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Um ano após IPO, Nubank perdeu US$ 22,4 bi em valor de mercado. O que esperar do roxinho?

Maior fintech da América Latina já derreteu mais de 50% na bolsa desde a estreia, mesmo entregando resultados acima da expectativa

Bandeira com o logo do Nubank na frente do prédio da Bolsa de Nova York, no dia de estreia das ações da companhia (Nubank/Divulgação)
BQ

Beatriz Quesada

Publicado em 9 de dezembro de 2022 às 11h53.

Última atualização em 9 de dezembro de 2022 às 21h36.

Quando estreou na bolsa de valores , o Nubank (NU, NUBR33) pegou o final da grande onda de otimismo com o mercado de tecnologia, que vinha colocando altos prêmios nas chamadas ações de crescimento (growth) – aquelas que prometiam escalar o negócio e potencializar ganhos futuros.

A maior fintech da América Latina realizou sua oferta pública inicial de ações ( IPO ) na bolsa americana NYSE em 9 de dezembro de 2021, e chegou ao mercado avaliada em US$ 41,48 bilhões de reais, superando o valor de mercado do Itaú, maior banco do país.

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Alguns analistas, no entanto, estavam céticos, já que a marca construída a partir do cartão roxinho tinha uma forte projeção de crescimento sem apresentar lucro. De lá para cá, o humor do mercado virou. A inflação e os juros subiram globalmente, e apresentar caixa se tornou cada vez mais importante aos olhos dos investidores, que saíram em debandada das chamadas ações de crescimento.

O Nubank foi arrastado para baixo na tendência negativa. A plataforma de serviços financeiros digitais perdeu US$ 22,4 bilhões em valor de mercado no último ano, segundo levantamento do Trademap. O montante é superior a todo o valor de mercado do Banco do Brasil (US$ 19 bilhões), um dos gigantes do sistema financeiro nacional.

Na bolsa, as ações do Nubank listadas na bolsa americana NYSE ( NU ) derreteram 54,8% desde o IPO. Já o BDR listado no Brasil ( NUBR33 ) apresentou queda de 57,7%, ainda segundo o Trademap.

A queda continuou mesmo em um momento de resultados fortes para o Nubank. Em seu último balanço, a c ompanhia registrou seu primeiro lucro pós-IPO, de US$ 7,8 milhões. O resultado surpreendeu analistas, que esperavam mais um trimestre de prejuízo – o lucro subiu 126% no período de um ano. A receita líquida de US$ 1,3 bilhão no terceiro trimestre – um novo recorde – também surpreendeu.

As ações chegaram a reagir forte logo após a divulgação do balanço, quando subiram 12% — mas o movimento não foi o suficiente para reverter a tendência negativa para os papéis. Para José Albino, cofundador da gestora Catarina Capital, para entender o desempenho do Nubank na bolsa é preciso "separar o mundo real das ações”.

“A performance da empresa é estelar e a tese de investimento está se confirmando, com ganho de rentabilidade. Na nossa visão, a queda é resultado principalmente do momento de mercado”, diz.

Como exemplo, Albino cita pares que atuam com tecnologia e finanças, como Paypal e PagSeguro, que recuaram ainda mais no período e desabaram perto de 65% nos últimos 12 meses.

A grande discussão, no entanto, era se esses papéis já não estavam com valuations inflados antes da virada no cenário macroeconômico. O gestor diz que ainda é cedo para saber se as ações estão agora descontadas ou se caíram ao valor justo, mas acredita que os papéis do Nubank só devem acompanhar a guinada do negócio “no mundo real”, quando a inflação e a alta global de juros derem uma trégua.

Mesmo entre os analistas que seguem céticos com as ações, os movimentos recentes têm gerado resultados. O JPMorgan, que tinha recomendação underweight (equivalente à venda para as ações), revisou sua posição ontem e agora tem recomendação neutra para os papéis.

Entre os motivos para a virada da recomendação, o JP destaca as recentes quedas nas ações, a possibilidade de crescimento na receita e a resiliência do Nubank em um cenário desafiador para a inadimplência no Brasil, que tem penalisado o resultado dos grandes bancos.

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“Nesse cenário desafiador o Nubank está sofrendo. No entanto, vem apresentando desempenho em linha com o mercado, o que acreditamos ser impressionante dada a maior exposição da empresa a clientes de baixa renda”, afirmam os analistas, em relatório.

Embora estejam mais positivos com a ação, o JP ainda mantém o preço-alvo do Nubank em US$ 4,55 – pouco acima do preço de fechamento da véspera, em US$ 4,07, deixando um espaço restrito para valorização.

Como negócio, a tese de crescimento do Nubank tem se fortalecido. O preço justo das ações, por outro lado, segue em debate e deve continuar dividindo opiniões enquanto o cenário for desafiador para as empresas focadas em crescimento.

Após pedido de entrevista antecipado e a publicação desse balanço de um ano no mercado aberto, de bolsa, o Nubank encaminhou o seguinte posicionamento ao EXAME Invest, após as 21 horas:

“O Nu reportou um lucro líquido de US$7,8 milhões no terceiro trimestre, representando break even da holding com receita recorde de US$1,3 bilhão e crescimento de 171%, na comparação anual. Nossa base de clientes ultrapassou 70 milhões com uma taxa de atividade recorde de 82% e um índice de liderança de satisfação de clientes em nosso setor. Continuamos a lançar e a vender os melhores produtos do mercado, mantendo uma plataforma de tecnologia de baixo custo de financiamento e com uma margem de lucro cada vez maior. Embora tenhamos um aumento da inadimplência no trimestre, consistente com tendências de mercado, nossas margens ajustadas ao risco subiram 100 pontos base, o que mostra que estamos conseguindo precificar o risco corretamente. "O Nu está bem capitalizado e pronto para gerar crescimento em escala no longo prazo”, disse David Vélez, fundador e presidente, na nota."

Acompanhe tudo sobre:AçõesBancosbolsas-de-valoresempresas-de-tecnologiaIPOsNubankNYSE (New York Stock Exchange)

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