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Miles e IP: o que as gestoras de ações nos dizem sobre o valor dos fundos

IP Capital Partners e Miles Capital são duas gestoras com foco no mercado de ações

A beleza da diversificação não é ter uma infinidade de nomes e instrumentos no portfólio, mas sim combinar um número finito e restrito de produtos (Hiroshi Watanabe/Getty Images)

Juliana Machado*

Publicado em 25 de novembro de 2021 às 13h33.

IP Capital Partners e Miles Capital. Duas gestoras com foco no mercado de ações. Só que uma surgiu nos anos 80, praticamente colocando as primeiras pedras no pavimento em que hoje caminhamos no mercado financeiro. Já a outra surgiu em 2017, quando o Brasil já havia passado por dois impeachments, a partir do encontro de experientes sócios. Uma tem, no seu fundo mais antigo, uma visão fundamentalista de investir nas melhores empresas do mundo, no Brasil e no exterior. A outra nasce baseada em pilares estruturais e pilares dinâmicos, para adaptar a exposição a convicções e ciclos.

Duas gestoras, um DNA de ações... e duas estratégias tão particulares. As duas casas participaram dos dois episódios mais recentes do “Fundos em Foco”, o podcast idealizado por mim para ouvir os gestores do mercado financeiro, e endossaram a mensagem que eu quero passar: não é porque os fundos operam os mesmos ativos que eles serão necessariamente iguais. A diversificação, inclusive, é tanto mais refinada quanto mais se sabe escolher, dentro da mesma classe de ativos, produtos que têm complementariedade entre si.

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No podcast da Miles, o sócio e gestor Fabiano Custódio nos trouxe um panorama bastante negativo. Na visão dele, o mercado vai sair estraçalhado do atual ambiente, que combina a explosiva relação entre alta de juros, alta da inflação, fragilidade fiscal, ruído político, atividade minguada e avanço de juros em mercados desenvolvidos. “Se eu achasse que estamos diante de uma volatilidade que vai passar, não valeria reduzir tanto a carteira. Eu não acho isso, quero deixar claro que eu não acho que vai melhorar”, disse ele.

E continuou: “Se a minha leitura estiver correta, a gente vai chegar num mercado destruído no meio ou final do ano que vem e aí sim, talvez, teríamos oportunidade de fazer boas compras. Vai ter que ter um pouco de paciência em janelas mais longas, investir em bolsa é isso. O prêmio será para quem chegar vivo.”

Já o episódio da IP, com participação do sócio e gestor João Henrique Lisboa, foi numa direção um pouco diferente: não é que a casa não esteja preocupada com os desdobramentos na frente política ou macro, mas isso não é o mais relevante (ou não deveria ser) na escolha dos melhores e mais promissores negócios.

“É sempre difícil ter convicção sobre cenário macro e é por isso que tentamos aqui dar menos peso para o cenário macro”, começou. “A nossa análise é sempre de baixo para cima, a gente parte da análise das empresas individualmente e usamos o cenário macro. É claro que ele tem influência, mas varia de empresa para empresa. Hoje, vemos retornos nos bons negócios no Brasil mais razoáveis do que antes, mesmo considerando o cenário macro.”

As duas casas têm o seu modo de ver e encarar o mercado e as duas têm o seu valor se consideradas em uma carteira, combinadas com estratégias em outros mercados. O Miles Acer, fundo long biased da Miles, cai 15,3% neste ano até o dia 23, mas sobe 38,4% desde março de 2018, contra 23,5% do Ibovespa e 18,3% do CDI no mesmo período; o produto long only da casa, o Miles Virtus, acumula ganho de 63,7% desde março de 2018, enquanto o IP Participações IPG FIA BDR Nível I, ganha 80,9%, também na mesma base de comparação. Os dados são todos da Quantum Axis.

A beleza da diversificação não é ter uma infinidade de nomes e instrumentos no portfólio, mas sim combinar um número finito e restrito de produtos em várias classes de ativos descorrelacionadas – inclusive entre si. Para quem quer chegar vivo lá na frente, com patrimônio multiplicado, essa é uma regra soberana.

Recomendo fortemente que você aproveite a deixa para ouvir os episódios do “Fundos em Foco”, em Apple, Google e Spotify. Neste último, a conversa com a IP Capital Partners pode ser ouvida aqui e o episódio com a Miles Capital, aqui.

*Juliana Machado é analista CNPI e integra o time de análise de fundos de investimento do BTG Pactual digital. É jornalista formada pelo Mackenzie, com pós-graduação em economia brasileira pela Fipe-USP. Atuou com análise e seleção de fundos de investimento na EXAME e escreveu por quatro anos para o Valor Econômico, nas áreas de governança corporativa e bolsa de valores. Escreve para a EXAME Invest quinzenalmente.

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