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Por que o mercado erra tanto as projeções do PIB do Brasil? Teses surgem entre economistas

Estimativas têm subestimado o potencial de crescimento do país; consenso de expansão para 2023 quase triplicou desde o início do ano

Economia Brasileira; PIB do Brasil; Moeda (Getty Images/Getty Images)

Economia Brasileira; PIB do Brasil; Moeda (Getty Images/Getty Images)

Guilherme Guilherme
Guilherme Guilherme

Repórter de Invest

Publicado em 31 de agosto de 2023 às 07h30.

O mercado tem errado com frequência as projeções de crescimento do Brasil e isso tem feito economistas se perguntarem por quê. A última vez que o consenso para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no início do ano foi acima do registrado foi em 2020, quando a pandemia chacoalhou a economia global. Desde então, as previsões de bancos, corretoras e fundos de investimento têm subestimado o potencial de expansão do país. Em 2022, o consenso de economistas previa 0,35% de expansão, menos de um quinto do que o país viria a crescer

Em 2023, ao que tudo indica, não será diferente. Economistas começaram o ano prevendo que o PIB do Brasil subiria 0,8%. Mas, diante de números correntes mais fortes que o esperado, o consenso do boletim Focus já está em 2,31%. O grande reajuste das expectativas veio após a divulgação do PIB do primeiro trimestre, que cresceu 1,9%. Frente ao mesmo período do ano passado, a alta foi de 4% ante o consenso de 2,7%. A surpresa veio da agropecuária, que saltou 21,6% puxada por safras recordes de grãos. 

"Há uma dificuldade entre os economistas em adivinhar o crescimento do agronegócio, já que a produtividade depende muito do clima. O mercado se guia pelos dados do Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Mas nem tudo é intuitivo. Há muitos setores do PIB agropecuário para os quais a estimativa é muito ruim e que há pouco fundamento nas predições", afirmou Luciano Sobral, economista-chefe da Neo Investimentos.

O forte crescimento do primeiro trimestre devido ao efeito de base de comparação, fez economistas preverem uma queda do PIB brasileiro no segundo trimestre, que será divulgado nesta sexta-feira, 1. Mas dados de alta frequência têm levado à revisão das expectativas para cima. O consenso da Refinitiv para o PIB do segundo trimestre, agora, é de alta de 0,3% em relação ao trimestre anterior. Um dos fatores que contribuíram para o maior otimismo foram os números de junho do Índice de Atividade Econômica do Banco Central, o IBC-Br, que saíram acima das projeções.

"O IBC-BR mostrou um crescimento maior que o esperado, que deve se traduzir em um PIB mais forte no segundo trimestre", disse o economista André Perfeito. 

Teses por trás do maior crescimento

Algumas teses têm sido criadas para responder por que o mercado tem frequentemente subestimado o potencial de crescimento da economia brasileira. Entre as que mais circulam nas mesas de negociação é de que o país já estaria colhendo os frutos de reformas aprovadas nos últimos anos. Por serem ainda relativamente novas, os modelos desenhados pelos economistas não estariam capturando os efeitos provocados na economia.

A tese é defendida por grandes gestoras, como a Dahlia Capital e a Jive Investments. Em entrevista recente à EXAME Invest, o economista e presidente do Conselho de Administração da Jive, Luiz Fernando Figueiredo, explicou que é muito difícil capturar os efeitos dessas reformas microeconômicas nos modelos econométricos. "O Brasil fez muitas nos últimos anos e elas têm impactos relevantes em trazer mais crescimento sustentável", disse Figueiredo.

Entre essas reformas estaria o novo marco do saneamento, a lei das estatais, a autonomia do BC, e as reformas trabalhista e da previdência. "Na prática, estamos crescendo bem mais. Se aprovar a reforma tributária, embora tenha efeitos só a partir de 2026, parte será antecipado pelo ganho de confiança."

Já a Dahlia Capital, em sua última carta, classificou o Brasil como uma "Ilha do Tesouro", dada a capacidade de crescimento. Pelas contas da casa o país cresceu 5 pontos percentuais acima do projetado pelo mercado nos últimos três anos. "Dependendo das políticas do atual governo, a surpresa de crescimento não parará por aí", disse a carta.

Outra explicação, que cabe especificamente para a surpresa deste ano, são as concepções políticas dos economistas do mercado. "A vitória de um governo de esquerda na última eleição elevou o pessimismo entre os economista. O mercado é mais de direita. Talvez isso tenha gerado uma má vontade, mas não é algo sistemático", afirmou Sobral.

Efeito oposto, vale ressaltar, ocorreu em 2018, quando um candidato de direita venceu a eleição presidencial pela primeira vez neste século. No fim daquele ano, o consenso de mercado para o crescimento do PIB de 2019 era de 2,55%, mais que o dobro do crescimento registrado naquele ano, que ficou em 1,2%.

Crescimento daqui para frente

Apesar das recentes surpresas positivas, o mercado espera por alguma desaceleração a partir do segundo semestre ainda mais se o crescimento do segundo trimestre voltar a superar as estimativas em divulgação desta sexta. "Vários fatores apontam para um crescimento mais forte, como a queda das taxas de desemprego e de juros. Mas, devido a uma base de comparação mais alta, vai ficar mais difícil crescer em um ritmo elevado", avaliou Perfeito.

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