Autoridade monetária sinalizou uma alta de menor magnitude na reunião de junho (Pixabay/Reprodução)
Beatriz Quesada
Publicado em 4 de maio de 2022 às 21h01.
Como era amplamente esperado pelo mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, decidiu, nesta quarta-feira, 4, aumentar a taxa básica de juros do país, a Selic, em 1 ponto percentual (p.p.), para 12,75%, ao ano.
No comunicado, o Comitê justificou a elevação com o desafio em lidar com o aumento das as pressões inflacionárias, especialmente no exterior, com a chegada de uma nova onda de covid-19 na China e com os desdobramentos da guerra na Ucrânia.
O Copom reforçou ainda que o processo de alta de juros pretende também ancorar (guiar) as expectativas do mercado em torno das metas de inflação, trazendo maior confiança de que o BC é capaz de cumpri-las como esperado.
Uma das estratégias utilizadas para ancorar as expectativas é deixar claro os próximos passos. O Copom, no entanto, optou por deixar sua próxima decisão 'parcialmente' em aberto. A autoridade monetária sinalizou uma alta de menor magnitude na reunião de junho, o que levou grande parte do mercado a reajustar as expectativas para uma elevação de 0,5 p.p., levando a Selic para 13,25% ao ano.
O que a decisão significa e o que deve vir daqui para frente? A EXAME Invest ouviu 5 opiniões do mercado sobre a decisão do Copom:
Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, avaliou que a mudança de rota do Copom foi positiva em responder aos anseios do mercado. “Depois de Campos Neto, ensaiar um final das altas de juros já agora em maio, o Copom indicou ser mais provável que o ciclo se estenda a um ritmo mais lento”, disse, em nota.
“A decisão de prolongar o aperto veio em linha com o que se esperava e sanou os questionamentos que o mercado vinha fazendo”. A casa prevê a Selic a 13,25% ao final do ciclo, considerando uma alta residual em junho.
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Paloma Brum, analista da Toro Investimentos, acredita que uma nova alta em junho é suficiente para ancorar as expectativas do mercado.
“Na minha visão, o ajuste é positivo, em linha com a expectativa predominante no mercado, o que tende a manter as expectativas de inflação no Brasil bem ancoradas a longo prazo, servindo de base para a tomada de decisão dos agentes econômicos, especialmente no que tange aos investimentos”, afirmou, em nota.
É possível, no entanto, que o ciclo se estenda mais que o previsto. Esta é a opinião de Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. “Acredito que o BC deixou as portas abertas para subir os juros para além da próxima reunião, considerando o seguinte trecho: ‘o comitê enfatiza que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno das suas metas’”, afirmou Cruz em nota.
“É possível que ocorram novas altas de juros depois de junho considerando pressões inflacionárias interna e externa”, disse. Ainda assim, a casa trabalha com projeção de 13,25% ao ano para a Selic.
O BNP Paribas, por outro lado, ressalta que o BC está mais otimista com a inflação do que deveria. A casa projeta 10% de inflação para 2022 e 5% para ano que vem, enquanto o Banco Central aguarda uma inflação de 7,3% para este ano e de 3,4% para 2023.
“Olhando para a persistência da inflação, acreditamos que o BC vai ter que fazer mais do que o comunicado mostrou. Acreditamos que ainda está em jogo algo perto de 14% para a Selic em 2022", afirmou Laiz Carvalho, economista para Brasil do BNP Paribas.
Em decisão divulgada também nesta quarta-feira, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) elevou em 0,5 p.p. a taxa de juro americana. Foi o segundo passo da trajetória de alta de juros nos EUA, que deve se continuar mesmo após o fim do ciclo de aperto monetário no Brasil.
A grande questão é se as altas por lá podem influenciar a Selic ainda mais para cima. Para analistas da corretora Órama, isso não deve acontecer.
“Como o Banco Central brasileiro se antecipou, corretamente a nosso ver, no processo de aperto monetário ainda em 2021, não enxergamos uma relação mecânica, quase simbiótica, das resoluções de lá com as daqui”, afirmaram, em nota, Alexandre Espirito Santo, economista-chefe da Órama e Elisa Andrade, analista de macroeconomia da corretora.