Saída de Parente não foi surpresa, mas desagradou ao mercado
Com a renúncia ao cargo de presidente da maior estatal brasileira, o mercado questiona quem assumirá o posto de presidente da companhia
Karla Mamona
Publicado em 1 de junho de 2018 às 15h22.
Última atualização em 1 de junho de 2018 às 15h36.
São Paulo - A renúncia de Pedro Parente ao cargo de presidente da Petrobras na manhã desta sexta-feira não foi uma surpresa aos investidores. Desde do início da greve dos caminhoneiros, há onze dias atrás, o mercado especulava se Parente permaneceria à frente da maior estatal brasileira.
O questionamento feito pelos investidores era se Pedro Parente concordaria com a intervenção do governo na política da companhia. A resposta veio nesta manhã.
Em carta enviada ao presidente Michel Temer, Pedro Parente destacou a autonomia que lhe foi concedida durante sua gestão e que foi reduzida quando o governo anunciou uma série de medidas para reduzir o preço do diesel nas refinarias. Desde ontem, o diesel tem sido comercializado com um desconto de 46 centavos.
“Quando Vossa Excelência me estendeu o honroso convite para ser presidente da Petrobras, conversamos longamente sobre a minha visão de como poderia trabalhar para recuperar a empresa, que passava por graves dificuldades... Vossa Excelência concordou inteiramente com a minha visão e me concedeu a autonomia necessária para levar a cabo tão difícil missão”, escreveu Parente.
Com o anúncio de demissão, as ações da Petrobras afundaram na Bolsa. Os papéis preferenciais chegaram a cair 21% e os ordinários, 22%.
Para Roberto Indech, analista-chefe da Rico Investimentos, a saída de Parente do cargo repercutiu de maneira negativa no mercado porque os investidores aprovavam a gestão do executivo. “Ele foi o responsável por resgatar a credibilidade da companhia nos últimos anos.”
Em nota enviada, os analistas da Ativa Investimentos afirmaram que Parente conseguiu elevar a qualidade da governança da Petrobras e melhorar os resultados operacionais e financeiro.
Quem assumirá?
Com a saída de Parente, a dúvida que paira é quem assumirá o cargo de presidente da estatal. No comunicado enviado ao mercado, a Petrobras afirmou que a nomeação de um CEO interino será examinada pelo Conselho de Administração da Petrobras ao longo do dia de hoje.
Ainda sem definição de quem assumirá o posto de presidente da Petrobras, Roberto Indech destaca que o mercado irá analisar se a pessoa que assumirá o cargo terá mais um perfil técnico ou político. Se for alguém da área técnica deve ser ter aprovação dos investidores, já se for alguém mais político, o mercado passa a questionar até que ponto o executivo aceitará interferência do governo na estatal.
Entre os nomes que surgiram de quem deve ocupar o cargo de CEO da estatal estão Solange da Silva Guedes (diretora-executiva de Exploração e Produção) e Ivan de Souza Monteiro (diretor-executivo da Área Financeira e de Relacionamento com Investidores), segundo uma reportagem publicada pelo jornal O Globo.
Longo prazo
Apesar do cenário atual ser ruim para os investidores da Petrobras, a Ativa Investimento destaca que a longo prazo é visão positiva para a estatal na Bolsa e destaca que a Petrobras “acumula expertise inigualável no segmento de extração e produção de petróleo e apostamos não só na empresa como na melhora do clima econômico do Brasil para os próximos anos, com a eleição de um candidato reformista nas eleições de outubro.”
No mês passado, as ações preferenciais da Petrobras fecharam em queda de 17% na Bolsa. Somente em maio, a companhia perdeu cerca de 40 bilhões de reais em valor de mercado, segundo dados da Economatica, provedora de informações financeiras.
Baseado no fechamento do pregão de quarta-feira, a estatal era avaliada em aproximadamente 271,47 bilhões de reais.