Mercados

Título junk abre vantagem sobre grau de investimento

Diferença é efeito dos juros próximos de zero nos EUA, que levam a uma corrida por rendimentos maiores pelo mundo

Custo de captação para papéis de classificação especulativa está no menor nível histórico (Ralph Orlowski/Getty Images)

Custo de captação para papéis de classificação especulativa está no menor nível histórico (Ralph Orlowski/Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 31 de março de 2011 às 10h08.

Nova York - Títulos de empresas brasileiras com classificação especulativa, chamados junk, estão superando o desempenho de papéis com grau de investimento pela maior margem em um ano. Essa diferença é efeito dos juros próximos de zero nos Estados Unidos, que levam a uma corrida mundial por rendimentos maiores.

Dívida corporativa com classificação inferior a Baa3 pela Moody’s Investors Service e BBB- pela Standard & Poor’s se valorizaram em 1 por cento nos primeiros três meses do ano. Os papéis com grau de investimento acumulam queda de 0,2 por cento no período, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Em todo o mundo, títulos junk registram um ganho de 1,8 por cento, segundo dados do Bank of America Merrill Lynch. A taxa média de títulos junk brasileiros caiu 31 pontos-base para 7,12 por cento, também de acordo com os dados da Bloomberg.

O custo de captação para empresas de classificação especulativa como a Braskem SA, maior petroquímica da América Latina, e a Fibria Celulose SA, líder mundial do segmento, está no nível mínimo histórico com a busca por maior rentabilidade. Nove companhias brasileiras classificadas como junk emitiram títulos no mercado internacional no primeiro trimestre, contra cinco no quarto trimestre de 2010, segundo dados da Bloomberg.

“Investidores estão se perguntando onde podem encontrar rentabilidade, e estão procurando menor qualidade e desenvolvendo um apetite por esse tipo de risco”, disse Eric Ollom, analista da Jefferies em Nova York, em entrevista por telefone. “Os rendimentos estão baixos e os spreads estão apertados, e realmente não há espaço para os papéis com grau de investimento terem bom desempenho, a menos que o Brasil se torne um crédito A.”

Captações saltam

O prêmio exigido por investidores para deter dívida corporativa brasileira em vez de títulos do Tesouro americano caiu para 236 pontos-base, ou 2,36 pontos percentuais, em 8 de março, o menor spread desde abril.


As emissões de dívida de empresas brasileiras no exterior deram um salto de 60 por cento no primeiro trimestre, para US$ 14,5 bilhões. O crescimento econômico mais acelerado em duas décadas registrado no ano passado impulsionou a captação. Economistas sondados na última pesquisa do Banco Central com o mercado projetam crescimento em 2011 de 4 por cento, contra 7,5 por cento em 2010. Nos EUA, a economia cresceu 3,1 por cento no quarto trimestre, num ritmo anualizado, segundo dados do Departamento de Comércio.

O Brasil tem nota de crédito Baa3 pela Moody’s e BBB- pela S&P, os menores graus de investimento.

Mais ofertas

Mais empresas de grau especulativo provavelmente farão captações externas para aproveitar a demanda, disse Jeremy Brewin, que ajuda a administrar US$ 3,1 bilhões em ativos de renda fixa de mercados emergentes na Aviva Investors, em entrevista por telefone de Londres.

“Isso pode ser uma oportunidade imperdível para empresas brasileiras mais fracas”, disse Brewin. “Estamos a poucas semanas de novas emissões.”

A Braskem, que tem classificação Ba1 pela Moody’s e BBB- pela S&P, planeja fazer ainda no primeiro semestre sua primeira captação desde setembro, disse a diretora financeira Marcela Drehmer a repórteres em 22 de março.

Melhor nota

A empresa, que pode emitir títulos com prazo de 10 anos para refinanciar outras dívidas, pretende pagar menos do que os 7 por cento dos seus papéis com vencimento em 2020. A classificação da Braskem foi elevada ontem de BB+ para BBB- pela S&P, que citou a melhora no fluxo de caixa, a liquidez e a integração mais rápida do que se esperava com a Quattor Petroquímica SA. A Braskem, sediada em São Paulo, comprou 60 por cento da rival no ano passado.

O rendimento das notas em dólar da empresa com cupom de 8 por cento e vencimento em 2017 caiu 52 pontos-base no primeiro trimestre para 5,34 por cento ontem, o menor patamar desde a emissão em 2006. A Braskem não respondeu ao pedido de comentário.

A Fibria, com classificação Ba1 pela Moody’s e BB pela S&P, emitiu US$ 750 milhões em títulos com prazo de 10 anos em fevereiro, de acordo com dados da Bloomberg. Os papéis da empresa sediada em São Paulo com vencimento em 2021 recuaram 66 pontos-base desde a emissão.

Os recursos dessa emissão vão contribuir para o alongar os vencimentos e melhorar o perfil da dívida, disse a Fibira em nota enviada por e-mail.

Acompanhe tudo sobre:Agências de ratingDívidas empresariaisEmpresasMercado financeiroRating

Mais de Mercados

Dólar fecha em queda de 0,84% a R$ 6,0721 com atuação do BC e pacote fiscal

Entenda como funcionam os leilões do Banco Central no mercado de câmbio

Novo Nordisk cai 20% após resultado decepcionante em teste de medicamento contra obesidade

Após vender US$ 3 bilhões, segundo leilão do Banco Central é cancelado