Queda da Bovespa reflete ajuste global de preços, diz UBS
Segundo Francisco José Levy, queda da bolsa brasileira reflete mais um ajuste dos mercados internacionais do que fatores locais
Da Redação
Publicado em 8 de abril de 2013 às 12h02.
São Paulo - A queda da bolsa brasileira hoje, para os menores níveis desde julho do ano passado, reflete mais um ajuste dos mercados internacionais, em especial das bolsas americanas, do que fatores locais, avalia Francisco José Levy, responsável pela área de aconselhamento a clientes do serviço de gestão de fortunas (wealth management) do UBS Brasil.
Ele lembra que as bolsas americanas estavam em níveis recordes e subiram muito rapidamente nos últimos meses, e, ao menor sinal de problema, os investidores resolvem colocar o dinheiro ganho no bolso. “Temos a questão do risco de conflito na Coreia do Norte e o nível de emprego mais devagar nos Estados Unidos, e isso incentiva a realização de lucros”, diz.
Levy lembra que o Índice Standard & Poor’s 500, da Bolsa de Nova York, passou de 1.100 pontos em outubro de 2011 para 1.350 pontos em novembro de 2012 e de lá para cá já subiu para 1.570 pontos, novo recorde. “Foi uma alta muito forte de novembro para cá, de 20%, e isso incentiva a realização de lucro”, diz. “Quando o mercado está caro, qualquer notícia ruim derruba”, afirma.
Movimento de curto prazo
A queda no exterior deve ser um movimento de curto prazo, não é estrutural, acredita. “Os dados da economia americana estão vindo um pouco piores, hoje foi o emprego, algum tempo atrás de PMI (confiança dos empresários), mas nada muito interessante”, diz. Mesmo a questão da Coreia do Norte deve ter um final tranquilo.
“Não acreditamos que haverá uma guerra”, afirma Levy. Assim, o cenário global está mais tranquilo do que há um ano, com menos medo de um grande risco, mas, como os preços subiram muito, a queda das bolsas têm lógica.
Fatores particulares
Já no caso da bolsa brasileira, Levy lembra que há fatores particulares que ajudam a acentuar a queda dos mercados. Entre eles, os problemas de comunicação entre Banco Central e outras áreas do governo sobre o combate à inflação, que criam incerteza entre os agentes econômicos sobre qual vai ser a política do governo.
“E o mercado começa a desconfiar, por isso, quando houve o último rali das bolsas com o alívio na Europa, a bolsa brasileira foi uma frustração”, diz. Além da incerteza sobre o combate à inflação, vieram dados fracos de crescimento e os resultados fracos das empresas, o que piorou o ambiente para a bolsa.
Ao cenário geral, acrescentam-se episódios pontuais, como a incerteza com o desempenho da OGX e da Petrobras, papéis importantes para o Índice Bovespa. “Pela forma como é calculado o índice, OGX quase dobrou de peso, e é um papel que está com uma volatilidade absurda: sobe 10% num dia, cai 10% no outro, o que piora o mau humor do mercado”, diz.
Descolamento para o prejuízo
Para Levy, é natural que a bolsa brasileira caia hoje acompanhando as demais. O que não é natural é que ela só acompanhe os demais mercados na baixa. E isso tem de ser explicado pelos fatores internos, que reduzem o entusiasmo dos investidores pelo Brasil. Um sinal seria o aumento do risco Brasil, a taxa que os papéis brasileiros pagam acima dos juros americanos.
Essa taxa estava em 1 ponto percentual em dezembro e, hoje, subiu para 1,40 ponto. “Não é um número muito alto, mas mostra que as coisas não estão indo tão bem na visão do investidor externo”, explica.
Mais prêmio para investir no Brasil
Da mesma forma que os investidores externos estão querendo um prêmio maior para aplicar na renda fixa brasileira, querem também um ganho maior para comprar ações. “Há uma necessidade de maior prêmio de risco na bolsa pela indefinição com relação às políticas de longo prazo do governo e por questões pontuais envolvendo empresas e setores importantes, como Petrobras, Vale com piora para o cenário do minério de ferro, a queda das margens das construtoras, as mudanças de regras em alguns setores, como as elétricas e outros fatores”, avalia.
Ainda não é hora de ir às compras
Apesar da forte queda, Levy diz que ainda não acha que seja a hora de comprar ações. “Não achamos que o momento atual é de oportunidade para ampliar o investimento em bolsa, mas também não é hora para entrar em pânico e sair do mercado”, afirma. Para ele, os preços ainda não estão exageradamente baixos para justificar aumentar as aplicações em ações.
“O grande receio é de o investidor comprar e ser atropelado por algum fator negativo”, diz. Levy admite, porém, que os preços começam a justificar que o investidor fique atento para comprar caso a queda continue. “Estamos na zona de começar a olhar”, diz.
Outra sugestão é para o investidor aproveitar a fraqueza da bolsa brasileira para olhar os mercados internacionais. “Com os juros baixos e a perspectiva de piora no crescimento no Brasil, o custo de aplicar lá fora fica mais baixo e faz sentido uma diversificação”, diz.
Cautela também na renda fixa
Já na renda fixa, Levy vê muita incerteza pela frente complicando a vida dos investidores. “O mercado já colocou nas taxas futuras de juros um aumento da Selic de 1 a 1,5 ponto percentual”, afirma ele, acrescentando que o UBS trabalha com quatro altas de 0,25 ponto nas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) a partir de maio. Apesar disso, ele considera que apostar nesse nível de juros pode ter riscos.
“A queda dos juros no ano passado foi muito forte, quase 5 pontos percentuais em cerca de 12 meses, por isso achamos que é prematuro pensar que se o juro subir 1 ponto está tudo tranquilo”, afirma. Por isso, o UBS recomendou aos investidores reduzirem a parcela prefixada e de títulos atrelados à inflação e analisam o momento de aumentar essas posições.
“Apesar de o cenário parecer tranquilo para os juros, vemos um certo risco de assimetria, ou seja, um risco de perda maior se o cenário estiver errado”, diz. Portanto, o risco de os juros terem de subir mais seria maior do que o de eles subirem menos ou ficarem estáveis, caso o cenário mude.
São Paulo - A queda da bolsa brasileira hoje, para os menores níveis desde julho do ano passado, reflete mais um ajuste dos mercados internacionais, em especial das bolsas americanas, do que fatores locais, avalia Francisco José Levy, responsável pela área de aconselhamento a clientes do serviço de gestão de fortunas (wealth management) do UBS Brasil.
Ele lembra que as bolsas americanas estavam em níveis recordes e subiram muito rapidamente nos últimos meses, e, ao menor sinal de problema, os investidores resolvem colocar o dinheiro ganho no bolso. “Temos a questão do risco de conflito na Coreia do Norte e o nível de emprego mais devagar nos Estados Unidos, e isso incentiva a realização de lucros”, diz.
Levy lembra que o Índice Standard & Poor’s 500, da Bolsa de Nova York, passou de 1.100 pontos em outubro de 2011 para 1.350 pontos em novembro de 2012 e de lá para cá já subiu para 1.570 pontos, novo recorde. “Foi uma alta muito forte de novembro para cá, de 20%, e isso incentiva a realização de lucro”, diz. “Quando o mercado está caro, qualquer notícia ruim derruba”, afirma.
Movimento de curto prazo
A queda no exterior deve ser um movimento de curto prazo, não é estrutural, acredita. “Os dados da economia americana estão vindo um pouco piores, hoje foi o emprego, algum tempo atrás de PMI (confiança dos empresários), mas nada muito interessante”, diz. Mesmo a questão da Coreia do Norte deve ter um final tranquilo.
“Não acreditamos que haverá uma guerra”, afirma Levy. Assim, o cenário global está mais tranquilo do que há um ano, com menos medo de um grande risco, mas, como os preços subiram muito, a queda das bolsas têm lógica.
Fatores particulares
Já no caso da bolsa brasileira, Levy lembra que há fatores particulares que ajudam a acentuar a queda dos mercados. Entre eles, os problemas de comunicação entre Banco Central e outras áreas do governo sobre o combate à inflação, que criam incerteza entre os agentes econômicos sobre qual vai ser a política do governo.
“E o mercado começa a desconfiar, por isso, quando houve o último rali das bolsas com o alívio na Europa, a bolsa brasileira foi uma frustração”, diz. Além da incerteza sobre o combate à inflação, vieram dados fracos de crescimento e os resultados fracos das empresas, o que piorou o ambiente para a bolsa.
Ao cenário geral, acrescentam-se episódios pontuais, como a incerteza com o desempenho da OGX e da Petrobras, papéis importantes para o Índice Bovespa. “Pela forma como é calculado o índice, OGX quase dobrou de peso, e é um papel que está com uma volatilidade absurda: sobe 10% num dia, cai 10% no outro, o que piora o mau humor do mercado”, diz.
Descolamento para o prejuízo
Para Levy, é natural que a bolsa brasileira caia hoje acompanhando as demais. O que não é natural é que ela só acompanhe os demais mercados na baixa. E isso tem de ser explicado pelos fatores internos, que reduzem o entusiasmo dos investidores pelo Brasil. Um sinal seria o aumento do risco Brasil, a taxa que os papéis brasileiros pagam acima dos juros americanos.
Essa taxa estava em 1 ponto percentual em dezembro e, hoje, subiu para 1,40 ponto. “Não é um número muito alto, mas mostra que as coisas não estão indo tão bem na visão do investidor externo”, explica.
Mais prêmio para investir no Brasil
Da mesma forma que os investidores externos estão querendo um prêmio maior para aplicar na renda fixa brasileira, querem também um ganho maior para comprar ações. “Há uma necessidade de maior prêmio de risco na bolsa pela indefinição com relação às políticas de longo prazo do governo e por questões pontuais envolvendo empresas e setores importantes, como Petrobras, Vale com piora para o cenário do minério de ferro, a queda das margens das construtoras, as mudanças de regras em alguns setores, como as elétricas e outros fatores”, avalia.
Ainda não é hora de ir às compras
Apesar da forte queda, Levy diz que ainda não acha que seja a hora de comprar ações. “Não achamos que o momento atual é de oportunidade para ampliar o investimento em bolsa, mas também não é hora para entrar em pânico e sair do mercado”, afirma. Para ele, os preços ainda não estão exageradamente baixos para justificar aumentar as aplicações em ações.
“O grande receio é de o investidor comprar e ser atropelado por algum fator negativo”, diz. Levy admite, porém, que os preços começam a justificar que o investidor fique atento para comprar caso a queda continue. “Estamos na zona de começar a olhar”, diz.
Outra sugestão é para o investidor aproveitar a fraqueza da bolsa brasileira para olhar os mercados internacionais. “Com os juros baixos e a perspectiva de piora no crescimento no Brasil, o custo de aplicar lá fora fica mais baixo e faz sentido uma diversificação”, diz.
Cautela também na renda fixa
Já na renda fixa, Levy vê muita incerteza pela frente complicando a vida dos investidores. “O mercado já colocou nas taxas futuras de juros um aumento da Selic de 1 a 1,5 ponto percentual”, afirma ele, acrescentando que o UBS trabalha com quatro altas de 0,25 ponto nas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) a partir de maio. Apesar disso, ele considera que apostar nesse nível de juros pode ter riscos.
“A queda dos juros no ano passado foi muito forte, quase 5 pontos percentuais em cerca de 12 meses, por isso achamos que é prematuro pensar que se o juro subir 1 ponto está tudo tranquilo”, afirma. Por isso, o UBS recomendou aos investidores reduzirem a parcela prefixada e de títulos atrelados à inflação e analisam o momento de aumentar essas posições.
“Apesar de o cenário parecer tranquilo para os juros, vemos um certo risco de assimetria, ou seja, um risco de perda maior se o cenário estiver errado”, diz. Portanto, o risco de os juros terem de subir mais seria maior do que o de eles subirem menos ou ficarem estáveis, caso o cenário mude.