Minhas Finanças

Brasileiro se diz cauteloso ao gastar, mas não planeja

Enquanto 8 em cada 10 brasileiros reconhecem a importância de fazer a reserva, mais da metade da população não começou a guardar dinheiro

Gastos: além da baixa capacidade de poupança, a falta de planejamento resulta na alta inadimplência (AndreyPopov/Thinkstock)

Gastos: além da baixa capacidade de poupança, a falta de planejamento resulta na alta inadimplência (AndreyPopov/Thinkstock)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 16 de outubro de 2017 às 13h56.

São Paulo - Cair na tentação e gastar com algo que não precisava ou até mais do que poderia é o principal motivo que leva a maioria das pessoas a não conseguir fazer poupança para usar em situações inesperadas ou para ter renda extra no futuro.

O curioso é que, de acordo com uma pesquisa realizada pela Anbima, associação que representa entidades do mercado de capitais no País, oito em cada dez brasileiros reconhecem a importância de fazer essa reserva, porém mais da metade da população não começou a guardar dinheiro.

O levantamento também mostra que a maioria dos brasileiros até se considera cuidadosa na hora de controlar os gastos, mas, na contramão, quase 60% das pessoas assumem que não gostam de se planejar e que preferem esperar as coisas acontecerem para só então tomarem alguma atitude.

As respostas obtidas pela pesquisa brasileira refletem a análise proposta pelo estudo que garantiu o Prêmio Nobel de Economia de 2017 ao norte-americano Richard Thaler.

Um dos pais da economia comportamental, em que a psicologia se une à ciência econômica, Thaler propõe os conceitos da "contabilidade mental", na qual explica de que forma as pessoas simplificam as decisões financeiras, tornando-as menos racionais do que se imaginava.

Os estudos de Thaler mostram como a falta de autocontrole, em que as tentações de curto prazo sabotam o planejamento de longo prazo, como uma reserva mensal de dinheiro para a aposentadoria acaba trocada pela parcela de financiamento de um carro, por exemplo.

"A teoria da economia comportamental trata o dinheiro de forma muito mais próxima da nossa realidade. Não dizendo como deveríamos agir, mas como, de fato, agimos", descreve a planejadora financeira e professora Paula Sauer, da Planejar.

A especialista esclarece que, ao contrário do que costuma ser difundido quando se fala de finanças pessoais, não existem modelos e regras fixas a serem seguidas. Cada pessoa tem experiências próprias e vive momentos distintos que influenciam nas decisões financeiras. "As escolhas que fazemos são sempre sob pressão de tempo e emoções, o que deixa a racionalidade distante."

Por isso, é ideal se conhecer, saber o que o deixa mais suscetível a consumir por impulso ou a postergar o hábito de poupar.

O grande desafio, na visão do presidente do Comitê de Investidores da Anbima, Aquiles Mosca, é que a maioria das pessoas vê o planejamento financeiro como uma privação de consumo. "Elas não querem deixar de ter os pequenos prazeres da vida."

O presidente da entidade acredita, ainda, que essa característica é mais evidente entre os brasileiros, que gastam muito, independentemente do perfil de renda. "Toda renda extra tem como direcionamento primordial o consumo imediato", aponta.

Para Mosca, tal comportamento ajudaria a explicar porque 97% dos aposentados não têm liberdade financeira e precisam reduzir o padrão de vida.

Tabu

Além da baixa capacidade de poupança, a falta de planejamento resulta na alta inadimplência. Os dados de setembro da SPC Brasil apontam que há 59 milhões de brasileiros com contas no vermelho.

Na opinião de Paula, grande parte da dificuldade de lidar com as finanças está em como tratar o tema. "O dinheiro deve ser assunto frequente nas conversas familiares. Não pode ser espinhoso nem exclusivo dos momentos de crise."As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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