Nova York e São Paulo - O custo de captação da Net Serviços de Comunicacao SA caiu para o menor nível já registrado, com especulações de que o bilionário mexicano Carlos Slim vai assumir a maior operadora de TV a cabo do País, após o Senado aprovar o fim da proibição ao controle estrangeiro no setor.

O rendimento nos títulos em dólar da Net com resgate em 2015 despencou 75 pontos-base ontem para 3,25 por cento, o menor patamar desde que os papéis foram emitidos em outubro de 2009, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Os bônus da Net pagam 151 pontos-base a mais do que títulos de prazo similar da América Móvil SAB, empresa controlada por Slim e sediada na Cidade do México. Em 16 de agosto, a diferença chegava a 226 pontos-base.

A América Móvil disse em 13 de maio que a aprovação da lei permitindo que operadoras de TV a cabo sejam controladas por estrangeiros lhe daria o direito de aumentar sua fatia no capital votante na Net de 49 por cento para 51 por cento, por meio da subsidiária Embratel Participações SA. A diferença de rendimento entre os bônus da Net e da América Móvil -- que tem nota de crédito cinco níveis mais elevada na escala da Moody’s Investors Service -- vai cair para até 40 pontos-base, disse Vinícius Pasquarelli, operador de dívida de mercados emergentes da Tradition Asiel Securities.

“O importante é que a diferença entre a taxa da Net e dos papéis do Tesouro americano precisa estar pelo menos próxima da diferença para os papéis da América Móvil”, disse Pasquarelli em entrevista por telefone de Nova York. “É por isso que os títulos da Net estão se valorizando mais e mais.”

Os bônus da Net rendem 278 pontos-base a mais do que os títulos do Tesouro americano com vencimento em 2015, e os papéis da América Móvil pagam 127 pontos-base a mais, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A América Móvil, maior operadora de telefonia móvel do continente americano, tem classificação A2 pela Moody’s, o quinto menor grau de investimento. A Net tem classificação Ba1.

Sanção de Dilma

O Senado aprovou em 16 de agosto o Projeto de Lei Complementar 116, permitindo que operadoras de telefonia e empresas estrangeiras ofereçam serviço de televisão a cabo no Brasil, mais de um ano após a Câmara de Deputados ter aprovado a medida. A lei agora precisa ser sancionada pela Presidente Dilma Rousseff, que apoiou a iniciativa.

Por meio de sua fatia de 94 por cento na Embratel, a América Móvil tem direito de comprar mais 2 por cento das ações ordinárias da Net, assim que a legislação entrar em vigor. A Globo Comunicação e Participações SA é hoje dona de 51 por cento da Net.

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“A tendência é que a Embratel assuma o controle da Net”, disse Jacqueline Lison, analista da Fator Corretora em São Paulo. “Net e Embratel já oferecem serviços em conjunto hoje e a tendência é que integrem ainda mais a oferta.”

A assessoria de imprensa da América Móvil na Cidade do México não quis fazer comentários para esta reportagem. A assessoria de imprensa da Net em São Paulo também não quis comentar a nova lei ou o desempenho dos títulos da empresa.

A Net vai enfrentar maior concorrência com a entrada de operadoras como a Telesp Celular SA e a Telemar Norte Leste, conhecida pela marca Oi, no mercado de TV paga, mitigando o impulso dado pela mudança da lei, disse Marcos Schmidt, analista da Moody’s.

‘Nenhuma mudança’

A Oi, assim como a América Móvil e a Telecomunicações de São Paulo SA já oferecem TV por satélite.

“Não vejo nenhuma mudança de perfil de crédito da Net”, disse Schmidt em entrevista por telefone de São Paulo. “Teoricamente, ela deve ser agora completamente controlada pela Embratel, que pertence ao bilionário Carlos Slim. Mas por enquanto não deve ter mudanças no rating.”

Slim, 71 anos, foi considerado o homem mais rico do mundo pelo segundo ano consecutivo no ranking da revista Forbes de março.
A América Móvil ofereceu em 1º de agosto comprar a fatia de 40,4 por cento que não controla na Teléfonos de México SAB por US$ 6,5 bilhões, para ter controle total sobre sua antiga controladora.

“Os bolsos do Slim são bastante fundos”, disse Valder Nogueira, analista do Banco Santander SA, em entrevista por telefone de São Paulo. “ Mais cedo ou mais tarde, Slim vai partir para a redução significativa de empresas no Brasil. Então elas poderão usufruir de flexibilidade na oferta de produtos e flexibilidade fiscal com a integração das empresas.”