos nas arquibancadas dos estádios paulistanos. Nos últimos quatro anos, as entradas tiveram um reajuste médio de 44,10%. É verdade que o nível do futebol brasileiro melhorou nos últimos anos, com a iniciativa dos clubes de aproveitar o câmbio favorável para repatriar grandes craques. Mas o torcedor está pagando mais para ver seus ídolos – e a alta foi muito acima da média da inflação.
Não é apenas a alta da cerveja e das partidas de futebol que tornou o lazer do paulistano mais caro. O churrasco é outra paixão nacional cujo custo disparou nos últimos quatro anos. Segundo a Fipe, as carnes bovinas tiveram um aumento médio de 42,15%. Alguns cortes, como a costela, subriam 51,40%.