A estratégia de 4 milionários da bolsa
No último ano e meio, a bolsa foi uma opção desastrosa para milhares investidores. Mas acredite: muita gente já ficou rica no mercado acionário brasileiro
Da Redação
Publicado em 29 de novembro de 2011 às 19h26.
São Paulo – Os novatos da bolsa ou aqueles que perderam dinheiro no último ano e meio mal conseguem se lembrar de que muita gente já fez fortuna no mercado acionário brasileiro. A bolsa veio de um desempenho pífio em 2010 para um flerte com o desastre neste ano – tragédia essa que ainda não pode ser descartada, principalmente se os países europeus não encontrarem logo uma solução para as pesadas dívidas. De acordo com a própria BM&FBovespa, a performance ruim das ações tem afastado os investidores do mercado, com a queda no número de pessoas físicas cadastradas nos últimos meses.
Quem já investe há muitos anos, entretanto, sabe que é possível ganhar muito dinheiro na bolsa, principalmente em momentos ruins do mercado e desde que haja uma estratégia de investimento coerente por trás das escolhas. A seguir, EXAME.com apresenta quatro histórias inspiradoras de pessoas que ficaram milionárias com ações. Todos têm hoje mais de 60 anos, investem desde a década de 1970, sobreviveram a dezenas de crises e ascenderam socialmente por meio da bolsa. As histórias foram relatadas por Geraldo Soares, superintendente de relações com investidores do Itaú e coautor do livro “Casos de Sucesso no Mercado de Ações”, que será tema de palestra na Expo Money São Paulo nesta semana.
1– O garimpeiro
Médico e militar, o disciplinado Samuel Emery, de Recife, é um investidor fundamentalista clássico. Especializado em ações de segunda linha, ele é uma espécie de garimpeiro do mercado e nunca toma decisões precipitadas, com bases em rumores. Antes de comprar qualquer ação, estuda uma empresa a fundo e adquire um enorme nível de conhecimento que lhe dá vantagens sobre outros investidores. Quando encontra uma empresa que passa em seu filtro, o passo seguinte é aguardar um bom ponto de compra do papel, aproveitando-se dos momentos de cotações deprimidas. Emery monta sua carteira e espera que o mercado descubra o valor do papel – ainda que isso demore vários anos.
O método é o mais parecido com o de investidores profissionais. Não por acaso, Emery também é sócio de uma gestora de recursos, a Finacap, uma das maiores do Nordeste. Os fundos da Finacap acumulam uma rentabilidade anual de 21% nas últimas duas décadas. Entre seus gols de placa, está a compra das ações da Ferbasa há cerca de dez anos e da Magnesita há mais de cinco anos. Comprar papéis antes que eles virem a bola da vez pode ser uma estratégia bastante lucrativa. Com a Ferbasa, Emery só realizou o lucro após ver a cotação do papel sextuplicar em suas mãos. “Para quem acha que comprar ações de segunda linha envolve riscos demais, o Emery costuma dizer que investir em bolsa é menos arriscado do que abrir uma padaria”, diz o autor Geraldo Soares.
2– O abutre
O mineiro José Otávio é o mais cético e desconfiado do grupo de investidores. Ele só compra ações quando as notícias nos jornais são tenebrosas e todo mundo está vendendo. Parece seguir fielmente a velha máxima de que, quando há sangue nas ruas, é hora de comprar tudo que for possível. Nos momentos de bonança, Otávio prefere manter o dinheiro aplicado em renda fixa, imóveis ou outros investimentos de baixo risco. Formado em engenharia e ex-professor universitário, ele desenvolveu modelos matemáticos e estatísticos próprios para investir. Em 2008, os modelos indicaram que era hora de comprar apenas quatro ações no mercado à vista. Poucas semanas depois, conseguiu vender papéis como da Aracruz com 150% de lucro. Isso revela outra de suas características. Otávio não compra papéis e espera vários anos até que eles se valorizem. Se a alta esperada ocorrer em um mês, a ação pode ser rapidamente vendida. “O Otávio é um gerenciador de risco”, diz Geraldo Soares.
O investidor também gosta de operações um pouco mais sofisticadas no mercado de opções. Em momentos de grande estresse com o setor bancário americano, por exemplo, ele gosta de montar uma estratégia em que é possível lucrar tanto com uma forte alta quanto com uma derrapada das ações das instituições financeiras – as perdas só acontecem se a volatilidade for baixa.
3– O arrojado
O gaúcho Ari Hilgert é o mais arrojado do grupo de investidores e se expõe a riscos que poucos teriam coragem de assumir. Ele já foi capaz, por exemplo, de investir todo o dinheiro da família em uma única ação – no caso, da Eletrobrás. Como o papel subiu muito na década de 1980, o alto risco assumido foi compensado por uma valorização extraordinária do investimento. Hilgert também pode investir milhões de reais em uma ação de uma empresa em recuperação judicial sem ter estudado o caso a fundo. É lógico que tanta agressividade pode levar a prejuízos proporcionais, mas os ganhos são mais do que suficientes para compensar as apostas furadas. Ele é, na verdade, o investidor mais rico entre os quatro apresentados nessa reportagem, apesar de ter tido a origem mais humilde.
O pai de Ari era um pequeno agricultor em Santa Catarina. Aos 18 anos, ele foi morar com as irmãs em Porto Alegre e trabalhou como faxineiro em hospital e vendedor de produtos eletrônicos. Chegou a invadir um prédio abandonado e morar lá com amigos para economizar dinheiro. Para compensar a falta de estudos na infância, fez supletivo e despois estudou em uma faculdade de administração de segunda linha. Por meio da indicação de um amigo, conseguiu uma vaga na corretora do Banrisul, onde aprendeu a fazer negócios no mercado de capitais. Quatro anos depois, deixou a corretora para viver do resultado de seus investimentos em bolsa e nunca mais teve um emprego fixo.
4– O bem-relacionado
O paulistano Renato Rossetti é o mais bem-relacionado dessa lista de investidores. Ele se vale da coleta de informações junto a diversas rodas sociais para a construção da carteira de investimentos. Rossetti possui grupos de amigos apreciadores de vinho, whisky, música clássica e bolsa. Simpático e bem educado, ele consegue extrair informações dessa rede de amigos naturalmente.
Oriundo de uma família de classe média, ele não faz questão de economizar o dinheiro que ganha. Na verdade, Rossetti já chegou a quebrar duas vezes. Uma corretora de sua propriedade faliu. Mesmo nos momentos mais difíceis, entretanto, nunca se importou em gastar dinheiro com a compra de obras de arte ou cavalos. Haja sangue frio.
São Paulo – Os novatos da bolsa ou aqueles que perderam dinheiro no último ano e meio mal conseguem se lembrar de que muita gente já fez fortuna no mercado acionário brasileiro. A bolsa veio de um desempenho pífio em 2010 para um flerte com o desastre neste ano – tragédia essa que ainda não pode ser descartada, principalmente se os países europeus não encontrarem logo uma solução para as pesadas dívidas. De acordo com a própria BM&FBovespa, a performance ruim das ações tem afastado os investidores do mercado, com a queda no número de pessoas físicas cadastradas nos últimos meses.
Quem já investe há muitos anos, entretanto, sabe que é possível ganhar muito dinheiro na bolsa, principalmente em momentos ruins do mercado e desde que haja uma estratégia de investimento coerente por trás das escolhas. A seguir, EXAME.com apresenta quatro histórias inspiradoras de pessoas que ficaram milionárias com ações. Todos têm hoje mais de 60 anos, investem desde a década de 1970, sobreviveram a dezenas de crises e ascenderam socialmente por meio da bolsa. As histórias foram relatadas por Geraldo Soares, superintendente de relações com investidores do Itaú e coautor do livro “Casos de Sucesso no Mercado de Ações”, que será tema de palestra na Expo Money São Paulo nesta semana.
1– O garimpeiro
Médico e militar, o disciplinado Samuel Emery, de Recife, é um investidor fundamentalista clássico. Especializado em ações de segunda linha, ele é uma espécie de garimpeiro do mercado e nunca toma decisões precipitadas, com bases em rumores. Antes de comprar qualquer ação, estuda uma empresa a fundo e adquire um enorme nível de conhecimento que lhe dá vantagens sobre outros investidores. Quando encontra uma empresa que passa em seu filtro, o passo seguinte é aguardar um bom ponto de compra do papel, aproveitando-se dos momentos de cotações deprimidas. Emery monta sua carteira e espera que o mercado descubra o valor do papel – ainda que isso demore vários anos.
O método é o mais parecido com o de investidores profissionais. Não por acaso, Emery também é sócio de uma gestora de recursos, a Finacap, uma das maiores do Nordeste. Os fundos da Finacap acumulam uma rentabilidade anual de 21% nas últimas duas décadas. Entre seus gols de placa, está a compra das ações da Ferbasa há cerca de dez anos e da Magnesita há mais de cinco anos. Comprar papéis antes que eles virem a bola da vez pode ser uma estratégia bastante lucrativa. Com a Ferbasa, Emery só realizou o lucro após ver a cotação do papel sextuplicar em suas mãos. “Para quem acha que comprar ações de segunda linha envolve riscos demais, o Emery costuma dizer que investir em bolsa é menos arriscado do que abrir uma padaria”, diz o autor Geraldo Soares.
2– O abutre
O mineiro José Otávio é o mais cético e desconfiado do grupo de investidores. Ele só compra ações quando as notícias nos jornais são tenebrosas e todo mundo está vendendo. Parece seguir fielmente a velha máxima de que, quando há sangue nas ruas, é hora de comprar tudo que for possível. Nos momentos de bonança, Otávio prefere manter o dinheiro aplicado em renda fixa, imóveis ou outros investimentos de baixo risco. Formado em engenharia e ex-professor universitário, ele desenvolveu modelos matemáticos e estatísticos próprios para investir. Em 2008, os modelos indicaram que era hora de comprar apenas quatro ações no mercado à vista. Poucas semanas depois, conseguiu vender papéis como da Aracruz com 150% de lucro. Isso revela outra de suas características. Otávio não compra papéis e espera vários anos até que eles se valorizem. Se a alta esperada ocorrer em um mês, a ação pode ser rapidamente vendida. “O Otávio é um gerenciador de risco”, diz Geraldo Soares.
O investidor também gosta de operações um pouco mais sofisticadas no mercado de opções. Em momentos de grande estresse com o setor bancário americano, por exemplo, ele gosta de montar uma estratégia em que é possível lucrar tanto com uma forte alta quanto com uma derrapada das ações das instituições financeiras – as perdas só acontecem se a volatilidade for baixa.
3– O arrojado
O gaúcho Ari Hilgert é o mais arrojado do grupo de investidores e se expõe a riscos que poucos teriam coragem de assumir. Ele já foi capaz, por exemplo, de investir todo o dinheiro da família em uma única ação – no caso, da Eletrobrás. Como o papel subiu muito na década de 1980, o alto risco assumido foi compensado por uma valorização extraordinária do investimento. Hilgert também pode investir milhões de reais em uma ação de uma empresa em recuperação judicial sem ter estudado o caso a fundo. É lógico que tanta agressividade pode levar a prejuízos proporcionais, mas os ganhos são mais do que suficientes para compensar as apostas furadas. Ele é, na verdade, o investidor mais rico entre os quatro apresentados nessa reportagem, apesar de ter tido a origem mais humilde.
O pai de Ari era um pequeno agricultor em Santa Catarina. Aos 18 anos, ele foi morar com as irmãs em Porto Alegre e trabalhou como faxineiro em hospital e vendedor de produtos eletrônicos. Chegou a invadir um prédio abandonado e morar lá com amigos para economizar dinheiro. Para compensar a falta de estudos na infância, fez supletivo e despois estudou em uma faculdade de administração de segunda linha. Por meio da indicação de um amigo, conseguiu uma vaga na corretora do Banrisul, onde aprendeu a fazer negócios no mercado de capitais. Quatro anos depois, deixou a corretora para viver do resultado de seus investimentos em bolsa e nunca mais teve um emprego fixo.
4– O bem-relacionado
O paulistano Renato Rossetti é o mais bem-relacionado dessa lista de investidores. Ele se vale da coleta de informações junto a diversas rodas sociais para a construção da carteira de investimentos. Rossetti possui grupos de amigos apreciadores de vinho, whisky, música clássica e bolsa. Simpático e bem educado, ele consegue extrair informações dessa rede de amigos naturalmente.
Oriundo de uma família de classe média, ele não faz questão de economizar o dinheiro que ganha. Na verdade, Rossetti já chegou a quebrar duas vezes. Uma corretora de sua propriedade faliu. Mesmo nos momentos mais difíceis, entretanto, nunca se importou em gastar dinheiro com a compra de obras de arte ou cavalos. Haja sangue frio.