São Paulo – Os mercados financeiros se movem baseados em análises sobre o presente, o que poderá vir a acontecer no futuro e também sobre as notícias. Os analistas erram, todos sabem, simplesmente porque – além de projeções que podem estar equivocadas - o mundo muda diariamente. As agências de notícias também podem ser influenciadas por relatórios divulgados erroneamente ou por declarações oficiais de governos e empresas que posteriormente se mostram equivocadas ou mentirosas. Os rumores viajam na velocidade da luz e têm o potencial de derrubar ou disparar um ativo financeiro. A publicação equivocada de uma análise da Standard and Poor’s na quinta-feira teve um resultado semelhante. A agência distribuiu um comunicado no qual rebaixava a nota de crédito da França. Os títulos da dívida do governo francês tiveram o pior dia desde a criação do euro em 1999. Relembre alguns casos parecidos que foram capazes de criar euforia e decepção em pouco tempo.
2. A notícia que fez uma ação cair 99,9%zoom_out_map
2/7
Uma notícia de que a United Airlines iria pedir falência agitou os mercados americanos na manhã de 8 de setembro de 2008. Assim que as bolsas iniciaram os negócios a reação foi incrível. Em apenas 6 minutos, as ações da companhia aérea derreteram 99,9% e os negócios foram paralisados pela bolsa de Nova York. A negativa da United Airlines veio logo em seguida. Depois da paralisação dos negócios, as ordens foram reorganizadas e os papéis foram negociados, na mínima do dia, com uma desvalorização de 27%. Ao final do dia, as agências de notícias discutiam sobre quem era o culpado sobre o erro. A United disse que uma antiga matéria do jornal Chicago Tribune de 2002 havia sido publicada em um website do The South Florida Sun-Sentinel. Uma empresa de análise teria inserido o link em uma página da Bloomberg, que então teria enviado um alerta baseado no artigo.
3. ANP e o 3º maior campo de petróleo do mundozoom_out_map
3/7(OSCAR CABRAL)
A segunda-feira, 14 de abril de 2008, foi um dia para não ser esquecido pelos investidores da Petrobras. Ainda em meio à euforia sobre as reservas de petróleo da Petrobras na camada do pré-sal, o então diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Haroldo Lima, deu declarações que animaram o mercado. Lima disse durante o 4º Seminário de Petróleo e Gás Natural promovido pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) que o bloco BM-S-9, conhecido como Carioca, poderia ser alçado ao posto de terceiro maior campo de petróleo do mundo com reservas de aproximadamente 33 bilhões de barris de óleo equivalente (boe). Com base na informação divulgada por um membro do governo, o mercado se animou. Os papéis ordinários da Petrobras chegaram a subir 10% e os preferenciais 7% ao longo do dia. No dia seguinte, o diretor recuou. Ele disse que as informações não eram novas e que apenas reproduziu informações publicadas na revista americana “Word Oil” dois meses antes. A CVM não gostou nada do anúncio realizado de forma não oficial e considerou a declaração como prejudicial ao mercado. A autarquia destacou que esse tipo de informação precisa ser feito exclusivamente pela empresa, principalmente se possuir "potencial de influenciar os preços das ações negociadas no mercado e a decisão dos investidores de comprar ou vender".
Em maio de 2007, a expectativa pelo lançamento do primeiro iPhone era enorme. Os investidores aguardavam apreensivos pelo anúncio do que viria a se tornar um dos telefones celulares mais revolucionários. A data já estava marcada: 28 de junho de 2007. Mas uma notícia publicada pelo site “engadget” baseada em um falso e-mail da empresa dirigido aos funcionários afirmava que o lançamento seria adiado para outubro. Era tudo mentira. A mensagem enviada pelo remetente “Bullet News” não era da Apple. A empresa logo enviou um novo e-mail desmentindo a informação aos funcionários. “Você deve ter recebido um que parecia ser uma “Bullet News” da Apple. Essa comunicação é falsa e não veio da Apple”, esclareceu. Na mínima daquele dia, as ações da Apple chegaram a cair 3,8%, para 103,42 dólares.
Mais uma vez os investidores da Apple sofreram um belo susto. Desta vez, foi a notícia equivocada sobre a morte de seu co-fundador, Steve Jobs, que espantou os investidores e aficionados pela marca. O texto publicado pela Bloomberg no dia 27 de agosto de 2008 às 4:27 da tarde em Nova York destacava as criações e a vida profissional de Jobs no formato de um clássico obituário. A matéria, marcada como “Em espera para publicação – Não use”, foi enviada para milhares de usuários corporativos da agência. “Steve Jobs, que ajudou a criar computadores pessoais tão fáceis de usar quanto os telefones, mudou a maneira com que os filmes de animação são feitos, persuadiu consumidores a usar a música digital e redesenhou o telefone celular, XXX”, dizia um trecho do texto. A Bloomberg se retratou e disse que uma matéria foi “inadvertidamente” publicada. “O item nunca foi concebido para publicação e foi recolhido”, informou a agência. O obituário foi flagrado pelo blog Gawker. A gafe histórica trouxe alguns minutos de pânico aos investidores, que já andavam preocupados com a saúde de Jobs – que faleceu no dia 5 de outubro de 2011.
Os mercados financeiros ficaram espantados ontem com a notícia de que a França, um país com a capacidade de pagamento das suas dívidas avaliado em AAA, poderia perder o grau máximo de confiança da sua nota de classificação de risco. Mas tudo não passou de um erro. A agência Standard and Poor’s distribuiu equivocadamente um comunicado no qual teria rebaixado o triplo A do país. O anúncio levou a uma nova onda de pessimismo à já combalida zona do euro com os problemas na Itália, Portugal e Grécia. Os títulos da dívida do governo francês tiveram o pior dia desde a criação do euro em 1999 O ministro das finanças do país, Francois Baroin, avaliou o ocorrido como “muito chocante” e pediu aos reguladores uma investigação sobre as causas e consequências dele. “Nós temos uma estratégia, um comprometimento em termos de redução do déficit”, disse ele durante uma conferência econômica em Lyon.
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) também deu um escorregão na quinta-feira. O órgão deixou vazar os números do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor – Amplo) um dia antes do habitual. Uma "falha no sistema de publicação de informações" na tarde de ontem teria permitido a divulgação antecipada. A informação não teria aparecido no site, mas pode ser acessada por outras tecnologias, como celulares. Em um ano no qual o controle dos preços tem centrado o debate sobre a economia brasileira, saber do principal índice de inflação do país com antecedência é uma bela ajuda. O IPCA de outubro subiu 0,43%, contra alta de 0,53% em setembro.